Pular para o conteúdo principal

Promissão: Terra promissora?

Neste domingo (24), moradores de um dos bairros mais admirados de Rio Verde, celebram seu aniversário de surgimento; são quase 40 anos de história e que de certa maneira não representa nada além de uma prática muito comum no que consiste aos processos de gentrificação de espaços urbanos tradicionais das regiões centrais da cidade. Assim surgiu o bairro Promissão, na região sul de Rio Verde; um lugar de nome bonito, que representa esperança, mas que na prática, sempre viveu e portanto nunca passou da definição de seu real significado: uma promessa.


Geraldo Neto, concede entrevista sobre a difícil situação dos moradores por conta do fechamento do posto de atendimento dos Correios. 

 Se Promissão significa promessa, o bairro não poderia ter interpretação semântica mais 'promissora' que não fosse nada além de um simples compromisso politiqueiro, que motivou a lei à qual autorizou sua criação em uma área próxima onde já funcionava o matadouro municipal, criado poucos anos antes. Com isso o bairro 'promissor', só garantia mesmo a posse de um simples pedaço de terreno a quem se dispusesse morar distante de tudo e sem qualquer infraestrutura urbana. 

 Dessa forma, em setembro de 1978 o bairro foi constituído e no ano seguinte, seus primeiros moradores já podiam fazer número. Mas tudo ao preço de suportar o mal cheiro provido do matadouro de bovinos ao lado, e mais tarde, com a construção da única estação de tratamento de esgotos da cidade.

 Em razão de ter sido constituído ao lado do matadouro municipal, o Promissão em seus primórdios, ficou conhecido de forma pejorativa por moradores de outras partes de Rio Verde, como "vila do bucho". O matadouro, que atualmente se transformou numa cooperativa que abastece açougues de mercados rio-verdenses e de cidades vizinhas, ainda permanece no mesmo local, gerando transtornos aos moradores do Promissão, com a promessa que já perdura há 7 anos, de que se mude de lá e passe a operar na GO-174, na saída para Montividiu. 

 Nos anos 1990, o bairro passou a ficar conhecido pelo elevado número de homicídios, praticamente um, à cada dois fins de semana alternados. Mas apesar de tudo, o Promissão cresceu e de certa forma se desenvolveu: além de redes elétrica, de água e esgotos, do final dos anos 1980, o bairro passou a contar com infraestrutura gradual, primeiro com o asfalto, até se completar na atual (menos rede de captação de águas das chuvas), porém, com essa infraestrutura mal construída e portanto, com asfalto, meio-fios e calçadas, de baixa qualidade. 

 As calçadas feitas pelo próprios moradores, como é de praxe em Rio Verde, seguiu o conceito do menor custo possível, devido as frágeis condições econômicas dos mesmos, já o asfalto e meio-fios também, porém, pelo lado do setor público que em nome da economia, busca embolsar as possíveis "sobras" de dinheiro das obras.

 O Promissão polariza os demais bairros à sua volta, como o Vila Mariana, Santa Cruz e São Tomás, além de outros mais novos como, o Setor de Funcionários, Serra Dourada, Dona Ilza, Recanto do Bosque e Jardim Helena. Portanto, o Promissão se viu além da necessidade de desenvolver seu comércio, de criar oportunidades na prestação de serviços como academias de ginástica, postos de combustíveis, oficinas mecânicas para motos e lavadores de carros.

 Só para se ter uma ideia, apenas o Promissão sozinho, possui uma concentração populacional maior que o município vizinho de Montividiu, por exemplo. Contudo o bairro passou a viver um drama depois do fechamento do posto de atendimento dos Correios, o que sobrecarregou a casa lotérica do Promissão. 



Decreto com assinatura do então prefeito Iron
Jaime Nascimento, que autoriza a criação do
Promissão e a doação de lotes a cidadãos 
carentes.
 Mesmo depois de reuniões com autoridades, no sentido de impedir o fechamento da unidade, a direção regional dos Correios de Rio Verde, decidiu pelo fechamento do posto de atendimento do Promissão. Enquanto isso a população paga pelo transtorno de viver ilhada num bairro que é quase autônomo, mas ainda extremamente dependente de serviços do centro da cidade. 

Houve uma série de reuniões entre políticos, vereadores, secretários municipais e o líder comunitário do Promissão, o presidente da associação de moradores, Geraldo Neto, mas nada disso foi suficiente para se evitar o fechamento da unidade dos Correios do bairro. Neto que se candidatou a vereador na última eleição municipal, tinha tudo para ser eleito, mas misteriosamente não obteve sucesso, já que somente o colégio eleitoral do Promissão é responsável por uma significativa parcela do eleitorado rio-verdense e por isso com grandes chances de eleger seu representante.

Recentemente também, no início deste ano, o bispo da diocese de Jataí, dom Nélio Zortea, esteve no Promissão, para celebrar a missa em solenidade da elevação da igreja de São Judas Tadeu, localizada no bairro, à condição de matriz e sede de uma nova paróquia, sendo portanto desmembrada da Paróquia de Santo Antônio, cuja matriz fica no bairro de Parque Bandeirantes. Com a medida eclesial de dom Nélio, Rio Verde é contemplada com seis paróquias subordinadas à diocese de Jataí.    

Vizinho ao Promissão, mas na margem oposta do perímetro urbano da BR-060, fica a parte nobre de cidade, onde se encontra instalado o maior shopping da região de influência que abrange o município de Rio Verde. A promessa de alguns candidatos da eleição passada, era de que um novo posto de serviços que concentra todos os órgãos públicos num só espaço, fosse constituído no referido shopping, o que beneficiaria, moradores da região de abrangência do bairro Promissão. 

Mas como os postos de atendimento do Vapt-Vupt, são mantidos pelas prefeituras, o prefeito Paulo do Vale (PMDB), achou que não deveria assumir mais esse gasto do governo do estado, em detrimento de tantos outros com segurança pública, como a constituição da guarda civil municipal, o subsídio pago pela prefeitura com o complemento salarial de PMs e a construção da nova unidade prisional que sairá do centro de Rio Verde e será transferida também para a região do Promissão.

A falta de acessos, como passarelas para travessia de pedestres de um lado a outro na rodovia, também é outro fator que dificulta a acessibilidade e a mobilidade urbana dos moradores da região do Promissão, que precisa ser o quanto antes revisto. A região também clama por um terminal de integração de linhas de ônibus do transporte coletivo, que encurtasse distâncias para quem precisa cruzar a cidade na diagonal por exemplo, até o outro extremo de Rio Verde.



Bispo de Jataí, dom Nélio Zortea, celebra missa que culminou na criação da Paróquia de São Judas Tadeu, cuja matriz da igreja de mesmo nome, se localiza no bairro. 

Aliás, outras rotas de acesso ao bairro, já deveriam ter sido planejadas para já estarem sendo implantadas de imediato. Porém, a única obra prevista nesse sentido, é o contorno sul do anel viário que também parece mais atender a interesses especulativos imobiliários, do que propriamente na preocupação com a mobilidade urbana de quem mora ou precisa se deslocar até o Promissão.

E assim, são nesses desafios que a vida segue no Promissão e nos bairros adjacentes, em que deveria haver a facilitação e maior comodidade a seus moradores, naquilo que se interpreta como efeitos naturais do progresso e do desenvolvimento, mas o que se vê é tão somente um bairro inchado de gente que se espreme em meio a suas apertadas ruas. Pessoas que vivem da fé e da crença de dias melhores, na "terra promissora ou das promessas", mas que com o fechamento dos Correios e o abandono ao projeto de criação de uma nova unidade do Vapt-Vupt, só evidencia que essas promessas estejam cada vez mais distantes de serem realizadas.   

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rio Verde moderna

 Dando seqüência ao último post, em comemoração ao aniversário de 164 anos de Rio Verde, no próximo dia 05 de agosto, vamos iniciar de onde paramos: a década de 1960, quando relatei que a cidade enfim, inebriava-se num breve período onde a dupla Mauro Borges (governador do Estado) e Paulo Campos (prefeito), inaugurava uma fase onde o centro de Rio Verde passava por sua modernização.   Ruas de terra ou calçadas com paralelepípedo em basalto davam lugar ao asfalto. O paralelepípedo teve uma outra destinação, e foi usado como guias de sarjetas das novas ruas recém-pavimentadas.  Os postes que sustentavam a rede de energia elétrica de aroeira, deram lugar a modernos postes de concreto e uma iluminação pública mais potente ganhava as ruas da cidade. Tudo da energia provida de Cachoeira Dourada.  Conta-se que a primeira rua a ser pavimentada foi a Rua João Belo, (atualmente, Rua São Sebastião no centro antigo de Rio Verde). E o asfalto ficou tão bom, que a necessidade de recapeamen

Um nome estranho; um bairro que nasceu para ser "setor"

Para quem já se 'cansou' de ler sobre a história do nosso município que nesse finalzinho de agosto -celebra seu mês de aniversário-, deve portanto saber, que a chamada "arrancada para o desenvolvimento" de Rio Verde, se deu a partir dos anos 1970.  O certo, é que a cidade seguiu o ritmo do tal "milagre econômico" dos governos militares daquela época. Mas sem dúvida, o que foi determinante em tudo isso, se deu com a fundação da Comigo, no ano de 1975.  Desde o final da década até o início dos anos 1980 porém, a expansão urbana de Rio Verde também sofreu um elevado aumento, sendo que essa situação provocou o surgimento de bairros cuja a única infraestrutura disponível, se deu somente na abertura de ruas e o traçado das quadras.  A especulação imobiliária por parte dos herdeiros de propriedades antes rurais, que margeavam os limites urbanos da cidade, abriu espaço para bairros onde atualmente se verifica sobretudo, a apertura das ruas, em que muitas delas nã

Globalismo Vs nacionalismo e o futuro da humanidade

O mundo sempre viveu conflitos entre interesses privados e coletivos; mas apesar de ser um termo novo o globalismo por sua vez, teve papel preponderante nisso, logicamente adaptado aos contextos de suas épocas.  Antes, na antiguidade, as primeiras civilizações já eram globais e dominavam outras, pela força. Não que hoje os métodos de dominação tenham mudado, porém para isso, se tornaram mais sutis, e não menos violentos.  Desse modo, a sensação de violência sofrida é que pode demorar algum tempo para ser sentida; o que não ocorre de maneira uniforme por todas as populações subjugadas.  Sem falar na corrupção, a maior aliada dos dominadores contra os subjugados. Assim, pessoas do lado dos oprimidos, se veem partidárias de seus opressores, em nome de possíveis vantagens pessoais adquiridas. Alexandre, o primeiro grande conquistador, certamente de modo involuntário, foi o primeiro a difundir o globalismo, através de seus exércitos. Porém, conforme diz sua história, ele teria chorado por n