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O bem vindo revigoramento do liberalismo na imprensa internacional e que tem sido acompanhado pela brasileira

 O surpreendente editorial do jornal britânico Financial Times, publicado em sua versão impressa com o título "Por que o capitalismo rentista prejudica a democracia liberal", pelo menos no Brasil, foi replicada em português por no mínimo dois dos maiores jornais do país, Valor Econômico, ligado ao Grupo Globo e Folha de S. Paulo.

 Mas a publicação do Reino Unido não teve essa como única ou a primeira de suas opiniões editoriais do gênero. Basta uma ligeira zapeada pela versão virtual na internet do FT, que só pelos títulos, é possível perceber a independência com que o jornal manifesta suas ideias, frente aos acontecimentos em curso nas políticas econômicas, tanto privadas quanto estatais.

 Lionel Barber, que é diretor de redação do periódico britânico mais respeitado do meio financeiro, disse em entrevista ao site da BBC News Brasil, que o capitalismo precisa de um novo começo e que desde a crise de 2008, tem vivido sob pressão, por não mais satisfazer as necessidades humanas de forma plenamente efetiva. Efeitos do rentismo, de acordo com ele.

 No título de Martin Wolf, mencionado acima, são citadas uma série de análises científicas de especialistas ligados às principais universidades europeias e americanas, além de estudos do próprio Fundo Monetário Internacional (FMI), corroboram a noção de que a ênfase nos ganhos financeiros exacerbados, tem gerado um tipo de capitalismo inútil e improdutivo.

 De acordo com o apurado, a desregulamentação do setor financeiro desde 1980, fez crescer ainda, a desigualdade de remuneração entre profissionais que trabalham nesse seguimento, com relação a outros ligados a áreas produtivas, conforme constatado por um dos estudos citados no artigo de Wolf no Financial Times, publicado na última quarta-feira, dia 18. 

 Trazendo ainda uma série de gráficos que mostram o aumento dos ganhos rentistas em detrimento da redução dos níveis de produção entre as principais economias mundiais, o jornal mostra o dramático quadro de estagnação econômica que compromete a renda das classes médias e o futuro dos adolescentes nas nações consideradas mais desenvolvidas.

 Além disso, com base nesses estudos, a publicação descarta que as razões para o empobrecimento das famílias dos países de altas rendas, se deva ao deslocamento das unidades de produção para a China e nem sobre as alegações xenófobas de que a imigração estaria reduzindo a qualidade dos salários e dos empregos no primeiro mundo.

O surpreendente artigo do FT, não é de longe, algo novo em sua linha
editorial  mas  sem  dúvida,  uma  reflexão  preciosa  e  extremamente 

necessária para nossos dias.
 Martin Wolf, trouxe ainda em seu artigo para o Financial Times, que as distorções tributárias propiciadas por brechas fiscais, essencialmente nos paraísos offshore é o que mais tem beneficiado o rentismo nos últimos 40 anos, e que esses desdobramentos têm corroborado discursos políticos populistas de extrema-direita, essencialmente na Europa.

 Por fim, o artigo salienta que as rendas estão sendo infladas pelo mau comportamento financeiro dessas distorções fiscais com práticas anticompetitivas e que além disso, as economias ocidentais, adotaram formas mais latino-americanizadas de distribuição de renda em função de suas políticas terem sido inspiradas em práticas latino-americanas. 

 Essa constatação do diário britânico pode ter uma lógica ligação, também com o Brasil, que tem crescido pouco, distribuiu consideravelmente a renda nos anos 2000, mas agora teve esse processo distributivo arrefecido, desde 2014 (ano em que se acreditava, haveria uma reinauguração do país), na euforia governamental, mingada com os protestos de 2013.

 Assim, é importante que a imprensa seja a principal articuladora, não só de uma nova proposta para o capitalismo mais socialmente inclusivo como condição primordial para a preservação das democracias, mas ainda, no revigoramento dos princípios liberais clássicos, desde o iluminismo, que forjaram as bases do capitalismo tão bem sucedido no Século 20.

 Mas para tal, é preciso dizer que se as democracias liberais no primeiro mundo correm riscos, em países emergentes como o Brasil, elas sequer tiveram a chance de maturarem ou se aperfeiçoarem. Pior, no Brasil paira além disso, a hipocrisia daqueles que se dizem liberais na economia, mas conservadores nos costumes e que em razão disso, são intervencionistas.

 Até  porque uma vez que esses atores se tornem parte de governos subnacionais, se sentem no direito de intervirem nos negócios daqueles vistos como adversários, apenas por questionarem seus métodos de condução política de governo. O Financial Times assim, demonstra a independência e a liberdade editorial, na defesa do verdadeiro liberalismo.    

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