Três pobres pescadores no Brasil, dois ou três humildes pastorinhos (La Salete, na França e Fátima, Portugal); ou um homem simples e de coração puro como Juan Diego no México, essas são as características natas de personalidade, procuradas pela Virgem Maria (Mãe de Jesus Cristo), quando se revela em suas aparições. Mas no caso do Brasil, há diferenças nesse sentido, em duas situações distintas em que não houve propriamente 'aparições' de Maria, mas achados de imagens sacras atribuídas à sua pessoa, que foram reconhecidas com poderes místicos.
O achado de Aparecida, em São Paulo, e o Círio de Nazaré, no Pará, esboçam uma forma diferente de manifestação mariana, da maior parte do restante do mundo, num Brasil até então dividido em apenas sete grandes territórios autônomos (mas todos sob domínio português), entre histórias curiosas, fortes e até mesmo emocionantes, de relatos de milagres que somente a fé pode explicar (ou não); já que a fé é contemplativa, para ser vivida e não para ser compreendida. Mas a devoção à Virgem Maria, é uma característica de sobremaneira latina, tanto na Europa quando na América.
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Imagem de Nossa Senhora de
Montserrat exposta no templo
dedicado a sua devoção na ci-
dade de Barcelona, no territó-
rio autônomo da Catalunha, na
Espanha (Foto: Wikipedia).
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Já a tentativa eslava em Medjugorje, na Bósnia e Herzegovina dos anos 1980, reúne elementos que mais se aproximam de uma fraude, do que propriamente, o de uma aparição mariana, que porém ainda está sob investigação do Vaticano - embora seja um caso visto com bastante desinteresse pela Santa Sé e praticamente dado por encerrado -, está longe portanto, do que se evidencia das demais histórias de aparições ou achados de imagens sacras atribuídas à Virgem Maria, pela América e Europa latinas.
A Virgem Maria é a padroeira de praticamente todos os países latino-americanos: no México (Guadalupe), no Brasil (Aparecida), na Bolívia (Copacabana), no Chile (Carmo), no Peru (Mercês) e por aí vai... ; mas no Brasil, há duas grandes celebrações marianas que denotam peculiaridades entre suas coexistências. O Círio de Nazaré no Pará e a celebração de Aparecida no restante do país, parecem entrever o que indica evidenciar uma rivalidade geográfica da fé na Santa Virgem.
A devoção ao Círio em Belém do Pará, recebe contornos ainda mais significativos quando romeiros que para lá acorrem, procuram bater recordes de público ano após ano - como se com isso, quisessem fazer da festa católica mariana nortista, de maior proporção que a de Aparecida -, por também se dar em outubro e praticamente suas celebrações ocorrerem em quase todo o décimo mês do ano. O que de há fato nessas coincidências celebrativas regionais, em torno da devoção marista, se deve à fé do povo paraense à qual indica evidências de querer se distinguir da do restante do Brasil.
E se o "o Sul é o país" de uma certa parcela da população insatisfeita (xenófoba), a ausência de uma entidade de veneração mariana, indica que os sulistas não parecem que irão amealhar o sucesso pretendido da empreitada separatista por conta do detalhe devocional que indique a legitimidade celestial concedida por uma padroeira a esse fim.
Nossa Senhora Aparecida também é padroeira de boa parte das cidades dos três estados que ensaiam a aventura da secessão sulista - sem dispararem um único tiro -, e Ela (a Santa), está presente em todas elas, como forma de garantir a unidade territorial daquela parte do Brasil, com a União. Já pelas bandas do Norte, o Pará parece reunir a principal condição para a esse objetivo, no entanto, sem tal ambição de independência; o que restou do antigo território da capitania do Grão-Pará, se dá na briga para manter unido o estado e impedir que se desmembre em outros dois (Tapajós e Carajás).
Nossa Senhora Aparecida também é padroeira de boa parte das cidades dos três estados que ensaiam a aventura da secessão sulista - sem dispararem um único tiro -, e Ela (a Santa), está presente em todas elas, como forma de garantir a unidade territorial daquela parte do Brasil, com a União. Já pelas bandas do Norte, o Pará parece reunir a principal condição para a esse objetivo, no entanto, sem tal ambição de independência; o que restou do antigo território da capitania do Grão-Pará, se dá na briga para manter unido o estado e impedir que se desmembre em outros dois (Tapajós e Carajás).
Numa das matérias dedicadas aos 300 anos de aparição marista no país, o jornal Folha de S. Paulo desta quinta (12), enumerou que dentre um dos possíveis milagres atribuídos a Nossa Senhora Aparecida, se deve exatamente a independência do Brasil, há exatos 15 dias após Pedro 1º, visitar o santuário dedicado a Santa; e uma das maiores preocupações de dom Pedro, assim como de seu fiel escudeiro: José Bonifácio de Andrada, era justamente a preservação da integralidade territorial brasileira, à qual viveu ameaçada durante praticamente todo o primeiro reinado e o período das regências.
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Configuração territorial brasileira do século XVIII, com a Capitania de São
Paulo, abrangendo pouco mais de 70% do território da então colônia portu-
guesa (Foto: Wikipedia).
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Enquanto atualmente, a Catalunha "busca refúgio" em Nossa Senhora de Montserrat (tão negra quanto Aparecida), em seu propósito de independência da Espanha, no Brasil, a ação da Virgem Mãe de Deus, parece se dar exatamente de forma totalmente inversa, manifestada na história, em todas as vezes que os Orleans e Bragança precisaram de sua intercessão para manter intacta a integridade do território brasileiro.
Com a República, o presidente mineiro Artur Bernardes, instituiu o 12 de outubro como o Dia da Criança em coincidência com a celebração informal a data ainda não oficializada dedicada à padroeira; coube a Getúlio Vargas a sagração governamental do feriado oficial ao dedicado Dia da Padroeira nacional; Juscelino Kubitschek, consagrou o sucesso de seu governo à Senhora de Aparecida e também, a cidade fundada por ele, enquanto presidente. João Figueiredo, o último general presidente, recebeu João Paulo 2º e inaugurou a basílica nacional em Aparecida, São Paulo, ao lado do papa.
Existem ainda, relatos não confirmados de que a imagem sacra acomodada no gabinete presidencial do Palácio do Planalto, já teria atendido a súplicas de um presidente desesperado (e ateu), ao perceber todo um trabalho feito, posto em risco e descrédito.
A Virgem de Aparecida, pode parecer menor (até mesmo por sua negritude), mas sua devoção sempre se estendeu pela maior vastidão territorial brasileira, desde o seu encontro miraculoso em 1717, quando a capitania de São Paulo, abrangia a totalidade dos atuais estados que ficam geograficamente localizados na região central do mapa brasileiro. Nossa Senhora Aparecida parece incumbida em não apenas proteger o Brasil, como também manter o país unido e impedir que se esfacele em mini-republiquetas fragilizadas, sem voz e força diplomática no mundo.
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Catedral Metropolitana de Brasília, que
também é dedicada a Nossa Senhora
Aparecida, só foi concluída em 1970.
Dez anos após a inauguração da nova
capital do Brasil (Foto: Governo
Federal).
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E o presidente que a construiu, além de ser devoto pessoal da Santa, fez questão de enfatiza-la, de modo que também a tornou padroeira da nova capital, na qual se manifesta na catedral "candanga" - que em sua hermenêutica etimológica no gênero feminino significa: feia, mal vestida, sem estudos -, configurada em um templo de linhas curvas desenhadas por um arquiteto comunista e descrente.
Juscelino Kubitschek, doou ainda a construção da torre da Basílica Nacional, à qual ficou denominada por "Brasília". E talvez por essa razão, Maria negra, parece estar com um pé em Aparecida (SP), e Brasília, de onde pode observar seus filhos pelo país inteiro.
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