A pandemia de Covid-19 fez com que a atividade econômica retroagisse de tal modo que o lucro de muitos prestadores de serviços coletivos essenciais, foi reduzido de forma abrupta; é o caso dos operadores de energia elétrica, por exemplo. Com menor consumo de energia, geradoras, transmissoras e distribuidoras, tiveram por isso seus lucros também decrescentes.
O mesmo ocorreu aos combustíveis que com a queda no consumo, verificou-se o registro também do arrefecimento na oferta, que se deu como consequência para se evitar queda de preços em todas as cadeias produtivas do petróleo, já que a nova política da Petrobras, leva em conta a cotação do câmbio e do barril de petróleo no mercado internacional.
Então quando a cotação no mercado global ficou negativa, a Petrobras reduziu um pouco os preços dos combustíveis; mas a partir do momento em que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), diminuiu o ritmo de prospecção e refino de petróleo, e os estoques internacionais ficaram menores, os preços do barril começaram a reagir, levando a estatal petrolífera (semiprivatizada) brasileira a reajustar preços.
Estes dois insumos essenciais para o funcionamento de uma economia, foram e continuam sendo os itens que mais pesam na cesta de encargos financeiros que é repassada para todas as demais cadeias produtivas, gerando assim, uma inflação de custos, cuja o Banco Central deseja debelar com juros, que é um tipo de política monetária adotada para inflação de demanda.
A demanda por energia e combustíveis caiu essencialmente em função da paralisação de algumas fábricas e de escritórios - em que muitos profissionais tiveram de fazer trabalhos home office.
Temos aí, um importante desmentido observado de forma empírica: a de que as "residências consomem mais energia do que as fábricas", pois mesmo com mais gente ficando em casa para se evitar contágios de Covid-19, a demanda por energia caiu, justamente porque muitas empresas pararam e alguns profissionais precisaram trabalhar de casa, reduzindo também, a demanda por combustíveis de seus carros - além do diesel usado por caminhões e ônibus, com a diminuição de fretes e viagens.
Desse modo, como a oferta não pode ser controlada diretamente na geração de energia, mas sim, com relação ao seu principal insumo (a água), o setor valeu-se de um relatório mencionando uma suposta crise hídrica sem precedentes no país.
Assim, como os preços inicialmente ameaçaram cair justamente por conta da fraca demanda, que por ocasião do desemprego elevado, da política de achatamento do salário mínimo e dos regimes de quarentenas e lockdowns estabelecidos pelos governos como contenção de contágio da pandemia entre as populações, logo ficou evidente certas manobras entre os agentes econômicos diretamente envolvidos na área de energia, no sentido de não permitirem que os lucros de suas companhias caíssem.
Foram manipulações que deram tão certo, que o mercado de capitais onde os papéis destas empresas são negociados, praticamente passou ao largo da crise verificada na economia real, registrando lucros e pontuações recordes do Ibovespa (o principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo).
No pacote, empresas de energia elétrica (e lógico), a Petrobras, às quais tiveram alavancagem na valorização de suas ações, por conta do aumento nos lucros em potencial. A bolsa só veio ter desempenhos ruins de pontuação, após os últimos cinco reajustes na taxa básica de juros determinada pelo Banco Central, como artifício usado para controlar a inflação - pelo fato de os títulos emitidos pelo governo se tornarem mais rentáveis por isso, e serem de menor risco do que ações de empresas para investidores.
Apesar disso, a imprensa especializada alardeia prejuízos de operadores de energia, por conta da crise hídrica e até de importadores de combustíveis (por possíveis defasagens nos valores cobrados com relação aos custos) - em detrimento de efeitos reais similares sobre o bolso do consumidor final; mas não esconde lucros recordes registrados pela Petrobras, justamente após os seguidos aumentos sobre derivados de petróleo, à qual culpa os impostos estaduais pelos reajustes.
Porém a política de preços adotada pela Petrobras, não faz o menor sentido, uma vez que a produção de combustíveis é totalmente nacional, e que portanto, se faz inconcebível a sua importação, bem como ainda, de insumos e serviços para a produção de derivados de petróleo que ainda são refinados no Brasil; se antes da Operação Lava Jato, tudo que a Petrobras precisava para desempenhar seus trabalhos, ela conseguia através de empresas nacionais (desmanteladas pela ação judicial estatal encabeçada pelo Ministério Público Federal).
O fator câmbio é outro agravante já que com a importação maior de insumos, tudo fica mais caro; o que sugere ao Banco Central um maior controle sobre as reservas cambiais que garantissem menor volatilidade da moeda norte-americana no mercado doméstico de câmbio
Assim últimas aquisições de ouro feitas pela autoridade monetária, poderiam ser consolidadas com mais medidas semelhantes para estabilizar a cotação do dólar no atual patamar de R$ 5,4 e não revalorizar o real a R$ 3,8 por dólar como anteriormente.
Desse modo, a versão dada pela empresa de petróleo brasileira sobre o peso dos impostos, na composição de valores sobre os combustíveis, dá um entendimento de que governadores de estados e suas respectivas assembleias legislativas, estejam regularmente aumentando alíquotas do ICMS dos combustíveis, e que a empresa estaria sendo "obrigada" a repassar tais reajustes contínuos do imposto, sobre seus produtos.
A conjuntura ilustra sobretudo que a "lei da oferta e demanda", pode ser manipulada de tal forma que aqueles que a controlam, sempre estão em condição de vantagem (e jamais perdem), além das mais mirabolantes alegações para se justificar tantos aumentos seguidos de preços; mesmo em situações de crises globais de saúde pública onde o número de vidas perdidas é extremamente preocupante.
Porém, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), denuncia que a principal razão para a crise hídrica, seria a abertura de comportas das usinas hidrelétricas que reduziu o nível dos reservatórios, como modo de pressionar os preços e assim garantir taxas de lucros maiores, ainda que com demanda menor de energia elétrica. Algo que compromete inclusive, a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), brasileiro, para o próximo ano, projetada pelo mercado em cerca de 1,5%.
E nesse cenário surgem as usinas termelétricas, cuja a produção de eletricidade é mais cara, às quais são acionadas para cobrir o "déficit" de geração das usinas hidrelétricas. Além disso, a Petrobras entra mais uma vez no segmento energético (não somente sobre combustíveis fósseis), como também na geração térmica de energia elétrica, que contudo, recebe do governo pelo que é gerado dessas usinas, mesmo quando elas não são necessárias.
A situação tende ficar ainda mais dramática depois que o presidente Jair Bolsonaro disse nesta segunda-feira (27), que "nada está tão ruim, que não possa piorar", quando se manifestou sobre a inflação que deriva principalmente, de preços administrados como combustíveis e energia; algo que deixou o mercado tranquilo por entender que inflação maior é lucro certo sobre dividendos pagos pelas empresas do setor energético.
O presidente da República também sinalizou preocupação em elaborar medidas que reduzam o preço dos combustíveis, mas considerou que não pode intervir na política de preços da Petrobras, gerando uma reação vista como despropositada do presidente da estatal, Joaquim Luna e Silva, de que a empresa manterá a atual política de preços, gerando apreensão no mercado (que ficou sem entender qual seria a verdadeira razão da coletiva de imprensa convocada pelo CEO da Petrobras - para dizer apenas que continuará tudo do jeito que está).
E em todo esse cenário pré-apocalíptico "venezuelante" de aumentos seguidos de preços, inflação em países centrais como os Estados Unidos e o desabastecimento sobre itens de primeira necessidade verificado no Reino Unido (inclusive de combustíveis), pode servir para fortalecer o discurso do governo de que a inflação veio para fazer parte da paisagem brasileira.
Tudo porque quando as leis da mão invisível do mercado tendem a falhar nos lucros, alguns agentes econômicos apoiados pela leniência e permissividade de governos (os quais também se chamam "liberais"), mexem os pauzinhos e assim, mudam tendências desfavoráveis sobre os preços que praticam.
Agora que existe a expectativa de reabertura das economias e com ela, não propriamente de aumento da demanda, mas de normalização a patamares anteriores à pandemia, o mercado aproveita para lucrar ainda mais do que já veio lucrando até aqui. Somente o céu é o limite ou nem mesmo isso, talvez a estratosfera, onde os bilionários agora estão indo fazer turismo espacial.
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