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O muro de Berlim caiu. No Brasil, casas, bairros e ambientes continuam murados.

 Há 25 anos eu tinha apenas dez anos de vida. Me lembro perfeitamente bem da célebre reportagem com Pedro Bial, registrando as pessoas quebrando o muro e comemorando a reunificação da Alemanha.

 Hoje o Brasil também vem rompendo muros. O muro das cotas para negros nas universidades, o muro do acesso dos mais pobres ao ensino superior, ao emprego mais qualificado e melhor remunerado. 

 O muro do pobre que inaugura sua vida de classe média com um carro semi-novo (na garagem da casa recém-adquirida). O muro rompido da vida na sociedade de consumo dos shoppings, o muro de quem nunca tinha viajado de avião ou mesmo entrado em um aeroporto antes. 

 O triste é saber que com parte de muitos muros derrubados, o que deveria ser motivo de regozijo, passou a ser razão de medo e xenofobia contra pobres e nordestinos, por em tese terem estes em sua maioria, elegido Dilma para mais 4 anos à frente do governo brasileiro.

 Agora o discurso é o do medo de que o Brasil se torne uma "república bolivariana", ou passe por um processo de "venezuelização" que faria do País, uma sociedade socialmente igualitária mas de uma forma considerada artificial por ser forjada por meio de programas sociais mantidos com recursos dos impostos que a classe média e a elite, dita produtiva paga. 

 O medo dessa gente é de serem obrigados a conviver com o filho da empregada na mesma universidade em que o filho da patroa frequenta. Ou ser obrigado a sentar em uma poltrona ao lado de alguém que é conhecido por sempre ter residido numa favela. 

 A elite e a classe média gostam da ideia dos muros, das divisões que por mais de 500 anos determinou quem eram os vencedores e os perdedores da sociedade meritocrática nacional. 

 Sempre fizeram isso, sempre dividiram a sociedade entre aqueles que podem e aqueles que não podem.
 
Derrubada de muros: os alemães dão o exemplo aos brasileiros

 Agora gritam que é o governo quem está construindo muros, o partido do governo é quem dividiu o País, porque simplesmente a falsa ideia de harmonia social que havia foi quebrada à medida em que a escolarização das massas melhorou. 

 Portanto com o muro da ignorância rompido, o discurso de que o governo é que quem ganha com uma classe proletária pouco instruída, foi desmitificado e assim começa a ficar nítido a parte que realmente ganha com a ignorância das ralés que antes eram oprimidas e exploradas em silêncio e hoje já não aceitam mais situações como esta.

 Protestam e saem às ruas para manterem os muros que ora ainda separam boa parte da população carente, da classe média. Erguidos sob os mais variados pretextos, preconceitos e teorias conspiratórias possíveis que puderem imaginar.    

 Quando seremos um só país, um só povo e uma só nação? Pelo visto o preconceito continuará determinando os muros visíveis e os invisíveis.

 Enquanto os alemães que por décadas sonharam em ser apenas uma única nação - lutando por sua reunificação -, no Brasil, alguns brasileiros defendem a separação do Sul (representado basicamente pelos estados das regiões Sudeste e Sul - praticamente ignorando o Centro-Oeste), do Norte e principalmente do Nordeste.

 Tudo porque de acordo com o que pensam essas pessoas o Sul paga impostos para manter essas pessoas acomodadas e sem que fosse preciso que elas trabalhassem para se manterem.  

 Os muros que durante mais de 500 anos determinaram quem eram os ricos, os pobres e os remediados; negros e brancos, os instruídos os ignorantes, nordestinos e sulistas, continuam teimando em continuar de pé. 

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