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A profecia da nova civilização

 Ela nasceu de uma visão, de um sonho, de uma previsão constitucional em nossa primeira Carta (a de 1824). Com o nome de uma inspiração de José Bonifácio de Andrada. Nasceu de uma cidade do interior de Goiás. Da voz trêmula e quase dissonante de um jovem *jataiense quando questionava ao então candidato à presidente, se ele de fato cumpriria a Constituição - na época em vigor, aquela promulgada em 1946 - se cumpriria, o que mandava o texto, sobre a transferência da capital do Rio de Janeiro para Goiás.

 O nobre candidato de pronto atendeu ao questionamento do jovem e assim prometeu que aquele seria, seu principal compromisso de governo. Assim aconteceu, Brasília com 52 anos não comemora seu aniversário, mas como sempre em todos os anos, apenas celebra melancolicamente seu jubileu. Sempre marcada por intempestivos acontecimentos, quase nunca tem seus motivos para o brilho, o riso e a alegria que a festa sugere ou inspira. 

 Carrega em sua história, que começa muito antes do seu surgimento, numa série de acontecimentos - no mínimo de elevado teor místico - por conta de uma profecia de São João Bosco: um santo italiano e o qual nunca havia vindo ao Brasil e nem mesmo nunca sequer imaginara como seria as "Terras de Santa Cruz". Mas no ano 1883, num sonho ou visão, Dom Bosco - conhecido também como padroeiro da juventude - disse:

"Eu enxergava nas vísceras das montanhas e nas profundas da planície. Tinha, sob os olhos, as riquezas incomparáveis dessas regiões, as quais, um dia, serão descobertas. Eu via numerosos minérios de metais preciosos, jazidas inesgotáveis de carvão de pedra, de depósitos de petróleo tão abundantes, como jamais se acharam noutros lugares. 

 Mas não era tudo. Entre os graus 15 e 20, existia um seio de terra bastante largo e longo, que partia de um ponto onde se formava um lago. E então uma voz me disse, repetidamente: ‘Quando vierem escavar os minerais ocultos no meio destes montes, surgirá aqui a Terra da Promissão, fluente de leite e mel. Será uma riqueza inconcebível’."

 Numa tarde do ano de 1883, o padre Felipe Rinaldi, ao entrar no escritório de Dom Bosco, o encontra com um globo terrestre sobre sua mesa de trabalho e tinha os olhos perdidos ao longe, onde acariciava com as mãos a parte referente ao Brasil. Após ter um sonho onde percorrera a América do Sul, de ponta a ponta.

 Desse modo, podemos nos questionar: O que Deus, de fato nos reserva, e qual seria a missão de Brasília ou sua contribuição afinal ao mundo, vindo de nossa tão difamada capital? Uma profecia de esperança e luz? Quem sabe?

 Envolta em escândalos, Brasília parece como que uma pérola, atirada e pisada por porcos. Como num conto que se percebe no lamaçal, o santo homem sujo pelo pecador e onde também se vê que da incredulidade reinante sobre o sucesso de uma cidade em seus primeiros tempos, muito mais ainda na sua construção, surgida no meio do nada, sucessivos escândalos servem apenas como meio de destilação do veneno mortal do preconceito litorâneo contra o interior.

 A má fama do típico e genuíno carioca, do malandro de terno e chapéu branco sobreposto sobre uma camisa regata, é aos poucos, estereotipado da mesma maneira - à qual costumeiramente paulistas, se referiam à cariocas - por herança que lhe era atribuída, mas sobretudo, obedecendo às sutilezas das ocasiões, ou apenas, ficando no aguardo de um acontecimento marcante que viesse a caracterizar o cidadão comum. Que recebesse algum tipo de rótulo ou algo que ficasse marcado no comportamento predominante dos habitantes da nova capital. No comportamento do candango ou brasiliense comum. Algo, ao que parece, já se tem por mostras do que se pretende... contaminar a reputação e o caráter dos gentílicos de lá. 

 A mensagem que uma profecia contém, só pode ser entendida por aqueles que acreditam nela. Aos céticos, está reservada apenas a surpresa de uma perplexidade surpreendente da 'boa nova' inesperada, daquilo o que os formadores de opinião, nunca poderiam imaginar ou prever.

 Mas o que dizer de nossa juventude? Tão maculada e difamada quanto os jovens atendidos por Dom Bosco, e a fama que tomou a cidade que o tem por padroeiro? As táticas de estigmatização do jovem, estão sempre em acordo pleno com interesses de quem quer permanecer boa parte de suas vidas senis, no controle absoluto da situação. E assim difama, oprime e macula toda uma geração em nome de quê?!

"No sonho, um jovem de 16 anos, amável e de beleza sobre-humana o acompanha durante toda a fantástica viagem e se apresenta como amigo seu e dos Salesianos. Que vinha em nome de Deus, mostrar-lhe o trabalho a ser realizado. Diz o jovem: - Isto acontecerá antes que passe a segunda geração. Pergunta Dom Bosco: - Qual será a segunda geração? "

 O sonho de Brasília pode nos sinalizar o quanto somos ricos e ao mesmo tempo o quanto temos um povo pobre. Não apenas em recursos financeiros, como também, de esperanças. Já que se deixam levar por previsões cataclísmicas ou apocalípticas, de que tudo está perdido. Até mesmo, a mais ingênua e pura das expectativas é retirado dos sonhos de nossa juventude. Sempre marginal, sempre desqualificada, sempre sem preparo, sempre descartada.

 Ao passo que ao desnudarmos e despirmos as reais pretensões, percebemos a pobreza submersa em fezes, dos sujos que tentam à todo custo, sujar os limpos.

"O jovem fala: - A presente não conta. Será uma outra, depois outra. E Dom Bosco, querendo ainda mais clareza: - Quantos anos compreende cada geração? 

Ele responde-lhe: - Sessenta anos. 

A primeira geração da Congregação dos Salesianos teve início em 1859. Segundo a determinação do jovem guia, está geração não deve ser contada. Ao “excluí-la”a próxima teve início sessenta anos depois, em 1919 estendendo-se até 1979. A partir daí, no período de 1979 a 2039 é que seria a efetiva segunda geração."


 Termino meu texto com um comentário de um colunista de um grande jornal paulista, em que aponta a maculação de alguns, que podem manchar uma terra inteira. Terra que mana leite e mel.

 Feliz aniversário, Brasília!

http://tv.estadao.com.br/videos,RECUSA-DE-MINISTRA-MOSTRA-EXTENSAO-DA-REDE-DE-CACHOEIRA,166336,260,0.htm 
  
* Jataíense - gentílico ou naturalidade de quem nasce na cidade de Jataí, em Goiás. 

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