Pular para o conteúdo principal

A cidade que vislumbramos

Quando ando pelas ruas da cidade fico sempre decepcionado, tanto que até mesmo se tem a sensação de um estado ligeiramente depressivo por vê-la tão mal cuidada - não somente pelas autoridades constituídas locais, como também por seus próprios moradores -, em meio a uma total falta de cuidado com a aparência e a estética urbana de Rio Verde (cidade com pouco mais de 160 mil habitantes, distante de Goiânia 220 Km à sudoeste de nossa capital, em Goiás). É um município dinâmico, atraente para grandes investimentos e que está na mira de outras grandes empresas nacionais. Para um futuro próximo estima-se que com o aumento demográfico da cidade em 15 ou 20 anos, atinja uma população em torno de 250 mil habitantes. Atualmente o seu Produto Interno Bruto está na faixa de R$ 3 Bilhões e o PIB-per capita estima-se, esteja acima de R$ 20 mil .

Um município tão rico que reflete bem a face mais cruel do restante do país: a gritante e explosiva desigualdade social e de renda. Conhecida como um oásis para nordestinos, ávidos por prosperarem na vida e pelas propensas "oportunidades" de emprego, Rio Verde tem atraído vários deles em busca de um possível sucesso profissional.

 Então eles estariam sendo os principais responsáveis pelo inchaço populacional do município? Ledo engano! Com um "salário Chinês" - "já que é bem mais do que ganhariam em seus lugares de origem" -, as frustrações se acumulam. A alta rotatividade deles nos empregos que conseguem refletem como principal consequência a ausência cada vez maior de perspectiva de futuro deles na cidade; tentando aqui e ali, com a pouca experiência e qualificação que têm, almejam uma vaga de trabalho onde não tenham que trabalhar tanto e que ganhem um pouco acima da média salarial local que gira em torno de 730 reais/mês. Contudo com o alto custo de vida, seus proventos tornam-se quase que miseráveis frente à crescente realidade do aumento dele em seu dia a dia; sobretudo ainda em decorrência da euforia local na privatização de lucros em torno do aumento populacional e da massa salarial  (até há bem pouco tempo constantes). Com isso é possível encontrar imóveis de aluguel em torno de 625 reais para uma residência de padrão leve ou de conforto médio, (fora despesas com luz, água e alimentação); refiro-me a uma casa de dois quartos, sala, copa/cozinha, área de serviço e até uma varandinha, com piso em cerâmica e banheiro; quem sabe, se o pretenso candidato à rio-verdense tiver sorte, pode até conseguir um quintal cimentado e com vaga de garagem.

 Claro que os nordestinos que para cá vêm não alugariam uma casa dessas, o que suas rendas mensais permitem é que eles consigam morar apenas em casebres pequenos, mal construídos ou sem nenhum critério de engenharia. Assim, os casebres mal acabados ou caindo aos pedaços, sem pintura ou com paredes sujas e esburacadas, ao lado de lotes baldios e com matagal, se juntam à feiura das ruas sujas, sarjetas quebradas, calçadas trincadas; outras cheias de mato, entulho, encardumes e lixo espalhado nos bairros periféricos, porém mais importantes. O comércio e os serviços bem desenvolvidos instalados nesses bairros torna-se capaz de observar grandes hipermercados e lojas luxuosas que contrastam com a feiura mencionada anteriormente.

 Uma cidade com oportunidades de empregos e negócios tida como a "Capital do Agronegócio", com várias entidades de classe, principalmente representadas no setor ruralista (de uma elite política e econômica que nos lembra a "República Velha" do "Café com Leite"), e que não poderia conviver com tanta pobreza, ignorância e exclusão. Mas e daí? "Às favas, os escrúpulos", como diria o pensador dos brutos do período mesozoico da ditadura militar, que parece ser também o lema dos fiéis seguidores e saudosistas da era jurássica, à qual insiste em permanecer nas mentes carentes de um novo discurso ideológico, que não seja à la: "neoliberalismo globalizado".

 Mas a carência real de nossa gente principalmente, é a de uma elite acadêmica; que por sua vez até se propõe a existir - ou a coexistir em meio à montanha de demandas por um corpo docente universitário e médio, mais preparado e tecnicamente..., com uma vivência acadêmica maior e melhor.

 Reunidos num pequeno grupinho de pessoas, intitulado sob a sigla ARLAO - (Academia Rio-verdense de Letras Artes e Ofícios), seus membros quando reunidos mais parecem ser agentes da Polícia Federal ou seguranças particulares de algum tipo de evento (talvez o deles, mesmos); caracterizados assim por usarem um colete muito parecido, com a inscrição da agremiação exposta na retaguarda do mesmo. Uma instituição que parece perdida em filosofias vazias de um eruditismo longínquo e distante das realidades, das quais uma elite acadêmica pensante poderia debater, como por exemplo: o status que a cidade poderia galgar com uma universidade pública federal independente em nosso município. Talvez seja uma entidade apenas meramente ilustrativa, convidada a ser manifestar somente em reportagens para a TV local - sempre preocupada apenas em preservar a elite e desqualificar as massas.

 Assim percebemos que Rio Verde padece do mesmo mal generalizado do restante do país (salvo, com algumas exceções): como a falta de ambição da classe política, e talvez a falta de visão da elite econômica local em vislumbrar novas oportunidades de negócios, com novos empreendimentos fruto de um planejamento à médio e longo prazos para a cidade; independes portanto de suas ambições particulares e privada$ - já que essa elite prefere os ramos tradicionais de negócios como os do meio agrícola, comercial, e a oferece ainda precários serviços; com quase nenhum no ramo industrial -, àqueles (negócios) os quais viesse a desenvolver a inovação e o know how para se tornar possível novos tipos de empreendimentos no município.

 Ou seja, uma elite adormecida e que parece conformada com seus ganhos; ausente de projetos que pudessem assim, aliar empreendimentos de negócios que possam suprir algumas necessidades coletivas da população, como por exemplo: o caótico transporte coletivo, ou a falta de concorrência na área de comunicação eletrônica de massas como a televisão, em vez de esperar apenas que uma nova emissora caia do céu na cidade, proveniente da capital do Estado.

 E então?! Quais são as chances de uma cidade que detém todos os requisitos para se desenvolver, tem com uma elite aristocratizada e ao que parece, ainda não se despertou para o pensamento iluminista. Se depender dessa elite, nenhuma! Absolutamente, as chances de uma cidade com as características de Rio Verde se desenvolver sustentavelmente são quase nulas. Nenhuma cidade ou região pode se desenvolver sozinha, sem um planejamento público e privado, muito menos ao sabor das coincidências.

 Voltarei a esse assunto.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rio Verde moderna

 Dando seqüência ao último post, em comemoração ao aniversário de 164 anos de Rio Verde, no próximo dia 05 de agosto, vamos iniciar de onde paramos: a década de 1960, quando relatei que a cidade enfim, inebriava-se num breve período onde a dupla Mauro Borges (governador do Estado) e Paulo Campos (prefeito), inaugurava uma fase onde o centro de Rio Verde passava por sua modernização.   Ruas de terra ou calçadas com paralelepípedo em basalto davam lugar ao asfalto. O paralelepípedo teve uma outra destinação, e foi usado como guias de sarjetas das novas ruas recém-pavimentadas.  Os postes que sustentavam a rede de energia elétrica de aroeira, deram lugar a modernos postes de concreto e uma iluminação pública mais potente ganhava as ruas da cidade. Tudo da energia provida de Cachoeira Dourada.  Conta-se que a primeira rua a ser pavimentada foi a Rua João Belo, (atualmente, Rua São Sebastião no centro antigo de Rio Verde). E o asfalto ficou tão bom, que a necessidade de recapeamen

Um nome estranho; um bairro que nasceu para ser "setor"

Para quem já se 'cansou' de ler sobre a história do nosso município que nesse finalzinho de agosto -celebra seu mês de aniversário-, deve portanto saber, que a chamada "arrancada para o desenvolvimento" de Rio Verde, se deu a partir dos anos 1970.  O certo, é que a cidade seguiu o ritmo do tal "milagre econômico" dos governos militares daquela época. Mas sem dúvida, o que foi determinante em tudo isso, se deu com a fundação da Comigo, no ano de 1975.  Desde o final da década até o início dos anos 1980 porém, a expansão urbana de Rio Verde também sofreu um elevado aumento, sendo que essa situação provocou o surgimento de bairros cuja a única infraestrutura disponível, se deu somente na abertura de ruas e o traçado das quadras.  A especulação imobiliária por parte dos herdeiros de propriedades antes rurais, que margeavam os limites urbanos da cidade, abriu espaço para bairros onde atualmente se verifica sobretudo, a apertura das ruas, em que muitas delas nã

Globalismo Vs nacionalismo e o futuro da humanidade

O mundo sempre viveu conflitos entre interesses privados e coletivos; mas apesar de ser um termo novo o globalismo por sua vez, teve papel preponderante nisso, logicamente adaptado aos contextos de suas épocas.  Antes, na antiguidade, as primeiras civilizações já eram globais e dominavam outras, pela força. Não que hoje os métodos de dominação tenham mudado, porém para isso, se tornaram mais sutis, e não menos violentos.  Desse modo, a sensação de violência sofrida é que pode demorar algum tempo para ser sentida; o que não ocorre de maneira uniforme por todas as populações subjugadas.  Sem falar na corrupção, a maior aliada dos dominadores contra os subjugados. Assim, pessoas do lado dos oprimidos, se veem partidárias de seus opressores, em nome de possíveis vantagens pessoais adquiridas. Alexandre, o primeiro grande conquistador, certamente de modo involuntário, foi o primeiro a difundir o globalismo, através de seus exércitos. Porém, conforme diz sua história, ele teria chorado por n