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A cracolândia de São Paulo e a de Rio Verde




 Os jornais e os noticiários mais uma vez dão destaque ao depósito de lixo humano em que se tornou uma região do centro da capital paulista. O local onde hoje é conhecido, como cracolândia, tem esse nome; por conta da relação à derivação da droga denominada crack. 

 Um território livre para o consumo de drogas que em seu início, tratava-se apenas de um recanto boêmio - digamos assim - de jovens cineastas durante um período conhecido como "cinema marginal", onde a mistura de arte e promiscuidade ao melhor "estilo" Arnaldo Jabor e Glauber Rocha; dos artistas comunistas dos anos 60, (e que apesar de comunistas, torravam o dinheiro de seus pais, na produção de filminhos tipo, pornochanchada, regados à muitas drogas), 

 Segundo relatos antropológicos e sociológicos f.h.cianos - tinham como objetivo a exibição desses filmes produzidos por cineastas 'filhos de papai', e mimados que cresceram pensando que fossem os seres mais inteligentes produzindo o que havia de mais moderno nesse dito e chamado "cinema marginal".

  Há relatos 'arqueológicos' de que nos anos 20 e 30 o local batizado popularmente como "Boca do Lixo" era um polo da indústria cinematográfica onde tinham-se instalados empresas do ramo, como a Paramount; a Fox e a Metro Goldwyn Mayer. Daí, com a decadência do local, os jovens cineastas dos anos 60 tomaram conta, e assim começou a fase do cinema marginal e que até o final dos anos 80, só exibiam filmes pornográficos.

 Como se pode observar a cracolândia de São Paulo, tem um viés histórico, o que faz de lá, algo original e único, sem similaridades país à fora. Pois começou com a elite e terminou com o esgoto da sociedade. Muito diferente da "cracolândia" de Rio Verde, que também começou com a elite, mas não pelo lado artístico e boêmio, mas sim, pelo lado da corrupção empresarial através do patrimônio público.

  O ponto de partida do drogadouro local se deve a algumas transações infelizes que o antigo proprietário de um posto de combustíveis que existia às margens da BR-060 no seu perímetro urbano em Rio Verde e quando ainda o mesmo, se valendo da condição de presidente do extinto Banco do Estado de Goiás (BEG), efetuou na forma fraudulenta, de doze empréstimos realizados em: Seu nome, de sua esposa e ainda, pela razão social: Posto Horizonte Ltda

APELAÇÃO CRIMINAL 2000.35.00.004107-3-GOIÁS.
http://www.elciopinheirodecastro.com.br/documentos/primeira/abril10/01_04_2010.pdf 

 A área conta ao seu redor, com oficinas mecânicas, borracharias, concessionárias de caminhões e transportadoras e outros postos de combustíveis. Mas que  por outro lado, devido ao fato da pouca organização dos empresários do local (que poderiam muito bem, constituírem um condomínio empresarial nas imediações), tornou-se em seu início, local de andarílhos, oriundos de outras localidades, e por ficar próximo também, ao trevo de acesso à cidade e de sempre haver por lá, casas de meretrício, evidenciou-se uma certa concentração de pessoas tidas por indesejáveis na imediações.

 Com o passar de 18 anos e com a recente industrialização do município, em virtude da fama adquirida pela cidade, de novo Eldorado, muitas outras pessoas se mudaram para cá, vindos principalmente do nordeste do país, na esperança de trabalharem e conseguirem melhorar de vida. 

 Com o passar do tempo, o desalento e a frustração das espectativas e o sonho de uma vida melhor, se esvaece - dada à pouca qualificação de uma massa de mão-de-obra barata atraída pela principal e maior empregadora daqui -  e assim, muitos caem na tentação de uma pseudo vida fácil.

 O mais curioso se deve aos atos sequenciados de corrupção do proprietário do antigo posto de combustíveis abandonado, e as consequências disso nos dias de hoje. Tendo seu cunhado (um dos envolvidos no escândalo do BEG), ocupado o cargo de secretário municipal de Indústria e Comércio, na gestão do então prefeito Osório Santa Cruz, e ser também, um dos responsáveis, da meritória vinda da Perdigão (atual BRF) para Rio Verde. 

 O antigo posto e que hoje serve como fumódromo, se tornou pequeno para tantos frequentadores e assim, outros fumódromos se propagaram pelas adjacências de bairros vizinhos e periféricos, onde os novos moradores residem no sistema de 'repúblicas', ou em quitinete, mas que ao perderem suas ocupações na grande agroindústria, se vêem obrigados a deixarem seus domicílios alugados e então irem para a rua.

 Nessas duas histórias de distintos locais, nos perguntamos se há uma correlação; ou se a cracolândia de São Paulo seja algo único. Mas existe uma semelhança em tudo isso: o fato de que em qualquer lugar desse país, pessoas de 2ª classe, serem tratadas como lixo e como tal se comportarem, como única alternativa de vida. 

 No mundo atual do laicismo, do ateísmo ou do paganismo, onde muitos reinvidicam esse direito de não servir à Deus, através dos irmãos excluídos, ficamos com a triste lição de que... Se não podemos ajudar, também não temos o direito de atrapalhar a vida daqueles que vieram para galgar um lugar à sombra. Já que o sol é para todos, mas a sombra, para poucos.

 Só nos resta rezar pelos doentes de um mundo endêmico, onde poucos se arriscam a ir, para resgatá-los. Onde as políticas de saúde pública ainda não chegaram, mas apenas, em ambos os casos, o poder coercitivo estatal.

















Nossa Senhora do crack, Rogai pelos moradores das cracolândias!    

Comentários

  1. Prezado Márcio, meu nome é Fernando, sou professor da UNICAMP e li alguns posts seus sobre Rio Verde. No entanto, não encontrei nenhum e-mail de contato. Seria possível obter seu e-mail? O meu é fernando.cezar.macedo@gmail.com. Grato.

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