Todos os finais de ano somos convidados tanto por nossas consciências quanto por pessoas ou circunstâncias à nossa volta, a refletirmos sobre o ano que termina. Procuramos agir em tese (claro, dentro de nossos conceitos), da forma mais correta ou dissimuladamente dentro da qual acreditamos ser a mais correta, e que no fundo são ações manifestadas na mais eminente ignorância, carregada do mais vil e arrogante egoísmo, cínico e hipócrita.
Os votos de 'Feliz Natal' e de 'Próspero Ano Novo', podem ser na maior parte das vezes, ditos de forma até bem intencionada por uma determinada parcela de pessoas. Ou mesmo podem ser providos por pessoas obcecadas pelo sucesso; às quais não medem esforços e nem mesmo respeitam o direito de outras pessoas de também serem bem sucedidas em suas vidas; e que em nome desse sucesso à qualquer custo - desde que esse custo seja sempre para os outros, claro -, acabam desejando felicitações de fim de ano, muito mais em um tom de obediência a regras e convenções sociais, amparadas dentro de um civilismo piegas, cínico e embusteiro, proferido de forma alheatória - ou como se diz vulgarmente: 'da boca para fora' -, do que propriamente algo que representasse em sentimentos puros e verdadeiros o real 'Espírito Natalino'.
Já que é assim, torna-se impossível celebrar um Natal feliz se o ano que se finda não foi próspero, ou não foi produtivo também no sentido harmônico do estímulo às boas relações interpessoais e mais ainda: na escassez de tolerância nas relações intersociais - em que temos na manifestação do desejo público, a explicitude por mais rigor nas penas punitivas por crimes, severamente sempre atribuídos aos mais pobres, (sendo algo que explica o fato de 99% dos encarcerados no País, serem negros, pardos e pobres). E se dentro dessa ausência harmônica nos relacionamentos de alguma forma, não se tenha prejudicado fortes possibilidades de prosperidade econômica do próximo. Afinal não é esse o principal mandamento cristão: "amar ao próximo como a ti mesmo"?
De certa maneira, se não foi um ano produtivo para boa parte dos brasileiros, a isso muito se deve à insistência em um modelo econômico que exclui os pobres (até mesmo em seu áureo direito de acesso ao conhecimento e a instrução); e de todas as benesses que o capitalismo pode oferecer: como um bom padrão de vida proporcionado por um salário plenamente condizente com o esforço que empreendem em seus ofícios.
Caso a maior parte da população seja privada de tudo isso, mesmo em uma situação de quase pleno emprego, como poderia ter um Natal Feliz?
A ainda resiliente, prepotente e arrogante concentração mercadológica e principalmente de renda existente em nosso País - marcada por um ano de atividade econômica propositalmente baixa, e com isso uma consequente e ''desejada'' pressão sobre os preços -, foi a principal responsável por ainda não tornar possível a grande parte dos assalariados, o seu amplo acesso a habitação, saneamento, transporte, saúde e principalmente educação que fossem suficientes para a maioria. Embora apenas uma significativa parcela da população (muito maior que em épocas anteriores), conseguisse um relativo ingresso satisfatório em pelo o menos duas ou mais dessas áreas citadas. Afinal de contas, somos ou não somos, uma economia de mercado?
A população dita esclarecida - "enfurecida" -, tomando proveito da realização de um evento esportivo internacional no Brasil, saiu às ruas para protestar contra a corrupção e contra a "escassez" de todos os serviços públicos básicos oferecidos (e que a maior parte dos manifestantes não necessitam, por disporem de renda suficiente que os fazem independerem de qualquer política pública que diretamente os assista).
A mesma classe média anti-petista, (crítica do Bolsa Família e admiradora recôndita das bolsas de estudo ofertadas pelo governo no exterior), e a qual se viu imbuída em protestar contra toda a ''corrupção'' imputada por ela em seu maior grau de responsabilidade ao governo federal, foi a mesma que torceu o nariz e fez cara feia quando esse mesmo governo determinou que os direitos trabalhistas de seus empregados domésticos, deveriam ser religiosamente respeitados.
É também essa mesma classe média que há quase uma década, tem viajado mais para o exterior contribuindo negativamente para com o sensível agravamento do déficit em transações correntes do País. Somente de janeiro a setembro de 2013, a classe média remeteu para fora do País em serviços e viagens, a singela bagatela de US$ 18,937 bilhões, contra US$ 16,339 bilhões do ano anterior, segundo dados do Banco Central.
Mesmo não dispondo ou não remunerando adequadamente quem diretamente presta serviços à ela para que se torne possível a um empregado dispor (assim como eles), de um plano de saúde, argui o governo pela precariedade na saúde pública (quando nem mesmo fazem uso dela). Criticando inoportunamente por conta disso, a iniciativa do governo na importação de médicos cubanos para prestarem assistência médica em locais que os doutores nativos sempre se recusaram a ir. Portanto se a classe média não contribuiu o suficiente para a prosperidade daqueles que a ela prestam seus serviços para enfim, também poderem dispor de um bom atendimento privado de saúde, a classe méediCA também de sua parte, não se esforçou a contento para tornar a saúde pública um pouco melhor e mais acessível aos menos favorecidos.
No que então estaria inserido o verdadeiro sentimento dos votos de ''Feliz Natal'' e de ''Próspero Ano Novo''!? Eles seriam de fato verdadeiros, ou simplesmente seriam restritos apenas ao de um desejo direcionado aos grupos a que cada indivíduo pertence? Respeitadas as devidas proporções em relação às fronteiras sociais.
Como desejar ''Feliz Natal'', se o ano não foi ''Próspero'' para boa parte das pessoas? E como desejar ''Feliz Natal'', se uma outra parcela significativa da sociedade se omitiu, nunca se esforçou ou mesmo até na maior parte das vezes procurou sempre impedir a prosperidade alheia? Essencialmente a dos mais pobres...
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