Pular para o conteúdo principal

Porque refundar a República

 Um jovem de 16 anos, filho de uma amiga, participou de um concurso nacional do Ministério da Educação (MEC), sobre sugestões dadas por estudantes da idade dele, em torno de propostas para a melhoria do ensino público no país. Não se sabe se esse concurso apenas coincide com as propostas em tramitação de reforma do ensino médio, ou se de fato teria alguma relação direta. Porém o que chama a atenção foram os desdobramentos para que a proposta do jovem rio-verdense não fosse a contemplada dentre a vencedora. 

 Um possível "erro" na informatização do sistema do MEC pode ter prejudicado sua proposta, que até as 23 horas de segunda-feira (05) da última semana, era disparada a vencedora e que após o encerramento das votações à meia-noite, perdeu por apenas dois votos. Embora de acordo com o site do concurso, os votos ainda estejam em auditoria e o resultado oficial só seja confirmado na próxima quinta (17). 

 A impossibilidade para que alguns votantes de Goiás pudessem eleger a proposta sugestionada pelo estudante de Rio Verde após as 23 horas, certamente afetou no resultado. Algo que denota certa preocupação uma vez que a proposta do jovem, se deu na implementação de novas disciplinas em torno do ensino de política, não somente nas escolas públicas brasileiras, como também de todo o Mercosul. 

 Fica clara portanto a razão pela qual o suposto erro no sistema de votação do MEC, que se encerrou às 23 horas em algumas partes de Goiás, mas continuou para o restante do país, até o seu encerramento a meia-noite, como previsto no regulamento do concurso, acabou afetando no resultado parcial do mesmo, não sendo possível que a proposta do jovem mencionado se fizesse a vencedora. 

 Algo que denota o choque de interesses da elite dominante do país, uma vez que a reforma proposta pelo governo golpista é a de se retirar disciplinas consideradas 'subversivas' do ponto de vista para o desenvolvimento crítico dos alunos e que por fim conseguisse por isso, descaracterizar o que muitos expoentes da direita entendem como, 'escola sem partido'. 

 Tudo isso se manifesta na preocupação em se afastar os jovens ou mesmo a população de uma forma geral, de debates em torno de algo que evoluísse para novas experiências político/institucionais por exemplo, que por sua vez, contribui sensivelmente para com a preservação do status quo da política nacional.     

 São manobras sutis e rasteiras como esta, que se configuram na dificuldade de se reinventar a República brasileira, que entre golpes e contragolpes, caminha aos trancos e barrancos, se apoiando em uma direita radicalmente intolerante e que não admite em hipótese alguma, se abdicar por mínimo que seja de alguns de seus privilégios. 

 O registro de fatos históricos como o 15 de Novembro por sua vez, deve não apenas relatar o que se passou, como também buscar a reflexão a posteriori das razões que nos levam ao escopo de uma República como a nossa, que não passa de uma silhueta, ou de um protótipo institucional.

 Do resultado que temos hoje, fruto de uma República moldada segundo interesses de meia dúzia de cafeicultores revanchistas, putos com o imperador por ter atendido a uma determinação de outra monarquia extremamente poderosa da época e que também atendia aos interesses dos grupos econômicos servidos por essa mesma monarquia estrangeira, então dominante.  

 A escola sem senso crítico defendida com a reforma do ensino médio pelo governo de ultra direita de Michel Temer nada mais busca intimidar a reflexão que compreendesse que por trás do fracasso proposital iminente de nossas instituições, estão privilégios sustentados por um pacto, nada republicano, e sim, meramente aristocrata, em que 'uma mão lava a outra; e as duas, o rosto'.

 Dessa forma os interesses dos agentes de Estado, se confundem aos de agentes privados onde se entende, não o capitalismo liberal que se prega, mas a uma prefiguração do Estado social que só atende minimamente apenas aos ricos. Assim, o desinteresse por reformas que viessem a dar plena efetividade aos mecanismos institucionais de Estado, permeiam entre puxadinhos constitucionais que giram ao redor de expressões melodramáticas, como se 'cortar na própria carne' em torno de propostas como a PEC 55.

 Quando se busca por isso, o amadurecimento dos debates em torno da melhor saída para o aperfeiçoamento institucional de nossa República, logo se manifestam aqueles que acreditam ser a escola o meio menos apropriado para isso, ao buscarem a extinção de disciplinas que estimulam o pensamento e o senso crítico.

 Certamente por isso, entenderia-se que o presidencialismo adotado no Brasil, inspirado nos Estados Unidos e que já não funciona lá, muito menos aqui, não seja por essa razão, a resposta que justifica aos 'saudosistas', o restabelecimento da monarquia; que também sofreu as adaptações necessárias no Brasil, para não ser como qualquer monarquia europeia moderna que se preze, que se caracterizam em sua forma, como mais republicanas que a nossa própria República.

Parabéns ao jovem Gleyson Souza da Costa, não por somente representar a nós, mas por também representar um projeto de País. 

 Toda essa confusão se mescla a uma miscelânea de conceitos que se encerram somente na figura concentradora do chefe de Estado e na forma de governo, quando a complexidade da divisão dos poderes ou da divisão das figuras de chefia de Estado e de governo, são por isso ignoradas. O brasileiro por essa razão, tolhido de uma instrução política que lhe desse discernimento dessas peculiaridades institucionais, acaba adotando o discurso monocrático simplista que o senso comum lhe instiga a convergir.

 Observando a natureza golpista deste governo, não é mesmo surpresa alguma, que um erro no sistema de computação de votos em torno do concurso regional do MEC para o Parlamento Juvenil do Mercosul, tivesse os resultados comprometidos, tão somente por conta da proposta de um dos jovens, se dar exatamente em torno do ensino da política, como ciência didática, e que fosse enfim, adotado nas escolas de todo o bloco.

 É realmente uma pena quando não podemos adotar nossos jovens, por termos uma sociedade doente que só os desestimula em função da preservação dos interesses da classe dominante, enquanto que: se parte deles, se embrenha pelos caminhos 'fáceis' da vida infratora, cinicamente aparecem aqueles que sugerem a adoção dos mesmos, por tão somente se confrontar com outros, que nada mais se preocupam, do que com o futuro juvenil da Nação.

 Após auditoria efetuada na totalização dos votos do concurso, a proposta do jovem Gleyson Souza da Costa de Rio Verde, acabou sendo a vencedora. Agora só resta a comunidade acadêmica, magisterial, pais e a sociedade de uma forma geral, cobrar a implementação de novas disciplinas relacionadas ao ensino de política nas escolas públicas brasileiras e nas demais, dos países membros do Mercosul. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rio Verde moderna

 Dando seqüência ao último post, em comemoração ao aniversário de 164 anos de Rio Verde, no próximo dia 05 de agosto, vamos iniciar de onde paramos: a década de 1960, quando relatei que a cidade enfim, inebriava-se num breve período onde a dupla Mauro Borges (governador do Estado) e Paulo Campos (prefeito), inaugurava uma fase onde o centro de Rio Verde passava por sua modernização.   Ruas de terra ou calçadas com paralelepípedo em basalto davam lugar ao asfalto. O paralelepípedo teve uma outra destinação, e foi usado como guias de sarjetas das novas ruas recém-pavimentadas.  Os postes que sustentavam a rede de energia elétrica de aroeira, deram lugar a modernos postes de concreto e uma iluminação pública mais potente ganhava as ruas da cidade. Tudo da energia provida de Cachoeira Dourada.  Conta-se que a primeira rua a ser pavimentada foi a Rua João Belo, (atualmente, Rua São Sebastião no centro antigo de Rio Verde). E o asfalto ficou tão bom, que a necessidade de recapeamen

Um nome estranho; um bairro que nasceu para ser "setor"

Para quem já se 'cansou' de ler sobre a história do nosso município que nesse finalzinho de agosto -celebra seu mês de aniversário-, deve portanto saber, que a chamada "arrancada para o desenvolvimento" de Rio Verde, se deu a partir dos anos 1970.  O certo, é que a cidade seguiu o ritmo do tal "milagre econômico" dos governos militares daquela época. Mas sem dúvida, o que foi determinante em tudo isso, se deu com a fundação da Comigo, no ano de 1975.  Desde o final da década até o início dos anos 1980 porém, a expansão urbana de Rio Verde também sofreu um elevado aumento, sendo que essa situação provocou o surgimento de bairros cuja a única infraestrutura disponível, se deu somente na abertura de ruas e o traçado das quadras.  A especulação imobiliária por parte dos herdeiros de propriedades antes rurais, que margeavam os limites urbanos da cidade, abriu espaço para bairros onde atualmente se verifica sobretudo, a apertura das ruas, em que muitas delas nã

Globalismo Vs nacionalismo e o futuro da humanidade

O mundo sempre viveu conflitos entre interesses privados e coletivos; mas apesar de ser um termo novo o globalismo por sua vez, teve papel preponderante nisso, logicamente adaptado aos contextos de suas épocas.  Antes, na antiguidade, as primeiras civilizações já eram globais e dominavam outras, pela força. Não que hoje os métodos de dominação tenham mudado, porém para isso, se tornaram mais sutis, e não menos violentos.  Desse modo, a sensação de violência sofrida é que pode demorar algum tempo para ser sentida; o que não ocorre de maneira uniforme por todas as populações subjugadas.  Sem falar na corrupção, a maior aliada dos dominadores contra os subjugados. Assim, pessoas do lado dos oprimidos, se veem partidárias de seus opressores, em nome de possíveis vantagens pessoais adquiridas. Alexandre, o primeiro grande conquistador, certamente de modo involuntário, foi o primeiro a difundir o globalismo, através de seus exércitos. Porém, conforme diz sua história, ele teria chorado por n