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A Globalizaçao e a Doutrina Social da Igreja

 Os paradigmas que relacionam o mundo globalizado; da economia do livre mercado; das finanças e do fluxo de capitais especulativos voláteis - que por sua vez têm seus fundamentos embasados nas características peculiares e evidentemente, de seus respectivos riscos nos agentes econômicos e em suas variáveis -, estão intimamente entrelaçados e relacionados nesse complexo mundo do capitalismo contemporâneo. Surgem daí as mais variadas opiniões sobre os efeitos sociais e ambientais que o neoliberalismo provocou na humanidade, através de sua roupagem e embalagem no melhor estilo 'fashion' dito e chamado de globalização.

 Muitos afirmam que a globalização foi muito boa - para meia dúzia de pessoas do mercado de capitais, quem sabe -, tanto que as economias que nos anos 90 mais se beneficiaram das vacas gordas, alegavam que a desorganização de outras, era o fator primordial para a falta de sucesso desses últimos.

 No vídeo à seguir, podemos observar que nações que antes eram tidas como organizadas e que experimentavam as benesses da globalização se vangloriam de suas..., "glórias" - mas hoje, não podem continuar afirmando o mesmo, até porque os líderes dessas nações e protagonistas daquela época, não são os mesmos e a sensação que se tem, é que estamos pagando a conta da farra desses ditos protagonistas de outrora. Vejamos o vídeo:




 Mas o que é mais irônico de tudo isso é que sempre pagamos essa conta - mesmo em épocas onde nem havia o termo 'globalização' -, e que sempre as razões apontadas por observadores dentro e fora do Brasil, era de que o país sempre estava atrasado no quesito infraestrutura, em todos os âmbitos e sentidos e nos mais variados setores de nossa economia e de nossa sociedade, principalmente na Educação.

 Os golpistas de 1964, fortemente apoiados pela elite econômica nacional e internacional, no auge de duas crises do petróleo, onde o Brasil importava cerca de 70% de seu consumo, atribuíam à desvantagem que o país vivia nessa área à falta de investimentos no setor petroleiro nacional e buscava em alternativas mais baratas através do Pró-álcool, meios para transpor a crise. Mas os mesmos, duas décadas antes, levaram ao suicídio um presidente que teve a audácia de criar uma companhia petrolífera onde o ceticismo que beira o derrotismo da direita empurrava o país para o eterno atraso o levou ao trágico fim.

 E os resultados sociais? Sempre o mesmo discurso: 'que os mais preparados chegam sempre na frente'. Mas e se essa dita preparação, só de fato o seja para os mais afortunados? Como fica as massas assalariadas? E se são assalariadas, certamente porque sejam sempre despreparadas. Estaria de fato dispostos, mecanismos para essa demandada preparação da mão de obra sempre insuficiente? Um círculo vicioso e que promete sempre (forever) e eternamente nunca (never), ter fim (the end).

 Nesse ambiente de constante competição no qual o neoliberalismo nos impõe como condição premente do sistema, mais uma vez chamo a atenção para os documentos da Igreja sobre temas de nosso cotidiano. A Doutrina Social da Igreja, visa manifestar esse posicionamento institucional eclesial, buscando por meio desse documento, harmonizar o lucro financeiro buscando também a redução de danos ambientais, somado é claro ao lucro social. Vejamos alguns trechos desse documento:

b) O sistema financeiro internacional


368 Os mercados financeiros não são certamente uma novidade da nossa época: já desde há muito tempo, por várias formas, eles cuidaram de responder à exigência de financiar atividades produtivas. A experiência histórica atesta que, na ausência de sistemas financeiros adequados, não teria havido crescimento econômico. Os investimentos em larga escala, típicos das modernas economias de mercado, não teriam sido possíveis sem o papel fundamental de intermediação exercido pelos mercados financeiros, que permitiu, entre outras coisas, apreciar as funções positivas da poupança para o desenvolvimento integral do sistema econômico e social. Se, por um lado, a criação daquilo que se tem definido como o «mercado global dos capitais» produziu efeitos benéficos, graças ao fato de que a maior mobilidade dos capitais consentiu às atividades produtivas alcançar mais facilmente a disponibilidade de recursos, por outro lado a maior mobilidade também aumentou o risco de crises financeiras. O desenvolvimento da atividade financeira, cujas transações superaram sobejamente, em volume, as transações reais, corre o risco de seguir uma lógica voltada sobre si mesma, sem conexão com a base real da economia.

 Aqui, podemos observar a preocupação da Igreja sobre o risco que a proliferação de derivativos pode ocasionar. É como se a Igreja já previsse os potenciais danos que a globalização traria à humanidade.

(...)369 Uma economia financeira, cujo fim é ela própria, está destinada a contradizer as suas finalidades, pois que se priva das próprias raízes e da própria razão constitutiva, ou seja, do seu papel originário e essencial de serviço à economia real e, ao fim e ao cabo, de desenvolvimento das pessoas e das comunidades humanas. O quadro completo manifesta-se ainda mais preocupante à luz da configuração fortemente assimétrica que caracteriza o sistema financeiro internacional: os processos de inovação e de desregulamentação dos mercados financeiros tendem, de fato, a consolidar-se somente em algumas partes do globo. Isto é fonte de graves preocupações de natureza ética, porque os países excluídos dos processos descritos, mesmo não gozando dos benefícios destes produtos, não estão entretanto protegidos de eventuais conseqüências negativas da instabilidade financeira sobre os seus sistemas econômicos reais, sobretudo se frágeis e com atraso no desenvolvimento[760].

 A improvisada aceleração dos processos quais o enorme incremento no valor das carteiras administradas pelas instituições financeiras e o rápido proliferar de novos e sofisticados instrumentos financeiros torna deveras urgente divisar soluções institucionais capazes de favorecer eficazmente a estabilidade do sistema, sem reduzir-lhe as potencialidades e a eficiência. É indispensável introduzir um quadro normativo que consinta tutelar tal estabilidade em todas as suas complexas articulações, promover a concorrência entre os intermediários e assegurar a máxima transparência em benefício dos investidores. 

 Claro que para investidores ou megaespeculadores, o posicionamento da Igreja Católica, pouco lhes interessa ou pouco afeta em seus negócios. Talvez numa época luterana, a religiosidade tivesse seu fim, mas hoje, com o avanço do laicismo e onde se busca o lucro à qualquer preço - para os outros, evidentemente -, pouco se importando com os escrúpulos, certamente palavras de um Papa em nada, afetariam o comportamento dos mesmos. 

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