Pular para o conteúdo principal

EUA: o possessor se manifesta

 Depois que os acontecimentos políticos no Brasil começaram a ganhar conotação internacional de que um golpe de Estado foi organizado no país para se levar de volta ao poder uma agenda econômica  neoliberal, e ainda com a repercussão de jornais europeus e até da própria imprensa americana, os Estados Unidos, decidiram agir após um período de um silêncio ensurdecedor e assim se posicionaram a favor do golpe e dos golpistas no Brasil.

 Já ontem, a ministra do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber, acatou a ação proposta pelos partidos de direita responsáveis pelo golpe e pedirá explicações à presidente Dilma, sobre a razão do uso do termo 'golpe' pelo governo. A ideia é desconstruir o que é visto como 'tese do golpe' e procurar dar a legitimidade que as ações do impeachment ainda não possuem.

 
Foto: BBC Brasil
Jornal britânico The Guardian, destaca protesto de protagonistas
de filme brasileiro, sobre a situação política do Brasil. 
 O posicionamento do governo norte-americano em relação aos acontecimentos políticos no Brasil, é sem a menor sombra de dúvidas, a 'cereja do bolo' que faltava em vista da violência causada a nossa democracia. Pois certamente, sem a participação do governo e de empresas americanas, os golpistas não teriam a menor chance de empreenderem êxito em suas empreitadas. 

 Já o brasileiro comum, bombardeado na guerra de versões midiática, é levado a acreditar que o único problema do Brasil seja a corrupção e que manobras de aparente legalidade institucional não seriam também vistos como atos de corrupção, quando se trata de se retirar do poder, um governo legitimamente eleito por sufrágio popular com ampla maioria de votos. O brasileiro comum, mal sabe que o maior mal atualmente no Brasil se trata do descontrole de nossa dívida pública e os interesses dos agentes diretamente envolvidos nela. 

 Os rombos no orçamento ou as supostas manobras ocorridas para se apresentar resultados orçamentários mais otimistas que a realidade, são argumentos frágeis e muito instáveis para que se procure justificar o impeachment. Nisso, homens e mulheres de bom senso, são unânimes. Contudo só para os Estados Unidos, isso parece ser relevante dado a todo o contorcionismo institucional, obedecidas todas as formalidades previstas em nossa Constituição para então, se argumentar em favor do golpe. 

 Assim, em meio a essa guerra de versões, o brasileiro comum, que conseguiu adquirir seu carro, sua casa, a mobília nova ou ainda a tão sonhada viagem de férias de avião e que atribuía a isso, a tão somente seu mérito e esforços pessoais, começa a compreender que com o novo governo interino, por mais que se esforce daqui para a frente, não conseguirá mais do que por comida na mesa. 

 Dessa forma, o silêncio do governo Obama em relação a situação brasileira começa a ser manifesta entre declarações isoladas de autoridades diplomáticas americanas aqui e acolá como a posição do representante dos Estados Unidos na reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA), Michael Fitzpatrick, que segundo ele, tem o processo de impeachment no Brasil, respeitado todos os trâmites institucionais. 

 Os vários protestos ocorridos em diferentes partes da Europa, a cobertura da mídia internacional que afirma com estranheza o que ocorre no Brasil, certamente levaram o governo norte-americano a tomar um posicionamento definitivo. Isso neutraliza de certa forma, a recusa do governo Obama em ligar para o presidente interino. Ou no mínimo também, sinaliza determinada precaução e prudência no governo yankee em manter uma neutralidade aparente, como que se quisesse demonstrar que não interfere em questões internas de outros países. 

 Uma neutralidade evidentemente que nunca de fato existiu, haja vista a denúncia do ex-espião da NSA, Edward Snowden, sobre os casos de espionagem envolvendo o governo dos Estados Unidos contra o Brasil. E endossando essa versão, o site, de vazamentos de documentos sigilosos entre governos, o WikiLeaks, publicou documento que comprova que o vice-presidente e hoje presidente em exercício, Michel Temer, seria o informante brasileiro para o governo americano, como também publicado pelo jornal mexicano La Jornada.

 Já para o acadêmico norte-americano, Noam Chomsky, em recente participação concedida a uma rede de TV estadunidense, afirmou se tratar os acontecimentos políticos no Brasil, classificando-os como 'golpe brando', em vista da aparente legalidade envolvida em todo o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, bem como a fragilidade dos argumentos e dos materiais probatórios usados para se alegar tão inequívoca ação ilegítima de tomada de poder, por parte da elite econômica e política brasileira. 

 Mas talvez a pior das reações inesperadas e que têm incomodado os golpistas é a repercussão que o golpe no Brasil tem tomado em nível internacional. O protesto de diretores e protagonistas do filme brasileiro "Aquarius" no Festival de Cinema em Cannes, na França, atraiu os olhares de mais gente sobre o que vem acontecendo no Brasil nos últimos dias. 

  O filme que também é sucesso de crítica e tem obtido boas notas dos especialistas em cinema do mundo todo, teve sua fama como instrumento de denúncia sobre o golpe que vem ocorrendo no Brasil, onde cada um dos participantes ergueram cartazes que afirmavam isso. Tanto que um dos mais respeitados jornais do Reino Unido, o The Guardian, estampou na primeira página a foto com os participantes do filme no momento do pacífico protesto.

 Sem dúvida, a observação do diretor Kleber Mendonça Filho, em entrevista ao jornal The New York Times, de que o que está acontecendo no Brasil, é uma versão moderna e cínica de golpe, se contrapõe ao argumento usado pelo representante americano na OEA, de que o simples fato de não haver gás lacrimogênio, não caracteriza golpe no Brasil. 

 Fitzpatrick na reunião da OEA criticou o que chamou de "interferência internacional em assuntos internos brasileiros" e disse estranhar que as críticas mais enfáticas ao impeachment de Rousseff no Brasil, venham de Caracas onde manifestantes são reprimidos com gás lacrimogênio. O representante americano porém, não pode questionar que na Venezuela também houve eleições e que por lá, há o mesmo desrespeito ao resultado das urnas que se verifica, como no Brasil. 

 O que é mesmo de se estranhar é que os Estados Unidos queiram agora não mais interferir no Brasil, uma vez que até espionar o governo de Rousseff, já o fez. Assim sendo, fica difícil para o governo americano sustentar a tese "da não interferência em assuntos internos brasileiros", já que a especialidade americana é não se conter na quietude quanto à isso. Não só no Brasil, mas em todos os países do mundo.

 Mais estranho ainda, é os Estados Unidos apoiarem o impeachment e rechaçarem o golpe em vista dos envolvidos diretos nesse processo, que se tratam de pessoas da mais perigosa estirpe de corruptos, comprovadamente comprometidas com os casos de corrupção apurados recentemente no Brasil. A Alemanha, que também se posicionou com o diplomata americano sobre o caso brasileiro, certamente se esqueceu de que também foi vítima da espionagem do governo de Barack Obama.  

 Esperava-se que as críticas a Caracas, viessem no mesmo tom em relação aos atos corruptos dos golpistas da parte do representante americano, mas como a conveniência estadunidense pede, já não é mais necessário se interferir nos assuntos internos do Brasil.      

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rio Verde moderna

 Dando seqüência ao último post, em comemoração ao aniversário de 164 anos de Rio Verde, no próximo dia 05 de agosto, vamos iniciar de onde paramos: a década de 1960, quando relatei que a cidade enfim, inebriava-se num breve período onde a dupla Mauro Borges (governador do Estado) e Paulo Campos (prefeito), inaugurava uma fase onde o centro de Rio Verde passava por sua modernização.   Ruas de terra ou calçadas com paralelepípedo em basalto davam lugar ao asfalto. O paralelepípedo teve uma outra destinação, e foi usado como guias de sarjetas das novas ruas recém-pavimentadas.  Os postes que sustentavam a rede de energia elétrica de aroeira, deram lugar a modernos postes de concreto e uma iluminação pública mais potente ganhava as ruas da cidade. Tudo da energia provida de Cachoeira Dourada.  Conta-se que a primeira rua a ser pavimentada foi a Rua João Belo, (atualmente, Rua São Sebastião no centro antigo de Rio Verde). E o asfalto ficou tão bom, que a necessidade de recapeamen

Um nome estranho; um bairro que nasceu para ser "setor"

Para quem já se 'cansou' de ler sobre a história do nosso município que nesse finalzinho de agosto -celebra seu mês de aniversário-, deve portanto saber, que a chamada "arrancada para o desenvolvimento" de Rio Verde, se deu a partir dos anos 1970.  O certo, é que a cidade seguiu o ritmo do tal "milagre econômico" dos governos militares daquela época. Mas sem dúvida, o que foi determinante em tudo isso, se deu com a fundação da Comigo, no ano de 1975.  Desde o final da década até o início dos anos 1980 porém, a expansão urbana de Rio Verde também sofreu um elevado aumento, sendo que essa situação provocou o surgimento de bairros cuja a única infraestrutura disponível, se deu somente na abertura de ruas e o traçado das quadras.  A especulação imobiliária por parte dos herdeiros de propriedades antes rurais, que margeavam os limites urbanos da cidade, abriu espaço para bairros onde atualmente se verifica sobretudo, a apertura das ruas, em que muitas delas nã

Globalismo Vs nacionalismo e o futuro da humanidade

O mundo sempre viveu conflitos entre interesses privados e coletivos; mas apesar de ser um termo novo o globalismo por sua vez, teve papel preponderante nisso, logicamente adaptado aos contextos de suas épocas.  Antes, na antiguidade, as primeiras civilizações já eram globais e dominavam outras, pela força. Não que hoje os métodos de dominação tenham mudado, porém para isso, se tornaram mais sutis, e não menos violentos.  Desse modo, a sensação de violência sofrida é que pode demorar algum tempo para ser sentida; o que não ocorre de maneira uniforme por todas as populações subjugadas.  Sem falar na corrupção, a maior aliada dos dominadores contra os subjugados. Assim, pessoas do lado dos oprimidos, se veem partidárias de seus opressores, em nome de possíveis vantagens pessoais adquiridas. Alexandre, o primeiro grande conquistador, certamente de modo involuntário, foi o primeiro a difundir o globalismo, através de seus exércitos. Porém, conforme diz sua história, ele teria chorado por n