Os estados mais desenvolvidos, se notabilizam pelo expressivo progresso de suas cidades do interior; é o caso por exemplo do Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e como não poderia deixar de ser, São Paulo.
Já na ponta oposta, temos estados menos desenvolvidos cuja a única cidade mais importante, mais densamente povoada e desenvolvida se dá apenas em sua capital, como é o caso do Mato Grosso do Sul, Tocantins, Acre e Amapá.
Entre as unidades da federação de economias emergentes, somente o Mato Grosso possui um interior pujante, com cidades novas emancipadas no final entre as décadas de 1970 e 1980 e que já contam com mais de 80 mil ou 150 mil habitantes.
Sinop, é o melhor caso para se ilustrar tal cenário, sobre como a descentralização do desenvolvimento do interior de um estado pode beneficiar sua população; distante cerca de 500 quilômetros de Cuiabá, a cidade praticamente se viu obrigada a concentrar serviços importantes só encontrados na capital.
Por certo, o grau de desenvolvimento de cada estado, também influencia muito sobre como se dará o desempenho do interior; no Paraná e em São Paulo, a extensa malha ferroviária deu uma propulsão muito superior a seus interiores do que qualquer outro estado.
Foi nessa dinâmica que cidades como Campinas, Ribeirão Preto, Maringá e Londrina, se desenvolveram seguindo trajetórias muito semelhantes em concomitância de desenvolvimento com suas capitais (dadas as devidas proporções).
Na mesma esteira, teve-se de modo mais localizado no Triângulo Mineiro, cidades como Uberaba e Uberlândia, que cresceram ao longo da Estrada de Ferro Mogiana.
A última delas citada acima, hoje é a segunda maior cidade de Minas Gerais, desbancando Contagem (e o dogma de que o desenvolvimento estadual, pode no máximo, girar ao redor de cidades vizinhas a uma capital).
Sinop (MT), logo depois de sua emancipação em 1979; hoje o município comporta quase 150 mil habitantes - Foto: Arquivo/ IBGE. |
Em Goiás, a única ferrovia construída desde o começo do Século 20 até a década de 2000, foi a Estrada de Ferro Goiás (continuação da Mogiana - que partia de Araguari, MG, e chegava até a então cidade goiana de Campinas - hoje rebaixada apenas a um tradicional bairro de Goiânia).
De lá a ferrovia seguia até Anápolis, sendo então determinante, quais cidades estavam fadadas a se desenvolverem de modo até superior que a então capital do estad0 - a cidade homônima, Goiás.
Portanto, mesmo antes de se tornar sede do governo goiano, a região de Campinas (que atualmente é Goiânia), já era a porção mais desenvolvida de Goiás, no início do Século 20; assim Campinas já se posicionava como cidade mais populosa e Anápolis, na vice liderança estadual nesse quesito.
A Estrada de Ferro Goiás deu a Anápolis, o pioneirismo no impulso industrial goiano pelo qual a cidade ficou conhecida pela alcunha de "Manchester Goiana", por se assemelhar em certos aspectos, à região da Inglaterra na qual se originou a Revolução Industrial.
Mas com o fim da República Velha, através do golpe militar de Getúlio Vargas em 1930, tendo Pedro Ludovico Teixeira, sido líder da chamada "revolução" em Goiás, resolve transferir a sede de governo de Goiás, para Campinas (atual Goiânia).
Ludovico antes disso, tentou empreender o golpe de 1930 em Goiás, começando a sublevação por Rio Verde, vindo a ser preso e logo depois nomeado por Vargas, interventor do estado, quando a comitiva que o escoltava até a capital em Goiás Velho, foi surpreendida com o comunicado no caminho.
Naquele tempo, havia uma preocupação com a concentração de todos os serviços públicos numa única localidade e essa visão também se aplicava na economia, pois Ludovico temia que uma capital fraca, terminasse por fazer o estado perder território para estados vizinhos ou; novos estados surgissem a partir de regiões mais dinâmicas de Goiás.
Assim, a porção mais desenvolvida e potencialmente mais povoada de então, já apresentava características de uma capital que atendesse a esse objetivo.
Desse modo, Goiânia não foi apenas concentrando todo o desenvolvimento com a indústria e a prestação de serviços do estado, mas também de todo o Centro-Oeste do Brasil. Através disso, mesmo depois de consolidada a sua autonomia até a atualidade, a capital de Goiás passou a não querer dividir com o interior, certos privilégios dos quais goza.
Nesse sentido, parece proibido sobre certos aspectos, que outro aeroporto no estado seja tão movimentado quanto o Santa Genoveva, ou que a melhor infraestrutura também seja compartilhada com a prestação de serviços de nível sofisticado que rivalize com aqueles existentes na capital.
Unidade industrial de uma cooperativa agrícola em Rio Verde - Foto: Divulgação. |
Isso acabou dando mais liberdade para que cidades ao redor da capital (como Anápolis e Aparecida de Goiânia), se isolassem ainda mais na liderança industrial com relação a Rio Verde e aumentasse significativamente a distância de desenvolvimento da indústria entre elas.
Portanto, não basta que haja apenas vontade política para que o desenvolvimento abrace o interior dos estados; é preciso que este seja o desejo da classe econômica dominante local de cada município envolvido.
É a ausência dessa visão que faz todo o desenvolvimento de Goiás se concentrar na região metropolitana da capital; é algo que dá um aspecto de atraso econômico ao estado como um todo, por concentrar tudo de melhor na capital e manter importantes cidades do interior com economias tão primárias, fadadas a tão somente produzirem commodities, com quase nenhum grau de industrialização.
Desse modo, o mesmo dinamismo verificado no interior de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e até na Bahia ou Pernambuco, muito pouco é percebido em Goiás. É preciso uma mudança de rumo.
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