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O mercado, a política e a realidade

  Nas últimas semanas, o Ibovespa, índice que mede o desempenho da Bolsa de São Paulo, se recuperou do baque inicial em função dos impactos da pandemia do coronavírus sobre as economias globais e atingiu níveis acima dos 97 mil pontos. Embora essa pontuação tenha recuado nos dois últimos pregões antes do feriado de Corpus Christi, o movimento não foi mais que uma mera realização de lucros; algo que poderia ser visto com naturalidade, se não fosse pela situação da economia real, com o aumento de mortes, a saturação das estruturas e atendimento de Saúde, o desemprego, o aumento da inadimplência e a redução do poder de compra dos trabalhadores, que consequentemente pode afetar os papéis negociados das empresas na bolsa.

 Como se fosse pouco, as consequências econômicas em função de quarentenas e lockdowns determinados por governos nacionais ou locais em diversas partes do mundo, manifestações contrárias a outras gestões públicas de tendências autoritárias, ou ainda, ligados a protestos contra atos racistas cometidos por policiais a populações negras, especialmente no Brasil e nos Estados Unidos, além da reação ensaiada da parte de alguns governos nacionais no confronto com esses manifestantes, em nada indica constranger operadores do mercado na realização de lucros, por meio da forçosa movimentação que eleva a valorização das ações de empresas negociadas.

 Porém, de acordo com analistas e especialistas do mercado de capitais, a onda de recuperação tanto da bolsa, quanto do câmbio, seriam ajustes naturais após o índice de ações ter recuado demais e o câmbio, avançado muito além de seu ponto de equilíbrio conforme a determinação de inércia do próprio mercado. Outra alegação seria de que o Ibovespa estaria acompanhando índices de bolsas americanas - o que também não faz o menor sentido, uma vez que a situação econômica e social nos Estados Unidos, além do clima político e eleitoral carregado no país, não anda nada bem e tem por essa lógica leiga, a ideia de que também deveria afetar negativamente no desempenho dos mercados financeiros, na "Meca" do capitalismo mundial. 

 Ainda que os argumentos acima sejam até..., digeríveis, outra afirmação de entendidos do meio, se deve à elevação dos níveis de liquidez e solvência, os quais pelo visto, só são sentidos apenas entre os operadores do mercado de capitais; já na economia real, a briga entre empresários, essencialmente dos setores de comércio e serviços, com governantes locais (para reabrirem seus estabelecimentos), esbarra na ausência de coordenação de políticas públicas econômicas que fizessem recursos de financiamentos providos dos agentes oficiais estatais com juros subsidiados, chegarem a micro e pequenos empresários (os mais afetados pelos regimes de quarentena e lockdows de enfrentamento da pandemia).

Avenida Faria Lima em São Paulo (foto: Agência O Globo). 

 Linhas de financiamento para capital de giro providos do BNDES e fundos constitucionais de fomento regionais, tais como o FCO no Centro-Oeste do País, acabam chegando primeiro para as grandes empresas (justamente aquelas que negociam ações na bolsa brasileira em São Paulo), do que para aqueles os quais estão diretamente mais envolvidos com a economia vivida pela imensa maioria das pessoas no Brasil.

 Nesse sentido torna-se compreensível a razão para os "faria-limers" (apelido 'gringo' dado aos operadores do mercado, cuja escritórios das corretoras em que trabalham ficam na avenida Faria Lima, na capital paulista), se fartarem em lucros fáceis com operações de câmbio, commodities e ações, enquanto aqueles que trabalham em empreendimentos empresariais físicos, batem cabeça para honrarem compromissos com funcionários, fornecedores e o governo (por meio de impostos), sem saberem como farão tal proeza, se estão impedidos de seguirem com suas atividades normalmente. Algo que denota o quanto a economia real e a financeira, vieram se descolando nesses 40 anos de vigência neoliberal, sobre economias emergentes como o Brasil.

 Com isso, os níveis de desemprego saltam a olhos vistos e a deflação, como principal termômetro sobre o fenômeno da queda generalizada de preços, ocasionada pela redução da renda assalariada que afeta no consumo e sinaliza ainda, a iminência de retração no ritmo de atividade econômica, em nada parece afetar no aparente otimismo fora de lógica dos operadores do mercado financeiro, seja no Brasil ou no resto do mundo. Só nos resta agora, continuar acompanhando o noticiário especializado do meio, e tentar entender através de argumentos, razões que fossem mais plausíveis a um entendimento do que realmente ocorre entre o céu e a terra, melhor compreensíveis em nossas vãs filosofias.   

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