Pular para o conteúdo principal

Neoliberalismo: precisamos de uma nova Revolução Francesa?

 A choradeira é geral, mas também não seria por menos, nossa carga tributária é exageradamente exorbitante. Estamos vivenciando uma crise no mundo dito globalizado e a culpa parece ser dos governos que gastam muito com a qualidade de vida de suas populações. A necessidade premente agora é 'fazer ajustes fiscais', 'apertar o cinto' dos gastos de governo, principalmente, sociais.


 Na França de Luís XVI o Estado era pesado com gastos e mais gastos com o luxo da corte. A aristocracia parecia não ter limites para suas vaidades às custas dos impostos cobrados da plebe. Hoje temos uma nova classe de aristocratas, o setor financeiro mundial que vive basicamente dos juros da rolagem das dívidas dos países em desenvolvimento e também ao que parece, de países ricos.

 O Brasil como menino bonzinho, cumpridor de seus compromissos repassa ao mercado financeiro boa parte de seus recursos arrecadados através dos impostos à esse setor da economia que nada produz, não gera empregos e renda para mais ninguém [a não ser para ele mesmo]. Nossa dívida pública reflete bem essa situação que gera empobrecimento em massa da população e retarda muito o processo de distribuição de renda em curso no País nos últimos anos.

Veja o gráfico dos gastos do governo com os serviços da dívida:

 Recentemente com o debate sobre o aumento do teto máximo de endividamento dos Estados Unidos, percebeu-se que o problema do endividamento não afeta tão somente os países pobres ou em desenvolvimento. O regime neoliberal de Estado mínimo para o social e máximo para o setor financeiro, também tem seu custo; com o agravante do custo social indexado. A onda de revoltas de jovens em Londres nos últimos dias reflete bem o que se pretende expor aqui.

 Tratados como baderneiros "niilistas" tentam fazer uma revolução - não pela ideologia clássica dos pensadores socialistas -, mas sim, por estarem cansados de serem preteridos na sociedade em que vivem. O aparelho de Estado, neste caso, se mostra muito eficiente no combate aos chamados: "vândalos" pela imprensa e pelas próprias autoridades.

 Tudo isso, afeta de sobremaneira a qualidade de vida das pessoas; e quanto mais pobre o país, mais afetada é a sua população; maiores são o desemprego e a insegurança econômica das famílias.

 O Brasil, que tem uma estrutura tributária altamente regressiva - onde os mais pobres, pagam mais impostos (proporcionalmente), do que os ricos -, e toda essa carga tributária é repassada no consumo das famílias e não sobre a renda dos mais ricos. Tudo isso tem sido um dos principais mecanismos de concentração de renda ou de retardamento de nossa ainda lenta distribuição renda da qual vem ocorrendo.

 A classe média, que vive reclamando da carga tributária, se comporta como se fosse impotente frente à montanha de impostos que paga indiretamente nos serviços que consome e aos quais pode desfrutar e que a maioria da população é ainda desprovida de acesso como: uma escola de qualidade, um sistema de saúde privado por meio de um bom plano de cobertura ou ainda a privacidade de poder morar em um condomínio fechado dotado de toda a infraestrutura de segurança possível. Sem falar em seus carros seminovos e na possibilidade de viagens ao exterior; tudo isso faz a classe média reivindicar o "direito" de mostrar e ser a mais indignada e se fazer a maior vítima de todas, em relação às demais classes dentro do perverso sistema de cobrança de impostos do nosso país, o qual sustenta o sistema financeiro mundial. 

 Dessa forma, a classe média tradicional - e não a "nova classe média" (como são chamados os recém saídos da situação de pobreza) - faz de seus protestos por meio de comentários nas redes sociais de internet, o seu principal meio para demonstrarem sua insatisfação; se utilizando também de expressões preconceituosas contra os pobres que recebem auxílio de renda do governo. Auxílio esse, que é financiado quase todo, pelos próprios "beneficiados", já que os impostos sobre o consumo incidente na compra de alimentos, metade deles, é cobrado no ato da aquisição dos mesmos nos comércios locais. 

 CONTROLE DA INFLAÇÃO

 As medidas do Banco Central do Brasil, no combate à inflação, têm se mostrado pouco eficientes, contraditórias e equivocadas quanto à sua efetividade, é o que demonstra estudos da ONG Auditoria Cidadã da Dívida. Abaixo trechos desses estudos que comprovam que a qualidade dos serviços públicos fica comprometida em sua maior parte, devido o pagamento dos serviços da dívida pública nacional. Confira:

  A teoria ortodoxa que defende a elevação da taxa de juros como remédio para controlar a inflação se aplicaria somente quando a alta de preços decorresse de excesso de demanda. Em tese, a elevação dos juros tentaria dificultar o consumo e frear a demanda, buscando conter a subida de preços provocada pelo excesso de procura dos produtos e serviços.

 Essa teoria não é unânime, pois, mesmo diante de processo inflacionário causado por excesso de demanda, a solução recomendável não seria a elevação dos juros, pois essa alta provoca aumento dos custos financeiros das empresas, que são repassados aos preços dos produtos. Além disso, juros altos provocam a queda dos investimentos de longo prazo em novas plantas produtivas. Isso reduz a oferta futura de produtos e serviços, dando margem a leituras equivocadas de que a demanda estaria mais alta que a oferta, o que justificaria novas elevações de juros em um círculo vicioso e danoso para a economia.

As operações de mercado aberto

 Desde a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), o Banco Central ficou proibido de emitir títulos da dívida brasileira, o que é feito exclusivamente pelo Tesouro Nacional. Na prática, essa proibição não tem valor, pois o Tesouro emite títulos e os entrega ao Banco Central, sem qualquer contrapartida ou limite, para que aquela autarquia exerça a política monetária.

 A justificativa para essa prática, que dribla a LRF, é, mais uma vez, a necessidade de o Banco Central “enxugar” o excesso de moeda em circulação, tendo em vista que isso pode provocar inflação.

 O volume dessas operações de mercado aberto já ultrapassa a cifra dos R$ 500 bilhões, e estatísticas oficiais costumam não incluir esse valor no saldo da dívida, com a justificativa de que seriam títulos da dívida em poder do Banco Central. Isso não corresponde à realidade, pois tais títulos são entregues aos bancos em troca do “excesso de moeda” nacional ou estrangeira e fazem parte dos compromissos assumidos pela República.

 O Banco Central acompanha o volume das reservas bancárias – principalmente depósitos e saldos de caixa – dos bancos e das instituições financeiras instaladas no país. Se esse volume supera determinado patamar, entende-se que há excesso de moeda em circulação que precisa ser enxugado a fim de evitar o risco inflacionário. Para diminuir esse excesso, o Banco Central realiza as chamadas operações de mercado aberto, entregando títulos da dívida aos bancos e ficando com a moeda excedente, que ultimamente pode ser representada por montanhas diárias de dólares que vêm para o país em busca do negócio mais generoso do mundo: troca de dólares por títulos da dívida brasileira. [texto extraído do artigo de Maria Lúcia Fattorelli: "A Inflação e a Dívida Pública"]. 

 Justificados pelo "Regime de Metas de Inflação" o BC, tenta "enxugar" o excesso de dólares no mercado doméstico ao passo que repassa essas quantias à Reservas Internacionais, orçadas atualmente próximo de 350 bilhões de dólares, mas que por sua vez, desencadeia um custo enorme ao país, em nome, sabe-se lá do quê, ou apenas para demonstrar ao mercado uma certa "blindagem", contra crises. De onde? Do Setor financeiro. É claro!

 Conforme citado anteriormente, esse mecanismo tem sido um dos principais responsáveis pelo enorme prejuízo operacional do Banco Central – R$ 147 bilhões em 2009 e R$ 50 bilhões em 2010 –, que é repassado para o Tesouro Nacional e pago com recursos do orçamento que deixam de ser destinados ao atendimento de necessidades urgentes do povo brasileiro, ou pago mediante a emissão de mais títulos da dívida pública.

 1  Dados do IBGE sobre a inflação de janeiro a abril de 2011 comprovam que 73% da inflação verificada no período e medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi causada por problemas de oferta de alimentos ou por preços administrados pelo próprio governo. Na expressiva parcela de 73% está considerada a variação dos preços de alimentação, taxa de água e esgoto, transporte público, combustíveis de veículos, educação, plano de saúde, energia elétrica, telefonia, serviço bancário. Interessante observar que até mesmo o setor bancário – que mais se beneficia com a elevação da Selic, pois é aquele que detém a maior parte dos títulos da dívida – promoveu a elevação de suas tarifas em 5,46% no período, número muito acima da média geral da inflação estabelecida, de 3,23%. Tal fato denota a contradição entre o discurso e a prática do referido setor.

 Maria Lucia Fattorelli é graduada em Administração e Ciências Contábeis. Auditora Fiscal da Receita Federal desde 1982, é coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida e membro do CAIC (Comisión para la Auditoría Integral de Crédito Público) criada pelo Presidente Rafael Correa em 2007.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rio Verde moderna

 Dando seqüência ao último post, em comemoração ao aniversário de 164 anos de Rio Verde, no próximo dia 05 de agosto, vamos iniciar de onde paramos: a década de 1960, quando relatei que a cidade enfim, inebriava-se num breve período onde a dupla Mauro Borges (governador do Estado) e Paulo Campos (prefeito), inaugurava uma fase onde o centro de Rio Verde passava por sua modernização.   Ruas de terra ou calçadas com paralelepípedo em basalto davam lugar ao asfalto. O paralelepípedo teve uma outra destinação, e foi usado como guias de sarjetas das novas ruas recém-pavimentadas.  Os postes que sustentavam a rede de energia elétrica de aroeira, deram lugar a modernos postes de concreto e uma iluminação pública mais potente ganhava as ruas da cidade. Tudo da energia provida de Cachoeira Dourada.  Conta-se que a primeira rua a ser pavimentada foi a Rua João Belo, (atualmente, Rua São Sebastião no centro antigo de Rio Verde). E o asfalto ficou tão bom, que a necessidade de recapeamen

Um nome estranho; um bairro que nasceu para ser "setor"

Para quem já se 'cansou' de ler sobre a história do nosso município que nesse finalzinho de agosto -celebra seu mês de aniversário-, deve portanto saber, que a chamada "arrancada para o desenvolvimento" de Rio Verde, se deu a partir dos anos 1970.  O certo, é que a cidade seguiu o ritmo do tal "milagre econômico" dos governos militares daquela época. Mas sem dúvida, o que foi determinante em tudo isso, se deu com a fundação da Comigo, no ano de 1975.  Desde o final da década até o início dos anos 1980 porém, a expansão urbana de Rio Verde também sofreu um elevado aumento, sendo que essa situação provocou o surgimento de bairros cuja a única infraestrutura disponível, se deu somente na abertura de ruas e o traçado das quadras.  A especulação imobiliária por parte dos herdeiros de propriedades antes rurais, que margeavam os limites urbanos da cidade, abriu espaço para bairros onde atualmente se verifica sobretudo, a apertura das ruas, em que muitas delas nã

Globalismo Vs nacionalismo e o futuro da humanidade

O mundo sempre viveu conflitos entre interesses privados e coletivos; mas apesar de ser um termo novo o globalismo por sua vez, teve papel preponderante nisso, logicamente adaptado aos contextos de suas épocas.  Antes, na antiguidade, as primeiras civilizações já eram globais e dominavam outras, pela força. Não que hoje os métodos de dominação tenham mudado, porém para isso, se tornaram mais sutis, e não menos violentos.  Desse modo, a sensação de violência sofrida é que pode demorar algum tempo para ser sentida; o que não ocorre de maneira uniforme por todas as populações subjugadas.  Sem falar na corrupção, a maior aliada dos dominadores contra os subjugados. Assim, pessoas do lado dos oprimidos, se veem partidárias de seus opressores, em nome de possíveis vantagens pessoais adquiridas. Alexandre, o primeiro grande conquistador, certamente de modo involuntário, foi o primeiro a difundir o globalismo, através de seus exércitos. Porém, conforme diz sua história, ele teria chorado por n