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Descobriram a pólvora: 'E se a inflação veio da oferta?'

 Muito interessante o artigo de Fernando Dantas no jornal O Estado de S. Paulo (confira no link), do último dia 03 em que cita a análise sóbria e altamente dentro da realidade brasileira atual, do economista chefe da corretora CM Capital Markets, Darwin Dib. Ele que também foi analista de contas externas no Departamento de Economia do Itaú, é considerado pouco heterodoxo no meio em que atua, portanto com uma análise muito isenta sobre o que se passa na economia brasileira nos dias de hoje.

 Embora seja de tendência ortodoxa, Darwin Dib defende algo que beira - nas palavras de Fernando Dantas -, uma verdadeira 'heresia' para aqueles que possuem uma linha de pensamento semelhante à dele. Dib sustenta que o Banco Central deve manter a taxa Selic em 7,25% até o final do mandato da presidente Dilma Rousseff e ainda frisa que a autoridade monetária está coberta de razão nisso. 

 O economista diz que heresia seria a defesa de elevações na Selic por conta de uma falsa ideia de demanda aquecida, num cenário de crescimento abaixo do seu potencial. Ao divulgar um relatório sobre o que diz, Dib entra em detalhes sobre a sustentação de seu ponto de vista. Ele argumenta que ao crescer apenas 0,9% em 2012, a economia brasileira ficou claramente com um crescimento abaixo de seu potencial - onde segundo economistas mais conservadores, esse potencial brasileiro está em torno de 3% -, com isso, configura-se um verdadeiro 'hiato' no produto nacional, onde a economia brasileira cresceu menos que o seu potencial, deixando fatores de produção ociosos. 

 Para ele, isso significa que a inflação não pode ser entendida como aquecimento da demanda, estando portando, ligada à baixa oferta. E sendo derivada da oferta, a inflação não pode ser combatida com juros. 

 Notadamente a análise do economista é bastante isenta, ao se tratar de um economista que cuida de ganhos de investidores que o procuram, quando poderia perfeitamente estar junto aos demais, fazendo coro na defesa pelo aumento dos juros atendendo à demanda por uma oferta de ganhos mais generosos aos rentistas os quais prestam atendimento.

 Para sustentar a tese do economista, Fernando Dantas lembra que Darwin Dib, se utiliza de parâmetros acadêmicos em torno dos livros de economia que mencionam que o fenômeno inflacionário é proveniente da oferta e da demanda; em que acrescenta que "ela quase sempre é um fenômeno de demanda superaquecida, e raramente um deslocamento de oferta". Embora num caso de oferta insuficiente como este seja mais raro, não quer dizer que isso nunca aconteça, frisando que uma economia com potencial de crescimento de 3% e que cresce apenas 0,9%, não pode ter provocado inflação de demanda. O que de acordo com ele, só pode ser desmentido caso os números do IBGE estejam errados. Ele acrescenta ainda que mesmo que com a revisão sobre o resultado do PIB de 2012, de forma alguma irá levá-lo para perto do potencial de crescimento da economia. 

 Segundo o economista, a inflação de oferta foi provocada por conta de erros de planejamento de produção, e isso colocou a oferta bem abaixo da demanda por conta do choque de confiança em torno do agravamento da crise que repercutiu na confiança do empresariado no final de 2011. 

 Pessoalmente acredito que esse 'erro de planejamento' ao qual se refere o economista, seja intencional, na medida em que os acordos trabalhistas entre o setor produtivo e os sindicatos, elevaram muito os salários, encarecendo os custos de produção. Era preciso então uma redução nas horas extras trabalhadas, bem como também, na própria atividade, forçando altas nos preços em torno da redução da oferta e tentando com isso uma possível redução no emprego, e ainda  quem sabe de quebra, deslocar uma elevação nos juros. 

 Assim o empresariado poderia demitir seus funcionários com salários altos e recontratá-los com salários inferiores. Veladamente o economista chega a reconhecer essa realidade, classificando como "anedótico", certos aumentos concedidos acima da inflação a algumas categorias, onde ficaram caracterizadas pela força de certos sindicatos.  

 Dib argumenta de que forma alguma a economia pode ser caracterizada como pleno emprego ou muito próxima disso, porque isso é incompatível com uma realidade de crescimento econômico muito abaixo do seu potencial.

 Mesmo reconhecendo que o juro real - numa faixa em torno de 2% -, que deve estar abaixo do juro neutro (aquele que não acelera e nem desacelera a demanda), ele ressalta que a teoria econômica mostra que o juro abaixo do neutro, só causa inflação se a economia crescer acima do seu potencial de crescimento. Ou seja, segundo ele, enquanto isso acontecer, não se pode dizer que o juro baixo esteja provocando inflação. "Nada desta inflação foi produzido pelo juro real abaixo da taxa neutra", afirma categoricamente.

 Ele lembra também as atas do Comitê de Política Econômica do (Copom), do Banco Central, que diagnosticou que o desaquecimento da atividade está ligado à oferta, em relação à isso nada pode ser feito pela autoridade monetária por meio da política monetária. 

 E fechando a interessante e isenta análise do economista, ele lembra que durante os oito anos de governo do presidente Lula, era comum atribuir o sucesso da economia brasileira, em que eram apontados por fatores externos favoráveis, hoje os mesmos analistas subestimam a piora do cenário internacional e enfatizam fatores domésticos por conta do baixo crescimento. 

 Em suma, ele analisa que não faz sentido algum o que vem ocorrendo na economia brasileira, com inflação de oferta tida como de demanda, numa economia que cresce bem abaixo do seu potencial. 

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