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LGBTs se importam mesmo com LGBTs?

 As paradas gays estão se tornando cada vez mais comuns no Brasil e à cada edição, se tornam ainda mais polêmicas. Contudo, polêmica maior se deu em torno de um (ou uma), travesti à qual encenou uma crucificação, em protesto contra o que eles chamam de homofobia. A reação da cristandade conservadora veio como num rastilho de pólvora. Até ameaças de morte, a pseudo atriz, sofreu por conta do ousado ato.

 No entanto, quantos homossexuais que não participaram da parada gay, são excluídos da sociedade e vivem à margem de qualquer condição humana de vida, mas não são lembrados nelas?! O fato é que as paradas gay, estão se tornando cada mais vazias, e isso se deve exatamente porque elas têm se fechado em torno de si mesmas. E o pior, têm se fechado a até mesmo, àqueles a quem defendem.

 O grande problema que envolve essa gente, é que tudo relacionado à eles gera escândalo. O simples fato de se discordar deles, é razão para mais escândalo ainda. Ou seja, ou você os "respeita" (sem necessariamente se ter garantias de que eles respeitarão você), ou então a pessoa é tida automaticamente como opositora à causa que eles se dedicam; e portanto, lida em sua ótica, como: homofóbicas. 

 Um outro erro grave que o público comete, é interpretar o movimento LGBT, como sendo de esquerda. O movimento, não tem nada de esquerda. É meramente de classe média e a grande maioria de seus membros são contrários ao governo e a políticas públicas de assistência social como o bolsa família. 

 O movimento de uma forma geral, pode em caráter oficial, não ser contrário a nenhuma das políticas públicas do governo aos pobres, mas boa parte das pessoas que integram o movimento ou mesmo homossexuais que vivem suas vidas independentes dele, se mostram excessivamente oposicionistas à essas políticas.

 Com os LGBTs, não tem meio termo: ou você aprova todas as atitudes de intolerância religiosa ou mesmo social, praticada por eles, ou então você se torna um inimigo mortal dessa classe de pessoas 'sui generis'. Mas e quando homossexuais de rua, viciados, pessoas sem um mínimo de dignidade, são excluídas pelo próprio movimento?

 Um bom exemplo disso, foi a declaração do padre Júlio Lancelloti, coordenador da Pastoral de Rua de São Paulo. Padre Júlio escreveu em sua página numa rede social a seguinte mensagem: 

 "Na minha missão pastoral tenho conversado com vários LGBTs que estão pelas ruas da cidade, alguns doentes, feridos, abandonados. Muitos relatam histórias de violência, abusos, assédio, torturas e crueldades. Alguns contam como foram expulsos de igrejas e comunidades cristãs, rejeitados pela família em nome da moral. Testemunhei lágrimas, feridas, sangue, fome. Impossível não reconhecer neles a presença do Senhor crucificado!"

 Realmente quando se trata de homossexuais de rua, e nas exatas razões que os levaram para a rua, vemos uma situação de total desprezo da sociedade, quanto àqueles que se encontram verdadeiramente crucificados. Desprezo visto inclusive da parte do próprio movimento LGBT. 

 Afinal, muito difícil se crer que em se tratando de um movimento organizado por pessoas muito envolvidas em seu universo, haja espaço em seus corações para refletir em torno de homossexuais excluídos em nossa sociedade. 

 Também, por mais que parte dos cristãos estejam abertos a extirparem hostilidades de preconceito para com os homossexuais, impossível para eles, não ofenderem cristãos com cenas de intolerância religiosa em meio a depredação e quebradeira de imagens ou introdução de objetos sacros em suas entranhas retais. Práticas como esta, podem não ter ocorrido na última parada gay, mas ocorreram em manifestações similares.

 A Igreja Católica, por meio da Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em São Paulo, emitiu nota em posicionamento contrário ao uso de símbolos religiosos em manifestações como a parada gay. O cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Pedro Sherer, também se manifestou em sua página em uma rede social com as seguintes palavras:

 "Muitas pessoas me questionaram sobre a imagem de um transsexual na cruz durante a parada gay. Entendo que quem sofre se sente como Jesus na cruz. Mas é preciso cuidar para não banalizar ou usar de maneira irreverente símbolos religiosos, em respeito à sensibilidade religiosa das pessoas. Se queremos respeito, devemos respeitar". 

 Contudo, mais direta e profunda foram as palavras do bispo de Uruaçu, em Goiás, dom Messias dos Reis Silveira, em um artigo publicado de sua autoria, em que demonstra seu evidente descontentamento para com as práticas ocorridas na parada gay, vejamos alguns trechos de seu artigo:

  "A Parada Gay de São Paulo fez um enorme barulho. Muito barulho é sinal de que existe um grande vazio. Existe vazio nos causadores do barulho, nos que o ouvem, o acolhem, ou reclamam. Existem muitos vazios nos tempos atuais, como podemos constatar em nós mesmos. Esses vazios são como que buracos existenciais que somente serão preenchidos se houver o acolhimento de um amor maior.

 A Igreja ama com o coração de Cristo. O que aconteceu em São Paulo, embora com uma linguagem não comum, pode ser um pedido de abertura para deixar Deus entrar na vida e, seguir na mesma, com a leveza de quem ama a Cruz do Cristo e ama aquela cruz que Ele pediu que todo discípulo a carregasse todos os dias. Os sofrimentos dos homossexuais são cruzes que somente eles conhecem o seu peso e suas dores. Em Cristo e na comunidade de seus discípulos eles encontram o alívio para suas angústias e proteção para as ameaças. As ações da Igreja tem provado isso."

 Mais à frente, dom Messias afirma que muitos dos gays que participaram da parada, são capazes de possuir o amor cristão - tanto quanto aqueles que o julgam ter - e que mesmo participando da parada gay, não concordaram com o que foi feito em torno do uso de objetos sacros na manifestação. E ele ainda acrescenta:

 "Onde existe uma pessoa que sofre podemos ter certeza que Cristo está sofrendo naquela pessoa. Por este motivo o caminho da Igreja será sempre um caminho de cura, de libertação, de construção da paz e valorização do ser humano. 

 A Igreja jamais vai expor a imagem de um Gay desrespeitando-o porque o ama com o amor de Jesus. Ela só conseguiria ultrajar a imagem de um de seus filhos, mesmo que ingrato, se estive muito vazia do amor de Cristo, mas nunca está."

 Por fim, dom Messias diz que todos querem e desejam ser amados, mas que principalmente Jesus merece ser amado por todos nós, apesar da fragilidade humana. Disse ainda, que é preciso, que todos se deem as mãos, amando e vivendo em favor do bem. 

 Palavras como as do bispo de Uruaçu, dom Messias, do arcebispo de São Paulo, dom Odilo e do padre Júlio Lancelloti, exprimem que o discurso católico em torno do comportamento dos gays na parada, é o da busca de uma maior conciliação com eles, em face das hostilidades em torno da demonstração de intolerância religiosa à qual muitos deles manifestam. Em contrapartida com a reação evangélica. 

 Essencialmente a bancada evangélica na Câmara dos Deputados, que promete uma lei para criminalizar atos de intolerância da parte dos homossexuais em manifestações organizadas por eles como a parada gay, através da edição de uma lei à qual foi denominada "cristofobia". O que certamente, agrava ainda mais as diferenças e gera mais intolerância.

 O que tem de mais certo em tudo isso é que intolerância tanto de uma parte, quanto de outras, podem gerar ainda mais intolerância e desrespeito entre as partes. É preciso cuidado para não usarmos atitudes de uma minoria, como um modo que justifique o ódio generalizado ao todo. 

 Mas é preciso acima de tudo também, que atitudes banais não tomem conta do debate e encubram outras questões ainda mais importantes e urgentes e às quais deveriam realmente escandalizar a sociedade, como a condição de miséria e pobreza que a qual vivem a maior parte dos homossexuais de rua. 

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