Pular para o conteúdo principal

Desglobalização: do Quantitative Easing à política monetária da estagflação global

 Na atualidade, os economistas liberais precisam atuar mais como filósofos sofistas, através de técnicas discursivas, dentre as quais se tornaram experts em retórica e dialética, do que propriamente, como cientistas econômicos.

 Por isso enfatizam por força de expressão, teses nas quais se reinventam visando lhes isentar de culpa e de quebra, reforçar dogmas de políticas monetárias alternativas que como sempre, só beneficia o 0,25% do topo (do 1% mais rico), da elite dominante global.

 Há cerca de dois anos uma nova proposta foi amplamente discutida e defendida como alternativa de alavancagem de economias desenvolvidas que tivessem como principal objetivo, a preocupação em fazer frente ao avanço da economia chinesa no cenário mundial. 

 O Quantitative Easing - QE (ou Flexibilização Quantitativa), tem sido um modo "meio" keynesiano de estímulo econômico encontrado pelos liberais monetaristas (de Chicago), que trás como premissa, ações indiretas de injeção de dinheiro novo na economia, por meio dos bancos centrais para com as entidades bancárias de varejo.

 Através dessa via, a teoria prega que os bancos centrais irrigariam determinados setores, através da compra de papéis privados de dívida com elevado risco, ou então, a aquisição de títulos públicos de Tesouro. 

Sede do Federal Reserve (Reserva Federal), o banco central dos Estados Unidos em Washington - Foto: Divulgação.

 Por meio disso, as instituições financeiras (bancos comerciais), fariam a pulverização desses recursos via abertura de linhas de crédito para o financiamento de áreas específicas da economia. 

 A polêmica entre os críticos ao redor do mecanismo de QE, é o que ficou entendido nas entrelinhas, como práticas às quais lembram a "impressão de dinheiro". 

 A ideia, é que com mais solvência entre os bancos, os juros básicos (e depois de varejo), cairiam no longo prazo, propiciando assim, melhores condições de financiamento a empresas interessadas em aumentar ou melhorar suas capacidades produtivas, alavancando a economia.

 Como se sabe porém, a mera fabricação de cédulas monetárias para serem distribuídas numa economia, se faz como um dos principais geradores de inflação. Na própria visão monetarista, governos que imprimem dinheiro para compensar seus déficits, tendem a provocar efeitos inflacionários com essa prática.

 Os defensores do QE e do MMT (Moderna Teoria Monetária), argumentam que essas medidas não foram os fatores os quais geraram a inflação global vigente. Alegam ainda, que as causas que impulsionam o atual fluxo inflacionário, seriam a pandemia de Covid-19 e a guerra na Ucrânia, e que assim teria provocado quebra na cadeia global de suprimentos.

 Ocorre que se esses mecanismos monetários tivessem mesmo funcionado, dificilmente teria havido quebra no fornecimento global de insumos (essenciais para mantê-los constantes), nos processos produtivos mundiais. 

 Com tecnologia e modernas técnicas de extração e/ou produção de commodities, há um menor uso de mão de obra humana nesses processos produtivos, sendo por isso, mesmo com quarentenas e lockdowns, não haver empecilho para tal.

 Desse modo, é preciso compreender que inflação pode ser desencadeada de duas formas: 

 -pelo lado da demanda - quando há excesso de liquidez na economia, em que ocorre aumento do consumo; 

 -e pela via da oferta - que se dá com a quebra dos fluxos de produção (como agora), onde mesmo que a demanda esteja em trajetória de queda (por perda de renda das famílias), a oferta reprimida acaba por encarecer produtos essenciais básicos, como alimentos.

Christine Lagarde é a chefe do Banco Central
Europeu, responsável pela emissão do euro
que circula nos países da União Europeia - Foto: 
Daniel Roland/ Agência France-Press/ AFP.
 Agora os bancos centrais, usam a política monetária (que provoca o efeito inverso esperado com o uso do QE sobre os juros), para conter a inflação cuja natureza é de custos, em função da baixa oferta de matérias primas e insumos para abastecimento dos meios produtivos em larga escala.

 É aí, que entra a desonestidade de alguns economistas defensores do Quantitative Easing, ao afirmarem que os bancos centrais não são responsáveis pela inflação global, por terem feito uso do referido instrumento monetário, já que a inflação se dá por irregularidades no fornecimento das cadeias de suprimentos

 Em contraponto à isso, de modo indireto e involuntário, esses especialistas reconhecem que aumento de juros para o combate a esse tipo de inflação, propala um efeito completamente neutro ou indiferente sobre a escalada ascendente dos preços.

 Além disso, o uso de juros para combater ciclos inflacionários, reforça possibilidades de estagnação econômica - justamente o que o uso do QE visava evitar e que organismos como a OCDE e o Banco Mundial já estão prevendo para a economia mundial: um cenário de estagflação (junção de economia estagnada - que não cresce - com inflação descontrolada).

 Nessa concepção é importante saber para onde os recursos despendidos pelos bancos centrais aos bancos, foram direcionados. Uma boa hipótese ao redor disso, é que uma parte dos fluxos de capital agora surfam na onda de valorização de commodities, justamente o fator que tem gerado inflação pelo mundo, dado aos baixos volumes de estoques verificados. 

Para muitos economistas, o Quantitative Easing, se trata de uma forma inovadora de impresão de dinheiro, que porém, não irriga a economia real, mas a especulativa do rentismo financeiro -
Foto: Getty Images.

 Outros montantes, podem estar rendendo através de operações de câmbio e sobre juros maiores por meio de títulos de dívida pública, agora que os bancos centrais estão aumentando suas taxas básicas, como meio de contenção inflacionária.

 Desse modo, a percepção que se pode extrair dessa reflexão, é que o Quantitative Easing, foi mais um instrumento usado pelas autoridades monetárias para perturbação da normalidade econômica global, e que acaba beneficiando aqueles que ganham com o caos. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rio Verde moderna

 Dando seqüência ao último post, em comemoração ao aniversário de 164 anos de Rio Verde, no próximo dia 05 de agosto, vamos iniciar de onde paramos: a década de 1960, quando relatei que a cidade enfim, inebriava-se num breve período onde a dupla Mauro Borges (governador do Estado) e Paulo Campos (prefeito), inaugurava uma fase onde o centro de Rio Verde passava por sua modernização.   Ruas de terra ou calçadas com paralelepípedo em basalto davam lugar ao asfalto. O paralelepípedo teve uma outra destinação, e foi usado como guias de sarjetas das novas ruas recém-pavimentadas.  Os postes que sustentavam a rede de energia elétrica de aroeira, deram lugar a modernos postes de concreto e uma iluminação pública mais potente ganhava as ruas da cidade. Tudo da energia provida de Cachoeira Dourada.  Conta-se que a primeira rua a ser pavimentada foi a Rua João Belo, (atualmente, Rua São Sebastião no centro antigo de Rio Verde). E o asfalto ficou tão bom, que a necessidade de recapeamen

Um nome estranho; um bairro que nasceu para ser "setor"

Para quem já se 'cansou' de ler sobre a história do nosso município que nesse finalzinho de agosto -celebra seu mês de aniversário-, deve portanto saber, que a chamada "arrancada para o desenvolvimento" de Rio Verde, se deu a partir dos anos 1970.  O certo, é que a cidade seguiu o ritmo do tal "milagre econômico" dos governos militares daquela época. Mas sem dúvida, o que foi determinante em tudo isso, se deu com a fundação da Comigo, no ano de 1975.  Desde o final da década até o início dos anos 1980 porém, a expansão urbana de Rio Verde também sofreu um elevado aumento, sendo que essa situação provocou o surgimento de bairros cuja a única infraestrutura disponível, se deu somente na abertura de ruas e o traçado das quadras.  A especulação imobiliária por parte dos herdeiros de propriedades antes rurais, que margeavam os limites urbanos da cidade, abriu espaço para bairros onde atualmente se verifica sobretudo, a apertura das ruas, em que muitas delas nã

Globalismo Vs nacionalismo e o futuro da humanidade

O mundo sempre viveu conflitos entre interesses privados e coletivos; mas apesar de ser um termo novo o globalismo por sua vez, teve papel preponderante nisso, logicamente adaptado aos contextos de suas épocas.  Antes, na antiguidade, as primeiras civilizações já eram globais e dominavam outras, pela força. Não que hoje os métodos de dominação tenham mudado, porém para isso, se tornaram mais sutis, e não menos violentos.  Desse modo, a sensação de violência sofrida é que pode demorar algum tempo para ser sentida; o que não ocorre de maneira uniforme por todas as populações subjugadas.  Sem falar na corrupção, a maior aliada dos dominadores contra os subjugados. Assim, pessoas do lado dos oprimidos, se veem partidárias de seus opressores, em nome de possíveis vantagens pessoais adquiridas. Alexandre, o primeiro grande conquistador, certamente de modo involuntário, foi o primeiro a difundir o globalismo, através de seus exércitos. Porém, conforme diz sua história, ele teria chorado por n