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O surto ultra-direitista "jabuticabesco" brasileiro

 Um misto de revolta aparentemente sem causa, porém perfeitamente compreensível tomou conta da maior parte da população brasileira, desde a eclosão das manifestações de junho de 2013; de repente as pessoas começaram a se preocupar mais com a moralidade pública, com a qualidade dos serviços públicos e com a probidade dos governos.

 No entanto, conforme constatado pelo professor, Francis Fukuyama, da universidade americana de Stanford em entrevista concedida ao jornal O Globo (confira no link), o fato das manifestações contra a corrupção terem se arrefecido no Brasil no decorrer do governo Temer, indica algo muito ruim para a democracia.

 Para Fukuyama o fato do uso ideológico das manifestações contra a corrupção onde evidenciou a cissão entre direita e esquerda, também é outro ponto negativo para a democracia brasileira, uma vez que o tema é tratado apenas como mote de acusação entre defensores de uma ideologia contra a outra.


Para  jornal  francês,  Libération, Bolsonaro
é "racista, homofóbico, misógino e pró-dita-
dura". 
 O professor Fukuyama lembrou ainda que é ruim, o fato da população não ter tido o mesmo afinco com as manifestações contra a corrupção, em relação ao atual presidente brasileiro (acusado de improbidade), por ele não ter sofrido qualquer tipo de punição e nem sequer ter o processo prosseguido nas demais instâncias institucionais da República. 

 De acordo com o professor de Stanford, isso é a indicação de que as manifestações contra a corrupção em 2013, 2015 e 2016, eram na verdade, contra apenas um único partido e não contra toda a classe política envolvida em corrupção. Ele também disse que o candidato a presidente, Jair Bolsonaro, parece ser um "populista genuinamente perigoso".

 As contradições e as incoerências da extrema direita brasileira chamam a atenção até mesmo de expoentes políticos considerados do mesmo nicho ideológico de outras partes do mundo, como a líder do partido de ultra direita francês, Rassemblement National (Agrupamento ou Frente Nacional) Marine Le Pen (veja aqui).

 Len Pen declarou em entrevista a uma emissora de TV francesa que "ele (Bolsonaro), diz coisas extremamente desagradáveis que são intransponíveis na França", e alfinetou: "são culturas diferentes". Marine Le Pen, fez questão de frisar ainda que as declarações de Bolsonaro não podem ser confundidas como sendo de extrema direita.

 Ao mencionar a diferença nas culturas, a líder ultra-direitista francesa quis dizer que a cultura brasileira é inferior à cultura da sociedade francesa por tolerar tamanho discurso de ódio e de violência em nome do puritanismo conservador radical de classe média, como se admite no Brasil atualmente.

 Essa cultura brasileira, como inferiorizada por Le Pen, parece ter contaminado até mesmo os brasileiros residentes na Europa, onde Bolsonaro liderou os votos do primeiro turno com Ciro Gomes logo atrás com uma forte diferença percentual em relação ao primeiro colocado na apuração das urnas.

 Embora o candidato Ciro Gomes, do PDT, tenha vencido a eleição em Paris e Berlim (na Alemanha) e Haddad (PT), ficado em segundo, a situação evidencia a incompreensão dos brasileiros residentes na Europa, sobre as verdadeiras causas das mazelas nacionais no Brasil em comparação ao que a Europa conseguiu preservar de sua prosperidade do pós-guerra.

 Os brasileiros que vivem em meio à cultura do estado de bem estar social europeu, ainda desconhecem a importância da figura dos Estados Nacionais como principal instrumento para reparação de injustiças sociais provocadas pelo capitalismo e basicamente adotaram o discurso anti-petista contra o que consideram assistencialismo estatal aos mais pobres.

 Nem mesmo os protestos do "Ele-Não" em algumas cidades europeias, fez com que a grande maioria dos brasileiros votantes em Bolsonaro (do velho continente), mudassem de ideia quanto ao voto que depositaram nele. Muito menos ainda, com publicações da imprensa internacional contra aquele que é chamado por seus eleitores de "mito". 

 O jornal francês Libération em matéria de capa de sua edição do último dia 5, adjetivou Bolsonaro como "racista, homofóbico, misógino e pró-ditadura". A mais respeitada revista britânica sobre Economia, The Economist, publicou duas reportagens negativas sobre Bolsonaro, na primeira também destacado na capa, classificou o candidato como "desastre".


Le Pen: "Bolsonaro não tem nada de extrema-direita;
diz  coisas  intransponíveis  na  França;  são  culturas
diferentes".
 Ainda em sua primeira menção a Jair Bolsonaro, a Economist, ressalvou que o presidenciável do PSL, "representa uma ameaça para o Brasil e a América Latina". Já na outra reportagem sobre ele, a revista do Reino Unido publicou artigo com o título, "Flashback para 1964: O autoritário brasileiro sem um exército".

 Além do Libération e da Economist, o jornal americano The Wall Street Journal, abordou ironicamente sobre o nível de entendimento dos eleitores de Bolsonaro, além do The Washington Post e o The New York Times que reportaram textos referentes ao candidato líder nas intenções de voto das eleições presidenciais.

 Todas essas publicações de certa maneira, demonstram escandalização em relação a declarações e a forma de condução da campanha de Jair Bolsonaro, mas o mundo todo parece estar errado, quando somente os eleitores dele parecem convencidos de estarem certos e cheios de razão, como bem lembrado pelo The Wall Street Journal.       

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