Ontem ocorreu em todo o País o chamado Black Friday - um evento que envolveu as principais redes varejistas nacionais -, onde as mesmas se associaram visando promover um dia de descontos promocionais, e o desencalhe de estoques.
A terceira edição brasileira do mega evento de descontos, passou ao largo de sua equivalente e inspiradora americana. Houve denúncias de descontos maquiados e 'apagão' nos sites de vendas participantes. Segundo o Procon-SP, muitas empresas reajustaram seus preços na véspera do Black Friday, para que o desconto se parecesse maior do que seria de fato.
Segundo brasileiros - que podem se dar ao luxo de fazer constantes visitas ao Tio Sam entrevistados pelas emissoras de TV que cobriram o evento -, disseram que nos Estados Unidos, os descontos são todos padronizados em 50% para todo e qualquer tipo de produto. Não foi o que se viu no Black Friday brasileiro, onde os descontos de 50% ficaram muito limitados a um pequeno número de produtos.
Mas com certeza, o pior da 'sexta-feira negra', ficou por conta do anúncio do fechamento da companhia aérea Webjet, à qual havia sido comprada pela Gol há algum tempo e que levou 850 pais de família para a rua. Segundo a companhia aérea de Constantino Jr, a empresa possuía aeronaves antigas - que consumiam muito combustível -, e que levava à um elevado custo operacional das mesmas.
Situações como o Black Friday e o fechamento da Webjet, sinalizam um certo desvio habitual de caráter empresarial no Brasil. Acaba por desmistificar um certo conceito de que por conta dos 'gargalos' estruturais do País, estariam levando os empresários a tomarem medidas que visam se protegerem no 'concorrido' mercado globalizado - o principal deles, a elevada carga tributária praticada no Brasil, os encargos trabalhistas sobre a folha de pagamento... etc -, que segundo os empresários, impede uma redução nos preços dos produtos e serviços que comercializam.
A situação de consumidores enganados e funcionários demitidos, remetem a comportamentos esdrúxulos de uma realidade empresarial bem organizada. Nos dois casos, isso se manifesta de forma trivial a um certo direcionamento no sentido de uma concentração de mercado. E mesmo que consumidores e funcionários tenham instrumentos de defesa, através de instituições para isso, os mesmos parecem insuficientes em sua tarefa.
No caso do setor aéreo envolvendo a Gol, isso se mostra mais evidente ainda, depois que a Gol adquiriu a Varig falida e por último a Webjet, onde em ambos os casos foram extintas pela diretoria da Gol, com as indulgentes bênçãos do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE). Contudo se o órgão tem como principal objetivo orientar, fiscalizar e prevenir abusos do poder econômico, como as empresas brasileiras ainda se sentem livres para - em nome da liberdade de mercado -, praticar libertinagens nos mercados em que atuam?
E falando em empresas aéreas penduradas, a secretaria municipal de Desenvolvimento Econômico de Rio Verde, insiste no anúncio da vinda da Passaredo Linhas Aéreas, para operação de vôos no aeroporto local. No dia 24 de outubro fiz um post que menciona a desesperadora situação da Passaredo, à qual entrou com um pedido de recuperação judicial, que foi destaque também na página da Folha de S. Paulo na internet.
Segundo a reportagem da 'Folha', a empresa mantém uma parceria de um acordo operacional com ninguém mais, ninguém menos que a Gol. Procurada pela 'Folha' a Gol informou que "não haverá nenhuma alteração para com os clientes da companhia e que o pedido de recuperação judicial não altera o funcionamento e a continuidade dos vôos programados". Caso a Passaredo venha mesmo a operar vôos em Rio Verde e a sua situação se agrave, possivelmente poderá ser repassada ao controle da Gol, e com isso pode vir a ter o mesmo fim da Varig e da Webjet.
Ou seja..., caso o CADE não se posicione e insista nessa vagarosa política de julgamentos de análises em processos de concentração ou condutas de práticas nocivas ao mercado..., mais concentração de mercado, descontos fajutos, apagões de internet, reajustes de preços, demissões injustificadas, continuarão prementes na prática entre as empresas nacionais e como já mencionado antes, os demais instrumentos de proteção ao consumidor e ao trabalhador, sempre se mostrarão insuficientes.
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