Muitos afirmam, e é categoricamente reafirmada pelo governo, de que está surgindo no Brasil, uma nova Classe Média e tentam demonstrar com isso, através dos números ou pela sua expressividade:
-Cerca de 39 milhões de pessoas, (quase a população da Argentina) ascenderam para essa dita "Nova Classe Média";
-O consumo dessa faixa de renda atingiu R$ 1 trilhão ao ano, (cifra equivalente aos PIB's de Argentina, Paraguai, Uruguai e Portugal juntos).
Mas alguns pontos devem ser esclarecidos em todo esse... oba oba: Na verdade o que existe é uma classe emergente e que por conta da insegurança econômica à qual vive cotidianamente, (com riscos de perda de emprego, ou por serem profissionais liberais prestadores de serviços em setores da economia informal, mais sensíveis) podem ser fator de preocupação, pois acabam consumindo mais do que realmente necessitam, ou mesmo aquilo que nem mesmo de fato, necessitam e consequentemente, com risco de inadimplência maior.
Outros fatores sociais também devem ser levados em conta, pois a expressão 'Nova Classe Média', parece designar um novo segmento de classe no Brasil, para o que seria a Classe 'C' e não condiz com a realidade da Classe Média tradicional.
O professor da UFMG e também sociólogo, Jessé de Souza, exprime bem em seu livro: "Os Batalhadores Brasileiros", onde afirma que na verdade, o que ocorre, é o surgimento de uma nova 'Classe de Trabalhadores', e não o de uma 'Nova Classe Média'.
Segundo ele a Classe Média tradicional se configura como tal, pois está associada à fatores que lhes são peculiares, como:
-Pelo seu acesso privilegiado ao capital cultural - seja ele técnico (advogados, engenheiros, administradores e economistas, etc...),
-Ou mesmo cultural literário (professores, jornalistas e publicitários etc...). Com isso, atrelados entre a remuneração e o prestígio social que esse tipo de trabalho proporciona, pela continuidade de seu padrão de vida.
Num contraponto a esse cenário, o professor Jessé de Souza, se refere à 'Nova Classe Média', como batalhadores, pela ausência de acesso à esse capital cultural e principalmente dos "privilégios de nascimento", e também pelo fator tempo, que assim caracterizam as classes médias e altas e impedem os batalhadores de conseguirem um padrão sustentável de vida por não estarem em condições de igualdade com as classes mais abastadas já que é necessário muito tempo livre, para incorporar o conhecimento técnico, científico ou filosófico-literário.
Os 'batalhadores' - na visão de Jesse de Souza - precisam começar a trabalhar cedo, estudando em escolas públicas de baixa qualidade, que por sua vez, tentam compensar isso com duplas jornadas de trabalho e aceitação de todo o tipo de superexploração de mão-de-obra, já que lhes falta o capital cultural das classes médias e os econômicos da classes altas ou a dita 'Qualificação de Mão-de-Obra'.
Tendo como vantagem principal o tempo e os recursos de herança e de "sangue" - algo aristocrático típicas das nobrezas feudais - a Classe Média detêm uma situação totalmente oposta à dos batalhadores, pois com o tempo livre para fazer o que quizer e dinheiro para investir em cursos de línguas e pós-graduações, chama o próprio sucesso de "mérito individual" e ainda acusa as classes baixas, que não tiveram nenhum acesso a qualquer um desses privilégios sociais, de: Burros, preguiçosos e culpados pelo próprio fracasso.
Por outro lado, a classe trabalhadora, deve superar condições adversas o tempo todo, não lhes restando outra alternativa e superando cotidianamente o peso da própria origem (mais de uma sociedade marcada pelo estígma de nobreza e plebe/herança maldita do Império).
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