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Tributação estadual e crise de representatividade



 O debate que vez ou outra, encontra algum eco na sociedade rio-verdense, promete mais uma vez ser razão para que os atuais pré-candidatos e possíveis candidatos posteriores a prefeito, se esquivem de tão indigesto tema, quando o assunto é cobrar das autoridades estaduais, a atenção necessária a tópicos que mexem com o dia a dia do cidadão e que estão diretamente ligados a atribuições do governo de Goiás em Rio Verde. O município que é disparado o campeão na arrecadação de impostos estaduais em toda a porção sul de Goiás, está longe de ser prioridade no atendimento de suas demandas frente ao governo estadual. 


 Do Araguaia ao São Marcos, observando também os contornos de divisa do Aporé e do Paranaíba, não há outra cidade nestas paragens goianas, que contribua mais ao governo de Goiás, do que Rio Verde. Há aproximadamente trinta anos, que o município figura entre a terceira ou a quarta colocação, dentre os maiores remetedores de impostos ao governo de Goiás. No entanto, quando o assunto se dá no devido retorno disso por meio de investimentos do governo estadual por aqui, aí a coisa fica bastante complicada. 

 Para não haver completa inoperância de órgãos estaduais ou mesmo dos serviços prestados pelo governo de Goiás no município, a prefeitura de Rio Verde se vê obrigada a assumir o ônus de despesas correntes, que por pura ausência de traquejo político da parte de representantes rio-verdenses junto ao governador do estado, gera prejuízo ao erário público municipal, enquanto o que o governo de Goiás economiza por aqui, é usado para beneficiar outras cidades como a capital e região metropolitana. 

 É visível o constrangimento político pelo qual passam os representantes locais do governador Marconi Perillo (PSDB), por aqui, quando posam para fotos ao lado dele, na ocasião do anúncio de obras que quase nunca se concretizam ou nem mesmo se iniciam. A rodovia GO-174 que liga Rio Verde a Montividiu é um dos fiascos que os deputados, estadual e federal (que também se apresentam como pré-candidatos a prefeito), são obrigados a suportar em meio a tantas promessas de início das obras de recuperação da estrada, que nunca se realizam. 


 Contudo, se o único problema relacionado ao modal rodoviário fosse apenas essa parte da referida rodovia, seria o menor dos problemas da região. Isso porque se outro trecho da mesma GO-174 até a divisa com o estado do Mato Grosso do Sul, já fosse asfaltado, seguramente não teria comprometido tanto a situação da rodovia estadual GO-206, entre Caçu e Itarumã, que está intransitável e já foi objeto até de uma interdição parcial da Justiça, em razão de suas péssimas condições (por ter sido até então, a única via asfaltada que dava acesso direto ao oeste paulista). 


 Isso evidencia que o problema vai muito além de uma mera ausência de boa vontade política no atendimento de demandas pontuais próprias de Rio Verde; está relacionada sobretudo também, ao contexto de dependência de infraestrutura regional em que o município se vê inserido e que a parca visão daqueles que se prestam à sua representação, não lhes permite enxergar. Mesmo porque, são poucas rodovias estaduais da região que se encontram em boas condições de tráfego.


 Já dentro do assunto predileto das castas superiores locais, o da segurança pública, volta e meia é tema do populismo eleitoreiro no rebote das atribuições perdidas do governo estadual para com Rio Verde, e visto assim, no empobrecido debate de algo usado como trampolim para promoção eleitoral de meia dúzia de pessoas - ligadas a este ou aquele pré-candidato a prefeito -, e que apenas brincam de fazer política em meio a evidente demagogia, visto da seriedade que requer o tema, numa discussão inócua em função do nada prometido, para depois, não ter o que ser cumprido. 


 Foi dessa forma que recentemente o vice-governador de Goiás e também secretário de Segurança Pública, José Eliton, veio a cidade discutir o nada em propostas. A razão da visita pareceu ter mais a ver com uma certa satisfação a ser dada à sociedade local, quando o secretário se prestou somente a ouvir as queixas e o clamor popular por mais policiamento, ao se ter como curiosa resposta, a indagação vinda do próprio secretário de Segurança Pública, sobre o que vem a ser um 'posto policial'. 


 Por outro lado, tudo indica que ninguém ousou saber de José Eliton, a razão de Rio Verde sempre ser a última atendida no quesito segurança (e isso, quando eventualmente acontece), em face dos grandes investimentos em infraestrutura na referida área, realizados pelo governo estadual em cidades consideradas "mais importantes" que Rio Verde. Seria o caso de se perguntar ao secretário, a verdadeira razão de só haver recursos para se construir uma nova unidade prisional em Anápolis e um mega IML em Aparecida de Goiânia, e não dispor na mesma medida, recursos também para Rio Verde, que garantissem pelo menos, a construção de uma nova Central de Prisão Provisória (CPP), na cidade.


 Enquanto isso, a população acredita ser natural que a prefeitura de Rio Verde continue assumindo despesas do governo do estado com Segurança Pública. Como no complemento salarial de policiais, (para que os mesmos possam ficar mais tempo nas ruas, intimidando assim, possíveis ações de meliantes), e também na formação de novos policiais; ou mesmo ainda, no custeio do aluguel do prédio da Delegacia Regional de Polícia Civil. 


 Outra área sensível à população, que é o saneamento básico, onde em Rio Verde o serviço é de concessão do estado de Goiás, reflete claramente, a pouca vontade do governo goiano nos investimentos prometidos e necessários de um suposto projeto de captação de água provida do Rio Verdinho (há 16 Km da cidade), para posterior tratamento e disponibilização do produto na rede de abastecimento à população rio-verdense. Desde 2014 foi anunciado pelo próprio governador que o projeto enfim sairia do papel, porém já passados dois anos do anúncio, nada foi sequer iniciado.


 Percebe-se portanto, que a crise de representatividade política de Rio Verde, compromete a relação entre a arrecadação estadual remetida para a capital, e o retorno disso para o município, e mesmo também, sobre os serviços que poderiam ser ofertados aqui para toda a região. 


 É basicamente, aquilo o que Rio Verde deixa de oferecer às cidades vizinhas polarizadas, dependentes de quase tudo da capital (em face das grandes distâncias entre elas e a nossa), na oferta de serviços que o governo de Goiás não presta, visto na ótica de um contexto regionalizado no qual falta a ser adotado por aqui, enquanto Anápolis, que fica há apenas 50 Km de Goiânia, oferece quase que todos os serviços do governo de Goiás os quais também podem ser obtidos na própria capital.

 Com isso não faz muito sentido haver uma unidade do Ceasa em Goiânia e outra em uma cidade que fica há apenas 50 Km de distância, por exemplo, enquanto municípios que não têm acesso a hortifrutigranjeiros, que ficam há 400 Km de Goiânia ou 200 Km de Rio Verde, se veem sem a devida atenção nesse sentido. Tal situação expressa também a falta de ambição política daqueles que se prestam a representar a cidade, já que demonstram não possuírem a visão necessária de ter Rio Verde como um polo regional que assessore os demais municípios em suas necessidades. No entanto, é a proximidade que dizem ter do governo, que parece ser insuficiente na relação de nossas inapetentes representações para com ele.


 Contudo não há nada que a cidade pague tão caro em torno disso, principalmente a população pobre, como no que vem a ficar cada vez mais claro, em que se entende a visível má vontade do governador Marconi Perillo, de buscar novos investimentos que gerem empregos e renda para a população local de Rio Verde. 


 O município hoje amarga elevadas taxas de desemprego por conta do boicote sofrido nos últimos 10 anos, em torno de possíveis investimentos produtivos geradores de empregos interessados em Rio Verde, que poderiam ter vindo para cá e que sofreram forte influência contrária do governo estadual, impedindo por sua vez, que eles se concretizassem. Agora dada a atual situação de crise econômica, fica fácil para políticos pouco empenhados na adoção de um plano de desenvolvimento para Rio Verde, atribuírem a situação de desemprego vivido no município, à crise pela qual passa o país.   


 O que corrobora no contexto de que Rio Verde veio sendo prejudicada pelo ostracismo econômico do governo de Goiás na atração de novos empreendimentos geradores de empregos, se dá nas seguidas viagens de comitivas lideradas pelo governador, ou mesmo pelo vice-governador, a países da Europa, também aos Estados Unidos, China, Austrália, e Japão, às quais tinham como objetivo, atrair capital produtivo internacional para o estado. Marconi simplesmente não contemplou Rio Verde em nenhuma dessas viagens.


 Nem mesmo a contrapartida prevista para a reforma do aeroporto de Rio Verde, o governo estadual disponibilizou, alegando não haver recursos, enquanto gastou mais de R$ 180 milhões na construção de um terminal aeroportuário inacabado, o qual agora, mais do que nunca, se tornou um verdadeiro elefante branco, por estar localizado na região metropolitana de Goiânia, perdendo sua razão de existir e finalidade por isso, principalmente depois da inauguração do novo Aeroporto Santa Genoveva. 


 O tal aeroporto de cargas de Anápolis é o maior símbolo do desperdício do dinheiro público goiano, fruto dos devaneios narcisistas do governador, que se empenha ao máximo por uma cidade que só se desenvolve, por ter esse desenvolvimento, sido financiado com os impostos dos demais 240 municípios goianos, e por ter sido sempre fomentada pelos seguidos governos estaduais que passaram pelo Palácio das Esmeraldas, anteriores a este. 


 Com isso observamos que não só Rio Verde ficou prejudicada pela péssima representatividade política local junto ao governo estadual, como toda a região sul de Goiás. Assim também podemos notar que isso se deve sobretudo aos caprichos do governador o qual só atende a cidades onde ele acredita obter dividendos políticos mais expressivos. Esse é um questionamento que deve ser feito todos os dias pelos cidadãos de Rio Verde, no que tange a todas a áreas de atribuição do governo estadual aqui, seja em nosso município ou na região; e isso, não apenas na questão que mais preocupa: a segurança pública. 

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