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Lições ainda não compreendidas do crash de Nova Iorque

  Hoje é o dia pelo qual ficou conhecido como o estouro da bolha de papéis podres da bolsa novaiorquina em 1929. Algo que teve início mais propriamente no dia 24 de outubro daquele ano, mas que traçou um desfecho trágico no dia 29, quando já não havia mais como conter a onda de falências das companhias que negociavam suas ações nela, terminando com a falência também da própria bolsa.

 A partir daí os Estados Unidos e o mundo entraram numa crise de proporções nunca antes vista e que impactou o Brasil, o qual tinha o grande irmão do norte, como principal parceiro comercial nas exportações de café. E como os Estados Unidos em decorrência da crise, não puderam mais comprar café, o Brasil assim o deixou de vendê-lo.

 Com o excesso dos estoques mundiais de café, o governo brasileiro contraiu empréstimos internacionais, à fim de adquirir um certo volume do grão, visando com isso, a constituição de um estoque regulador. Foi a primeira tentativa de implantação de subsídios agrícolas no Brasil.

 Como essa medida por si só, não foi suficiente, o governo continuou comprando café, mas em vez de estocá-lo, incinerou sacas e toneladas do produto, numa atitude desesperada que tinha por objetivo, manter o preço do café altamente valorizado, como vinha sendo antes do estouro da crise.

 Assim terminava o primeiro ciclo de existência da doutrina econômica pela qual ficou conhecida como liberalismo. Onde a mesma pregava que governos não deviam intervir na economia. Nem mesmo em episódios de crises. 

 Dessa forma o governo americano assistia impassível a crise que assolava empresas, destruía empregos e arruinava famílias.

 Já o governo brasileiro da época, tentava à todo custo salvar a permanência da elevada renda dos cafeicultores, contraindo dívidas para isso e ignorando sistematicamente políticas públicas pelo desenvolvimento nacional em outras frentes, que visasse também com isso, o desenvolvimento social e a distribuição de renda.

 Temos aí, elementos históricos que apontam para a insensibilidade governamental para as causas sociais. Quando muito, são utilizadas como pano de fundo para mais argumentos frágeis pela manutenção de benesses a empresários chorões que usam seus funcionários mal pagos, como desculpa para conseguir mais ajuda do governo em momentos de crises em nome da manutenção dos empregos.

 A crise de 29, ilustrou muito bem isso, até a adoção de políticas públicas de estímulo econômico aliada ao interesse social, pelo fortalecimento de seu mercado consumidor interno, conhecidas como 'New Deal' (Novo Acordo).

 Formuladas  e desenvolvidas por John Maynard Keynes, essas políticas mais tarde, ficariam conhecidas também como Keynesianismo, em alusão ao sucesso obtido no New Deal.

 Contudo, à medida que evoluem as interações entre os agentes econômicos, se torna necessário, formas mais abertas e desprendidas para se sair de uma crise. Assim é o que podemos dizer sobre o Pacto de Moncloa em 1977, costurados durante a crise que assolou a Espanha em decorrência de outra, também de proporções mundiais: a crise do petróleo de 1973.

 Atualmente a Espanha vive um novo choque econômico, mas ao contrário de 1977, o governo tenta decidir sozinho e da 'melhor forma' possível - para os credores espanhóis -, os rumos que pretende tomar em relação a atual crise.

 As variáveis que caracterizam a atual crise mundial, são muito mais semelhantes àquelas predominantes durante os anos 1930, em que percebemos a falência de um modelo de desenvolvimento pautado apenas em contratos de pouco lastro ou pulverizados em derivativos atrelados a um mesmo lastro, o qual se tem por conhecido como 'globalização', mas que está muito mais associado a um novo meio de prática liberal, chamado também de neoliberalismo. (novo-liberalismo). 

 Nesse novo formato de prática liberal, os governos atolados em compromissos com seus credores e em comum acordo com as diretrizes de mercado, tentam neutralizar a atuação de sindicatos, nas negociações sobre demissões nas fábricas espanholas e bem como também, de todo o restante da Europa em crise, agravando ainda mais a situação social dos europeus mais vulneráveis.

 Nesse contexto, voltando a realidade brasileira, observamos que em função da crise, houve um fraco desempenho de nossa economia, que deixou de empregar mais e de remunerar melhor nossos trabalhadores. Onde poderíamos ter com isso, um mercado consumidor mais robusto fruto de um consequente aumento da renda dos brasileiros.

 Teríamos aí, uma aceleração no processo de equalização da renda nacional entre os brasileiros e a acentuação de uma conjuntura de pleno emprego e constante geração de renda. Mas ao invés disso, continuamos a vivenciar um relutante processo inflacionário, que corrói a renda dos mais pobres, agravada com a situação de regressividade tributária existente em nosso país.

 O aprendizado em todas as situações de crise, mesmo depois de tantas como a de 1929, certamente ainda está por vir. E onde talvez, venha a vitimar ainda mais pessoas que tanto naquela época, como hoje, ocorre de uma forma onde muitos se sentem impotentes em meio a tantas formas de se justificar mesmo em meio à falência de um modelo - que em sua gênese concentra renda -, pela retirada de políticas públicas que na Europa, são conhecidas como, Bem-estar social, em nome dos cortes nos gastos públicos, visando o equilíbrio fiscal dos países endividados.    

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