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A quem interessa o desmonte do ensino público noturno?

 O Brasil tem fama entre os próprios brasileiros, reconhecido também mundo afora, por dotar suas crianças e jovens de um dos piores sistemas de ensino do mundo; com o agravante ainda, quando em nome de propostas e discursos que visam a suposta melhoria da educação pública, se pregar a precarização do acesso dele aos mais carentes, na justificativa de algo que beneficiaria apenas um seleto e reduzido grupo, em detrimento de uma grande massa de estudantes pobres. 

 Uma proposta em torno da militarização de um dos colégios públicos estaduais mais tradicionais de Rio Verde, deveria ser razão de preocupação tanto para pais de alunos, quanto para os próprios jovens - cada vez mais cobrados pelo mercado de trabalho e a sociedade de maneira geral, em função da tão propalada qualificação à qual passa pela grade curricular do ensino público normal -, no entanto, há um completo e inquietante silêncio em torno desta questão. 

 O Colégio João Veloso do Carmo, o qual este blogueiro cursou o ''falecido'' curso técnico de Contabilidade do 2º Grau, agora tem ameaçada a continuidade do ensino médio noturno em função da possibilidade de o referido colégio, vir a tornar sua grade curricular pedagógica amparada em parâmetros militares. Tudo porque o projeto que torna o também conhecido "Gigantão", colégio militar, prever o fim da ministração de aulas aos discentes da instituição no período noturno, o que virá a prejudicar centenas de jovens da região centro-leste de Rio Verde. 

 Infelizmente ainda, os pobres os quais serão os mais prejudicados, não têm se manifestado - por talvez, desconhecerem essa parte do projeto ou mesmo ainda, sua integralidade; muito menos professores, que por sua vez, só mostram suas caras em protestos grevistas, na hora de brigarem por aumentos em seus próprios salários, mas muito pouco porém, pela melhoria e democratização do ensino público em nosso país (pelo menos, uma significativa parcela da classe magisterial, se comporta assim).

 O assunto é muito pouco discutido na imprensa local, uma vez que só se menciona a noticiação do fato em si, mas não um debate claro e sucinto sobre os possíveis impactos desta medida em torno do fim do ensino médio noturno do Gigantão. Certamente, uma situação que evidencia a parcimônia democrática de uma pauta à qual deveria ser discutida em plebiscito. Dessa maneira, a ausência deste costume na democracia brasileira, é algo que propala o hábito arbitrário da imposição de medidas de cima para baixo, sem com isso, que a população seja ouvida.


Quadra à qual se encontra o terreno pertencente ao Colégio Estadual João Veloso do Carmo (Gigantão); calçadas em terra batida e alambrados rompidos, se tornaram a marca de décadas de abandono do local. Proposta porém, de "elevar" a unidade de ensino a colégio militar, não contempla construção de novas salas, com isso alunos veteranos do Gigantão, terão de saírem do colégio e procurar outros lugares, se quiserem concluir os estudos de forma gratuita. 

 O Colégio João Veloso do Carmo, o qual homenageia uma distinta personalidade de um dos mais importantes clãs políticos do baronato rio-verdense, foi inaugurado em 1974, com a presença do então governador de Goiás, Leonino di Ramos Caiado, se fazendo o marco de um novo padrão arquitetônico adotado para instituições de ensino público regulares do estado, para aquela época. O colégio também é conhecido como "Gigantão", por ser dotado de um quarteirão inteiro, sendo apenas 40% dele com área construída. 

 Sua localização se encontra na delimitação dos limites entre dois importantes bairros de Rio Verde: o Jardim Goiás e o Popular, margeando o traçado da Avenida João Belo; sendo perfeitamente incompreensível e questionável se preferir mudar todo o padrão pedagógico de ensino do colégio, que reduzirá o número de alunos atendidos, se na própria quadra na qual se encontra, existe uma área livre do terreno, repleto de mato e terra batida, em que se encontra também, o mini-ginásio para atividades de Educação Física dos alunos. 

 No terreno livre ao lado da área construída do João Veloso do Carmo, poderia perfeitamente ser construída, uma nova, ampla e moderna unidade escolar distinta, sem prejuízo portanto, aos alunos veteranos da unidade escolar estadual.

 Apesar de serem públicos, para que os respectivos pais possam matricular seus filhos nos colégios militares estaduais, é preciso que o candidato passe por toda uma triagem por meio de prova como critério de acesso, em que o aluno deve atingir uma determinada pontuação para ser aceito na instituição. Além do mais, existe ainda a cobrança de mensalidades, mais custos com fardamento e demais uniformes; o que de certa maneira inviabiliza a admissão de alunos provenientes de famílias pobres do raio de atendimento do Gigantão.

 Infelizmente tanto pais, quanto os próprios alunos veteranos do João Veloso do Carmo, tendem a aceitar passivamente a situação, em vez de partirem para a contestação e o protesto, contra o fato de serem simplesmente obrigados a procurar outras unidades de ensino próximas, e assim cederem o espaço que ora ocupam no colégio (de forma pacífica e conformada), para pessoas que podem pagar por um conceito diferenciado de escola pública, por em tese, ser considerado mais rigoroso e por essa razão, ser associado a um padrão visto como de melhor qualidade. 

 É preciso por isso, um sistema de educação que liberte as pessoas de padrões rigorosos de ensino, os quais apenas adestram seres humanos a "pensarem" (obedecer), conforme ditames ideológicos conservadores de direita; um sistema em que se ensine a pensar dentro da filosofia "ver, julgar, agir e celebrar"; já que cidadania é incomodar e romper padrões de rigidez extrema, os quais possui como único meio, a forma de fabricar pseudo-cidadãos moldados de acordo com a rigidez militarista, segundo o poder de posse de suas famílias; tudo dentro de parâmetros meritocráticos, e não democráticos.

 Ou alguém duvida que aqueles que pregam a volta do regime militar, se preocupam com democracia?   

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