Pular para o conteúdo principal

A classe média contra os super ricos (golpistas e democratas); capitais Vs interior: o que emerge como resultado da polarização eleitoral no Brasil

 A eleição presidencial deste ano, trás aspectos curiosos e completamente divergentes daqueles observados em 2018; se há quatro anos havia indignação contra a corrupção ou o temor de que o país viesse a se tornar comunista (sempre se usando a Venezuela como mau exemplo), na atualidade, essa visão se tornou menos importante.

 Hoje essa dinâmica parece ter mudado um pouco, e tudo indica que pode ter elementos novos, percebidos na visão distinta existente entre as classes sociais mais proeminentes do país.

 Algo curioso, é que a "ameaça comunista" à qual se atribuía ao PT, hoje parece ter se dissipado entre os super ricos, enquanto que para a classe média, essa concepção ainda parece ter alguma importância.

 Tal ideia se dá, pelo fato de a classe média nunca ter se sentido prestigiada pelo governo; ao passo que os super ricos, sempre possuírem poder de lobby nos Três Poderes da República. 

 Nesse contexto, começam a surgir evidências de uma disputa de classes, motivada pela rivalidade eleitoral entre os candidatos mais fortes nas pesquisas de opinião; o que expõe também, outros aspectos os quais há até pouco tempo estavam latentes.

 Dentre eles, esta a descrença da classe média nas instituições, corroborada pelos discursos considerados "golpistas" do presidente Jair Bolsonaro, quando na condição de chefe de governo, questiona o modelo institucional em vigor do país (o qual realmente não funciona, pelo menos para a grande maioria da população). 

 Essa visão está ancorada na ideia de que o presidente foi cerceado pelas demais instituições (principalmente o STF), que o teriam impedido de desempenhar seu governo, conforme as expectativas populares.

 Na outra ponta, os super ricos que assinaram um manifesto pela democracia, (esboçando nas entrelinhas, um apoio informal dos bancos e de alta cúpula rentista nacional a Lula), se dizem preocupados com as falas do presidente o qual também vem acusando o processo eleitoral eletrônico, de ser passível de fraudes.

 A verdade é que tanto Bolsonaro quanto seus apoiadores, acertam, quando emitem descrença com a democracia e as instituições, mas erram ao afirmarem isso de modo agressivo; o que acaba parecendo ter um certo teor golpista. 

 Algo que também emerge dentro dessa realidade na preocupação da elite econômica dominante com a democracia, é o controle que esta última, sempre exerceu sobre os governos e que através de Bolsonaro, é visto como improvável num possível segundo governo.

 Já a classe média, jamais experimentou antes, a sensação de se sentir representada por um governo como o atual; e este é o verdadeiro ponto a ser discutido. O resto é mera desinformação da mídia controlada pela elite econômica dominante, contra um governo o qual vem cada vez mais se distanciando de seus anseios. 

 Mesmo que o governo tenha se mantido fiel à agenda liberal e cumprido com êxito (apesar das críticas), todo o receituário "de sucesso", que um gestor público precisa seguir, como garantia de progresso e prosperidade nacional (ainda que na média e em boa parte dos casos, os resultados sejam pífios para o crescimento do PIB ou o controle da inflação).

 Sob esse ponto, observa-se o inverso do que se acusa o presidente, pois o que houve na verdade, foi a democratização no atendimento liberal do governo, também com o empreendedorismo da classe média, à qual passou a se sentir mais prestigiada a partir dele. 

 Desse modo, o sentimento de pertencimento ao país, observado no seio da classe média, dentro da visão liberal e da meritocracia, tão evocados como princípios e virtudes de um governo, aflorou em um ufanismo jamais visto no país.

 O que com Lula, se dá numa certa garantia de exclusividade no atendimento aos banqueiros, pois ele próprio se gaba de ter propiciado as maiores taxas de lucros ao setor financeiro da história do país; enquanto Bolsonaro, proporcionou lucros bem semelhantes, também atendendo a classe média empreendedora, porém, achatando salários. 

Manifestação de apoiadores de classe média do presidente Jair Bolsonaro em Sinop, Mato Grosso - 26.mai.2019 - Foto: Reprodução/ Só Notícias.

 Desse modo, enquanto Lula dá tranquilidade aos super ricos, mas gera apreensão na classe média, por outro lado, Bolsonaro exprime exatamente o contrário: gerando apreensão nos super ricos, concomitante com a classe média se sentindo mais tranquila com relação ao seu governo, por não ser mais obrigada a disputar espaço com os pobres emergentes da classe C.

 Há outro aspecto ainda, o qual também sempre foi propositadamente desprezado pela mídia, que é a hegemonia da predominância eleitoral entre capitais e o interior (no qual está inserido o agronegócio, que é a principal atividade econômica de médias cidades interioranas do Sul, Sudeste, Centro-Oeste e até de parte do Nordeste).

 O agronegócio que gera 75% dos empregos em cidades médias do interior do Brasil, foi um dos setores que mais lucraram no governo de Jair Bolsonaro; além disso, outro fator que pesa na permanência do apoio do agro ao governo, foi a sensação de segurança e paz no campo, com a drástica redução das invasões de terra e dos conflitos agrários.

 Portanto, existe também a discordância de visões entre os anseios daqueles que vivem nas capitais dos estados e a grande maioria à qual reside no interior do país. 

 Outro aspecto enganoso na dita "democracia" brasileira, é a de que qualquer governo o qual tenha um discurso duro contra o modelo institucional o qual só atende à elite dominante nacional, é visto como "ameaça golpista".

 Porém na prática, a demonstração que emergiu foi a de que o governo propiciou um cenário muito mais democrático no ambiente de negócios do país, já que inseriu através da essência liberal, o pequeno e o médio empreendedor em torno dessa dinâmica.

 São observações como esta, que imprimem a necessidade de aprimoramento da democracia, enquanto o manifesto de banqueiros, dá uma compreensão muito limitada e conservadora ao que se entende como democracia no Brasil, apenas sob suas próprias perspectivas (mas que na prática não funciona para o restante da grande maioria nacional).

 A falácia democrática brasileira, se expressa sobretudo, nos contrastes sociais e nas desigualdades nas quais os órgãos de Estado se encontram presentes, pois de certo modo, está mais à serviço da preservação patrimonialista, do que propriamente, na defesa do cidadão e de sua integridade humana.

 Nesse sentido, é indiferente para a classe média e as demais faixas de renda abaixo dela, a defesa da democracia, já que a grande maioria da população brasileira, mal tem ideia do que represente esse conceito na vida prática nacional.

 As vergonhosas estatísticas econômicas e sociais que se perpetuam por décadas, demonstram que banqueiros, empresários, acadêmicos, intelectuais e artistas que assinaram o manifesto pela democracia, não expressaram mais que a elevada hipocrisia pública, pois defendem uma democracia que não é efetiva no cotidiano da população. 

Site do jornal O Estado de S.Paulo, noticia fala do presidente Jair Bolsonaro, em que ele sugere a necessidade de aperfeiçoamento dos Três Poderes, durante visita a Rio Verde, no interior de Goiás - Foto: Reprodução/ Estadão. 

 São pessoas que pregam reformas de Estado, mas jamais o aperfeiçoamento da democracia no sentido de enxugar o Estado para fortalecê-lo; propiciando assim, condições de uma economia dinâmica e geradora de riquezas para todos. 

 Pelo contrário, propõem reformas que no fim, fragilizam ainda mais o Estado, mutilando-o para que seja incapaz de arbitrar de modo justo, as distorções criadas pelo liberalismo. Onde se percebe através disso, a alta burocracia de cúpula estatal, a serviço da classe dominante, com vistas a não perderem seus privilégios e regalias de Estado.

 Desse modo, precisamos rever a essência institucional que rege o funcionamento do Estado Nacional Brasileiro; mas para os liberais, as reformas só devem contemplar o aspecto econômico, o qual gera ainda mais exclusão social, e que termina contradizendo o conceito de democracia o qual afirmam defender.

 É preciso sim, um mecanismo de aferição da inviolabilidade das urnas eletrônicas, acessível a qualquer cidadão (pois são em políticas como esta, é que se expressam a defesa da democracia), e não de algo que só seja garantido por autoridades às quais demonstram ter se sucumbido à agenda liberal dominante.

 A verdadeira democracia reconhece a vontade sublime e legítima da população, que não está de modo algum, associado a pesquisas eleitorais contratadas por bancos, para que um determinado candidato de seus interesses seja o "vitorioso".

 O manifesto pela democracia da elite dominante nacional, ignora ou despreza ainda, a discussão dos grandes temas nacionais entre os candidatos que se recusam a comparecer aos debates promovidos pela imprensa. Pois é essa ausência de debate, que interessa no falso jogo democrático em que poucas pessoas determinam como ele deve acontecer.  

 Portanto, é preciso cuidado com aqueles os quais afirmam defender a democracia e que atacam outros que apenas questionam os porquês, dessa democracia só funcionar para poucos. E se uma nação que se propõe a ser democrática, as instituições só funcionam para poucos, o que há de democracia nela? 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rio Verde moderna

 Dando seqüência ao último post, em comemoração ao aniversário de 164 anos de Rio Verde, no próximo dia 05 de agosto, vamos iniciar de onde paramos: a década de 1960, quando relatei que a cidade enfim, inebriava-se num breve período onde a dupla Mauro Borges (governador do Estado) e Paulo Campos (prefeito), inaugurava uma fase onde o centro de Rio Verde passava por sua modernização.   Ruas de terra ou calçadas com paralelepípedo em basalto davam lugar ao asfalto. O paralelepípedo teve uma outra destinação, e foi usado como guias de sarjetas das novas ruas recém-pavimentadas.  Os postes que sustentavam a rede de energia elétrica de aroeira, deram lugar a modernos postes de concreto e uma iluminação pública mais potente ganhava as ruas da cidade. Tudo da energia provida de Cachoeira Dourada.  Conta-se que a primeira rua a ser pavimentada foi a Rua João Belo, (atualmente, Rua São Sebastião no centro antigo de Rio Verde). E o asfalto ficou tão bom, que a necessidade de recapeamen

Um nome estranho; um bairro que nasceu para ser "setor"

Para quem já se 'cansou' de ler sobre a história do nosso município que nesse finalzinho de agosto -celebra seu mês de aniversário-, deve portanto saber, que a chamada "arrancada para o desenvolvimento" de Rio Verde, se deu a partir dos anos 1970.  O certo, é que a cidade seguiu o ritmo do tal "milagre econômico" dos governos militares daquela época. Mas sem dúvida, o que foi determinante em tudo isso, se deu com a fundação da Comigo, no ano de 1975.  Desde o final da década até o início dos anos 1980 porém, a expansão urbana de Rio Verde também sofreu um elevado aumento, sendo que essa situação provocou o surgimento de bairros cuja a única infraestrutura disponível, se deu somente na abertura de ruas e o traçado das quadras.  A especulação imobiliária por parte dos herdeiros de propriedades antes rurais, que margeavam os limites urbanos da cidade, abriu espaço para bairros onde atualmente se verifica sobretudo, a apertura das ruas, em que muitas delas nã

Globalismo Vs nacionalismo e o futuro da humanidade

O mundo sempre viveu conflitos entre interesses privados e coletivos; mas apesar de ser um termo novo o globalismo por sua vez, teve papel preponderante nisso, logicamente adaptado aos contextos de suas épocas.  Antes, na antiguidade, as primeiras civilizações já eram globais e dominavam outras, pela força. Não que hoje os métodos de dominação tenham mudado, porém para isso, se tornaram mais sutis, e não menos violentos.  Desse modo, a sensação de violência sofrida é que pode demorar algum tempo para ser sentida; o que não ocorre de maneira uniforme por todas as populações subjugadas.  Sem falar na corrupção, a maior aliada dos dominadores contra os subjugados. Assim, pessoas do lado dos oprimidos, se veem partidárias de seus opressores, em nome de possíveis vantagens pessoais adquiridas. Alexandre, o primeiro grande conquistador, certamente de modo involuntário, foi o primeiro a difundir o globalismo, através de seus exércitos. Porém, conforme diz sua história, ele teria chorado por n