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29 de março, o dia em que os estadistas morrem

 O mês de março se finda e com ele o verão, trazendo suas últimas chuvas, iniciando assim o outono - onde se tem ligeiras diminuições nas precipitações pluviométricas, mas que não cessam por completo até a chegada do inverno dos trópicos, marcado pelo período de seca.

 Nos últimos anos, o mês de março tem se caracterizado pela perda de grandes estadistas brasileiros. Ontem ao passar batido o aniversário de morte do ex-vice-presidente José Alencar, vítima de câncer generalizado há dois anos, o Brasil, Goiás e mais precisamente Rio Verde, perde um dos maiores símbolos da modernização do Centro-Oeste e da interiorização do desenvolvimento do Brasil: o ex-governador de Goiás, Mauro Borges.

 Borges, foi um dos frutos do célebre casamento do médico e político vilaboense Pedro Ludovico Teixeira com Gercina Borges, filha do também político e pecuarista oriundo de Minas Gerais Antônio Martins Borges. Seguiu a carreira militar, chegando ao posto de Tenente-coronel, mas logo sentiu também o desejo da militância política, iniciando-a como deputado federal em 1958. Dois anos mais tarde chega ao cargo máximo do estado, em tantas ocasiões ocupado por seu pai.

 Já em seu primeiro ano à frente do governo goiano, e sob as intempestivas ameaças ocasionadas e promovidas pela instabilidade política revanchista da direita anti-getulista empreendida por militares - os quais não aceitavam alguém que viesse dos quadros getulistas como João Goulart ocupasse a presidência da República -, Mauro Borges participou ao lado de Leonel Brizola - então governador do Rio Grande do Sul -, da campanha legalista pela garantia da posse de João Goulart após a renúncia de Jânio Quadros da presidência.

 Com isso sofreu severas retaliações dos militares - onde à exemplo do Palácio Piratini em Porto Alegre -, Mauro Borges também fez do Palácio das Esmeraldas, um verdadeiro quartel-general legalista em Goiás, vindo as Forças Armadas intimidando as ações do governador com voos rasantes sobre o Palácio, depois de ter usado a Rádio Brasil Central como propagadora do movimento em defesa da legitimidade da posse de João Goulart na presidência do Brasil.

 Entretanto durante o seu mandato como governador, procurou modernizar as estruturas de governo no estado. Criou algumas das empresas estaduais que ainda temos nos dias de hoje e que contribuíram muito pelo desenvolvimento de Goiás. Procurou ao máximo incentivar o progresso no interior do estado, com programas de reforma agrária, ampliação da capacidade de geração de energia com novas usinas hidrelétricas e construção de linhas de transmissão. Foi o primeiro governador a implantar uma secretaria de planejamento, que mais tarde também, levou o governo federal a criar o Ministério do Planejamento desde então.

 Novamente com o golpe de 1964, Mauro Borges se viu obrigado a passar pela mesma situação vivida na ocasião da Campanha da Legalidade, até ser enfim obrigado a deixar o cargo e cedê-lo a um interventor paulista nomeado pelo regime militar.

 Depois de ser beneficiado com a Lei da Anistia em 1979, Mauro Borges se torna senador da República em 1983. Novamente se candidata a governador em 1986, vindo a perder para Henrique Santillo, concluindo assim seu mandato de senador até 1991. A partir dos anos 2000 o governador Marconi Perillo, procura uma interesseira e pretenciosa aproximação com Mauro Borges, fazendo dele seu conselheiro político e procurando se beneficiar tanto de seu carisma, quanto de sua experiência política.

 Mauro Borges que assim como José Alencar morreu num 29 de março, foi velado no palácio onde quase foi morto pelos militares, numa sala do Palácio das Esmeraldas que leva o nome de sua mãe - Gercina Borges -, e onde não poderia deixar de contar também, com presença mais ilustre que a do 'amigo' governador que hoje ocupa o cargo que um dia tão brilhantemente o fez - muito diferente da realidade atual. 

 Foi então enterrado no jazigo da família Teixeira no mais antigo e tradicional cemitério de Goiânia. Cidade que juntamente com seu pai, ajudou a fundar. Goiânia, a capital que contou em grande parte com a ajuda de rio-verdenses em sua construção, hoje mal se importa com esse fato. Ignora veemente que homens como Mauro Borges e Jerônimo Coimbra Bueno (engenheiro responsável pela construção das ruas e avenidas de Goiânia e também governador de Goiás) a ajudaram na sua configuração que tem hoje. 

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