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A maldição da Terra Santa

 Artigo de João Paulo da Cunha Gomes


 É uma tremenda de uma utopia falar-se em paz naquele pedacinho de mundo onde situa-se Israel, a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, região historicamente disputada por etnias movidas por interesses não só políticos e econômicos, mas também religiosos. 

 Os judeus requerem o espaço que teria sido prometido a eles por seu deus. 

 Segundo a narrativa bíblica do Gênesis, Jeová mandou que Abrahão e sua família deixassem o lugar onde viviam e fossem para Canaã, prometendo aquelas terras a ele e a toda sua geração. 

 De fato, os principais historiadores consideram como verídica a migração dos hebreus (que eram um povo nômade), da Mesopotâmia para o vale do rio Jordão, local onde sempre tiveram muita dificuldade para se assentar, tendo parte deles rumado para o Egito, onde foram escravizados (episódio também descrito pela Bíblia).

 Os hebreus esperam pelo messias, que seria o restaurador, o líder político e religioso máximo, que lhes restituirá a terra prometida e reinará soberano como apenas Davi o fez em toda a história de Israel. 

 Nos tempos do rei Davi houve prosperidade e autonomia para o povo judeu, naquelas terras. Após o passamento do rei guerreiro, foram vários os cativeiros e intervenções externas. Diásporas de um povo que se dispersou pelo mundo, mas que ainda aguarda a "restauração" ou "legitimação" da posse da Terra Santa.

 Quando iniciou-se o movimento sionista, no fim do século XIX, a região estava ocupada por árabes. Ocupada, apenas. Não se pode falar precisamente de reconhecimento, de soberania. 

 É como se ali fosse uma terra devoluta, cuja posse é reivindicada por grupos, seja pelo fato de já a estarem ocupando por algum tempo, seja por "direito divino".

 Essa "autonomia" e reconhecimento internacional só veio em 1947/1948 quando de forma praticamente unilateral Israel foi reconhecido como Estado pelas Nações Unidas. 

 Os árabes palestinos nunca se conformaram com a configuração dos limites, e diante das diversas batalhas sangrentas que se sucederam nas décadas seguintes, foram recuando até serem "entricheirados" na Faixa de Gaza. 

 Com a chegada ao poder do grupo radical Hamas, toda e qualquer possibilidade de conversa acaba sendo diminuída. 

 Não há possibilidade de paz onde o interesse é, além de político, religioso. Israel exagera na ofensiva, mas o Hamas também tem responsabilidade nas ações violentas. 

 Como resolver o problema? A divisão das terras já foi proposta, e inclusive acordos assinados, mas nunca cumpridos. 

 O vale fértil do rio Jordão pesa na balança. Quem vai ficar com ele, e quem vai ficar com o deserto? Onde está o messias? 

 E o deus que mandou o Habrahão migrar para Canaã sem providenciar a retirada do local dos cananeus? Questão difícil. Tenho muitas perguntas, e nenhuma resposta.

JOÃO PAULO DA CUNHA GOMES, é professor de história

Comentários

  1. Marcio, mais uma vez obrigado por me dar um espaço no seu blog. Forte abraço!

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  2. O prazer em compartilhar o seu ponto de vista João Paulo, é todo meu. Muito obrigado por sempre estar aberto a partilhar conosco suas reflexões. Abraços!

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