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Uma cidade que usa repelente para investimentos

 No último domingo (dia 07), Rio Verde foi destaque num dos programas de maior audiência da televisão da maior rede do País, dedicado ao meio rural, (o Globo Rural). Mas isso não se deu por conta de um mero acaso; a produção de uma matéria jornalística que tratou sobre uma pesquisa realizada e que desenvolveu um novo tipo de adubo, põe em evidência o potencial cada vez mais destacado do município no cenário nacional. 

 Usando como principal matéria prima a cama de frango - obtida nos aviários dos integrados que fornecem aves para a maior agroindústria de processamento de proteína animal, também instalado no município -, os pesquisadores desenvolveram um novo tipo de adubo; mais barato e eficaz. A pesquisa se deu em parceria com a Universidade de Rio Verde, a Embrapa e a Comigo (a  cooperativa agrícola da região de Rio Verde). 

 A exibição de reportagens do tipo onde temos Rio Verde como cenário, reflete o grau de importância o qual a município veio adquirindo nos últimos anos em virtude da dinamização de sua economia e também em virtude de sua gradual consagração como polo de pesquisa tecnológica agrícola que já começa a emergir com esse potencial, embora ainda um tanto incipiente

 Em mais duas oportunidades no mesmo programa de televisão, Rio Verde foi destaque ao ter como referência a divulgação da cotação da arroba do boi gordo na praça local, e ainda, sobre a infraestrutura nos modais de transportes disponíveis na região de influência de Rio Verde, (o qual abrange um raio de 200 km), e onde faz parte o município de São Simão no extremo sul de Goiás, às margens do Rio Paranaíba, (divisa natural entre os estados de Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul). O município de São Simão por sua vez, abriga um porto de escoamento de grãos, situado justamente no Rio Paranaíba, e onde também integra o complexo hidroviário Tietê-Paraná por onde boa parte da produção de grãos de toda a região sul e sudoeste de Goiás é escoada.

 Porém o que dizer depois de tanta propaganda 'gratuita' da parte da TV Globo, em relação às potencialidades de Rio Verde - e que não foi a primeira vez em que isso ocorreu -, ao observarmos que iniciativas como esta, sejam aparentemente insuficientes para a atração de outros investimentos privados para o município. 

 Como não lembrar a vez em que uma edição quase que inteira do programa Globo Repórter foi dedicada ao município, no qual o próprio programa equivocadamente afirmou ser 'a cidade em que os patrões vão atrás dos trabalhadores'. Isso evidentemente provocou uma verdadeira onda migratória para Rio Verde, onde a prefeitura precisou pagar passagens para que as pessoas que vieram para a cidade, à procura dos 'patrões que iam ao encontro dos trabalhadores em busca de trabalho', pudessem retornar para suas localidades de origem.

 Porque então, depois de tantas oportunidade em que Rio Verde se faz registrada na maior emissora de TV do Brasil, os investimentos na cidade praticamente estagnaram? Muitos partidários ou que possuem algum tipo de vínculo com a atual administração municipal argumentariam o recente anúncio da vinda de grandes investimentos no setor varejista para a cidade; onde há a promessa da construção de um novo shopping center com algumas das mais famosas lojas âncoras de nível nacional e onde ao que parece ainda, nem mesmo iniciou suas obras (mas que promete ser entregue até o final de 2014). E outros no segmento da construção civil, onde novas torres de apartamento brotam justamente nos pontos comercialmente mais valorizados da cidade.

 Rio Verde contudo, parece sofrer a mesma tendência macabra de escassez de investimentos produtivos no segmento industrial que o resto do País. Desde o começo dos anos 2000, a cidade não recebe o ar da graça de nenhuma nova empresa, ou mesmo o anúncio de ampliação da capacidade instalada de produção das já existentes aqui. Porém não é o que ocorre em outros municípios goianos como Aparecida de Goiânia e Anápolis, os quais não param de atrair novas fábricas para eles. É inegável que por trás disso evidencia-se o pleno empenho do governo local goiano em enfatizar apenas as potencialidades desses dois municípios que fazem parte da Região Metropolitana de Goiânia. 

 Tanto é verdade que não só Rio Verde como cidade interiorana é prejudicada com todo esse ostracismo governamental na atração de investimentos. Em de Goiás, há outros exemplos: um deles é a montadora de automóveis Suzuki, prevista inicialmente para Catalão, foi construída em Itumbiara; a planta industrial da fábrica está totalmente concluída, mas a produção de carros da Suzuki, vem sendo feita em Catalão, que pelo fato de pertencer ao mesmo grupo, mantem uma parceria na utilização da fábrica da Mitsubishi, instalada na cidade há 14 anos e onde são montadas as camionetes L-200 Triton e o utilitário Pajero da marca. 

http://www1.folha.uol.com.br/mercado/1173748-suzuki-adia-inicio-de-producao-em-itumbiara-go.shtml

 A prática de compartilhamento de unidades industriais entre montadoras de veículos de marcas distintas é comum no Japão, onde o conceito de produção 'just in time' é largamente adotado visando a máxima eficiência com redução de custos, aliada à versatilidade disponível nessas unidades de produção. Tudo estava acertado por conta justamente para atender essa prática entre as empresas japonesas, que queriam implantar o mesmo conceito de produção no Brasil; o governo goiano porém não viu dessa forma, e persuadiu a Suzuki a construir sua fábrica em Itumbiara, tendo em vista que o terreno e os incentivos tributários à montadora, só seria concedidos pelo governo estadual goiano, se a Suzuki optasse por Itumbiara em vez de Catalão. Contudo a Suzuki já vem produzindo seus veículos no estado, mas não em Itumbiara.

 Dentro desse exemplo podemos voltar a Rio Verde e citar a situação de uma unidade fabril onde na qual funcionou uma fábrica de extrato de tomate de uma das mais famosas marcas do mercado que pertenceu ao conglomerado anglo-neerlandês que hoje é conhecido no Brasil como Unilever. Inicialmente com investimento previsto em cerca de R$ 200 mi em 5 anos, a unidade de produção de atomatados em Rio Verde, funcionou por quase 3 anos, até a Unilever adquirir a Arisco (até então pertencente ao grupo Hypermarcas) em Goiânia, e resolver concentrar toda a sua produção na capital, desativando a unidade que acabara de construir em Rio Verde, e ainda outra, na cidade mineira de Patos de Minas.

 A planta industrial da antiga Gessy-Lever em Rio Verde ficou por mais três anos totalmente às moscas, até ser adquirida por outra empresa alimentícia que vive um sério problema de gestão interna em sua unidade goiana e onde vem ano a ano diminuindo seu ritmo de produção e onde atualmente vem funcionando com aproximadamente apenas 10% de sua capacidade chegando a demitir a maior parte de seus funcionários. Desde de 2010 a unidade da Siol em Rio Verde, deixou de esmagar sua principal matéria prima para a produção de derivados de polpa de tomate, vindo a adquirir a mesma de fornecedores de outras partes do estado; sendo portanto, realizado apenas o envase nos recipientes enlatados ou de vidro para depois serem distribuídos ao atacado e assim, posteriormente ao consumidor final.


 Todas essas situações envolvendo incentivos governamentais que se caracterizam pelo êxito em algumas cidades e o fracasso em outras, demonstram o desinteresse do setor público goiano por uma cobrança nos resultados sociais, obtidos por meio da geração de empregos e renda para a massa trabalhadora através dessas empresas nas comunidades em que atuam - que no caso da Suzuki em Itumbiara ainda não gerou um só emprego, e no caso da Siol em Rio Verde, chegou a eliminar postos de trabalho em sua planta industrial. 

 Podemos mencionar ainda, o caso de outras indústrias em Rio Verde, já instaladas no município e que aderiram ao programa de incentivos estadual, mas que mantiveram o mesmo número de pessoas em seus respectivos quadros de funcionários, antes de fazerem parte do referido programa conhecido como 'Produzir'.

 Dessa forma, a efetividade desses programas é questionável na medida que não gera dividendos sociais para a população e só beneficia empresários comprometidos apenas com seus ganhos. Mesmo com a sensível melhora em sua infraestrutura de logística - com a duplicação da BR-060; a recente recuperação da BR-452 e a construção do trecho sul da Ferrovia Norte-Sul -, nada disso tem sido suficiente para despertar a libido dos empresários em investirem na cidade, o que vem fazendo com que gradualmente ela perca dinamismo em sua economia, enquanto os problemas sociais se avolumam consideravelmente. 

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