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A crise do modelo dos gringos


 Desde a crise dos subprime e do Lehman Brothers, que resultou em até mesmo, uma espécie de sub-estatização de grandes gigantes americanas, observamos que um discurso ideológico não se sustenta por mera retórica. Ou seja, apenas se justificando pela ideologia pragmática ou do pragmatismo ideológico:

 Mesmo a adoção de modelos que antes eram tidos como infalíveis - o qual não admitia "perdedores" entre "vencedores" na chamada Globalização e que eram capazes até mesmo de repreender governantes em público, aos quais demonstrassem certa incompetência -, e mesmo, com o passar dos anos, fosse demonstrando falha à olhos vistos, e as trivialidades se acentuassem entre aqueles que antes eram os "vencedores", caracterizando assim sua significativa desvantagem como modelo infalível, o qual por sua vez, ainda é capaz de suscitar defesa à ideias ortodoxas nesse sentido.

 O economista Luiz Carlos Bresser-Pereira, numa entrevista ao 'Brasilianas.org', enfatiza a paixão que certos intelectuais do meio acadêmico do pensamento econômico se tornam defensores de teses apaixonadas por modelos abstratos, independentes da realidade concreta. 

 Bresser-Pereira avalia que esses acadêmicos insistem na defesa de teorias neoclássicas visando sustentar a ideologia neoliberal. Desde que deixou o PSDB, o ex-ministro de FHC, tem se debruçado exclusivamente à atividade intelectual, se dedicando também à nova tendência entre os economistas progressistas ou de tendência heterodoxa: o novo desenvolvimentismo.

(...) "Tudo isso desaparece, porque você passa a ter uma ciência... Quer dizer, não existe discussão de objetividade em relação à matemática. Não há objetividade na matemática, ela é um método de raciocinar. No caso da economia, é a mesma coisa. Mas desenvolveram uma ciência toda matemática – e demoraram para fazer isso. E o que tem sido feito é montar um modelo hipotético-dedutivo, que, para mim, é um castelo no ar. 

 O que se ensina nas grandes universidades, na pós-graduação, é esse modelo do equilíbrio geral e das expectativas racionais. Mas aí se diz: “esse modelo não bate com a realidade”. E eles dizem: “não tem problema, o modelo continua certo e correto; o que está errado é: existem falhas de mercado que atrapalham, e, portanto, devem ser corrigidas”. Esse é o raciocínio deles. Mas, dentro dessa lógica, o que eles verificam é que os mercados são autoregulados e quase perfeitos.

 E, portanto, a partir desse “fundamento científico”, eles recomendam e adotam o neoliberalismo. Eles vão em frente, com os modelos matemáticos desenvolvidos nas grandes universidades, e causam essa desgraça. É o mesmo fenômeno que aconteceu nos anos 1920, quando também havia uma hegemonia total desse pensamento." (...) 

 Dessa forma os gênios das ciências econômicas ainda propagam nas universidades, que os já arcaicos modelos: apenas contam com pequenos desajustes que podem ser corrigidos, como afirma Bresser-Pereira num pequeno trecho da entrevista que expusemos aqui.

 Como se pode ver a recusa aos parâmetros práticos e necessários nas medidas governamentais, está fortemente alinhada ao pensamento ortodoxo desses pensadores, contrapondo-se ao discurso do pragmatismo defendido por eles. Sendo esse pragmatismo, lançado mão, apenas em situações extremas, como mencionado no início do texto. 

 Muito pouco então é despendido entre os governos em mecanismos mais eloquentes, como se pode observar na falta de consenso na Europa, e no desinteresse da regulação do mercado de capitais. Algo que soa como heresia para alguns. 

 E assim a crise caminha para uma longa e dolorosa lição para todos. Mas principalmente para os mais vulneráveis na cadeia alimentar do mercado.

 Num outro trecho da entrevista, Luiz Carlos Bresser-Pereira menciona a falta de comprometimento dos países ricos com a cartilha neoliberal, mostrando como as políticas e as instituições que esses países ricos recomendam a nós são exatamente aquelas que eles não fizeram. 

..."mostra, com muita clareza, num livro de história econômica, o imperialismo, especialmente na base dos soft power (conselhos e recomendações), dos países ricos, principalmente dos Estados Unidos atualmente. E ele vai mostrar isso dizendo que esses países chutam a escada, uma expressão do List. Mas ele vai mostrar como as políticas e as instituições que esses países ricos recomendam a nós são exatamente aquelas que eles não fizeram; e aquelas que eles condenam são as que eles adotaram quando estavam no nosso estágio de desenvolvimento. O livro do Ha-Joon é um livro crítico, que atualiza o imperialismo."

Luiz Carlos Bresser-Pereira, e a crítica à persistência do pensamento neoclássico
Foto: IPEA/brasilianas.org
O drama europeu, certamente ilustra bem essa dificuldade de países ricos adorarem políticas fiscais austeras e ortodoxas, principalmente, devido ao fato de o europeu, acostumado ao padrão do  Welfare State, ir às ruas protestar contra as medidas de arrocho dos governos locais.

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