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Gentrificação às avessas

 Se o poder público tivesse o mesmo cuidado urbanístico que o de grandes incorporadoras responsáveis pela construção de condomínios horizontais de alto padrão em Rio Verde, certamente teríamos uma cidade dentro dos mais elevados gabaritos urbanos de qualquer país visto e considerado desenvolvido, ou de primeiro mundo.

 Mas a maior curiosidade em torno disso, se dá nas tentativas desesperadas do setor imobiliário rio-verdense, em ocupar as extremidades da cidade com condomínios luxuosos, além das fronteiras periféricas dentre bairros tradicionais, como até mesmo o Promissão - conhecido por abrigar uma população predominantemente pobre.

 Na outra ponta, em sentido norte, os novos bairros médios, mas de padrão de renda baixa, se proliferam com lotes a preços módicos, devido ao arrefecimento do mercado imobiliário em função da crise nacional provocada pelo golpe de 2016. E no noroeste, o bairro Serpró (ilhado por condomínios e bairros de renda média alta), em breve experimentará o fenômeno da gentrificação. 

 Mas apesar de estar realizando reuniões itinerantes com a comunidade para a discussão do novo plano diretor, o poder público municipal tem aprovado seguidos projetos de expansão urbana do município, sem nenhum critério aparente e que obedecem claramente a interesses especulativos. Caso flagrante foi a última aprovação na Câmara de Vereadores.

 Ainda que a sociedade civil com a ajuda de figuras do Judiciário e do Ministério Público estejam praticando uma inconstitucionalidade ao tomarem para si a atribuição de construir uma obra pública no lugar do ente de governo estadual, a Câmara de Vereadores aprovou o plano de expansão urbana para a região onde está sendo construída a nova casa de prisão provisória (CPP).


Sessão da Câmara de Vereadores que aprovou (confira no link), a ampliação da zona de expansão urbana na região sul de Rio Verde (foto: Câmara de Vereadores de Rio Verde).

 O plano de expansão da área urbana era alegadamente necessário para a região sul de Rio Verde, tendo em vista uma nova proposta de empreendimento imobiliário para as redondezas e que contará inclusive com uma nova avenida de acesso à qual já teve sua construção iniciada, tão logo o projeto de expansão urbana para lá, foi aprovado na Câmara. 

 O mencionado empreendimento citado pertence a ninguém menos que o secretário de gabinete do prefeito, Dannillo Pereira, e como mesmo foi referida por dois vereadores da oposição, a situação pode mesmo se caracterizar como "informação privilegiada", uma vez que se pretende instalar um "novo distrito industrial" para gerar ocupação aos detentos das unidades penitenciárias.

 Não se sabe ao certo como um condomínio de alto padrão naquelas redondezas pode vir a valorizar o local, ficando ao lado da estação de tratamento de esgotos. Apesar disso, o setor privado em conjunto com o poder público manifesta a suposta preocupação em gerar postos de trabalho para presos, em vez dessa preocupação estar ligada a trabalhadores de bem e que nunca praticaram qualquer ato delituoso. 

 Exatamente por tal situação, a aposta na especulação imobiliária para aquela região da cidade, se configura de certa forma paradoxalmente com os critérios de gentrificação correntes, e que ocorre com a urbanização de áreas limítrofes além de locais já ocupados por bairros periféricos de renda média baixa.

 A tendência natural a esse processo certamente se daria em torno dos moradores do Jardim Adriana, um bairro "periférico" - o qual fica encostado ao centro antigo de Rio Verde -, e que faz fundos com a unidade prisional a ser desativada, assim que a nova (em construção), passe a funcionar. 

 Tudo porque umas razões para a retirada da CPP de lá, é justamente em torno da especulação imobiliária, na preocupação em verticalizar o local com novas torres de apartamento; tendo em vista que o Jardim Adriana se localiza com os fundos do centro antigo, e ficar em frente ao mal construído espelho d'água (de péssima conservação), na confluência dos córregos Sapo e Barrinha.

 Ao se observar a margem sul do mencionado "cartão postal" da cidade, em que já foram erguidas três torres de apartamentos (enquanto outras duas estão em processo de construção), notadamente a preocupação se dará também em preencher a margem oposta do referido espelho d'água com mais empreendimentos imobiliários desse porte. 

 Para Lesley Williams e Robert Adelman, da Universidade da Georgia, nos Estados Unidos, gentrificação, é um fenômeno que afeta a dinâmica da composição do local, no qual acaba valorizando a região e encarecendo o custo de vida de moradores pobres residentes, os quais são obrigados a se mudarem para um local mais distante.

 No sentido oposto aos processos de gentrificação ocorridos em várias partes do mundo - onde as regiões centrais das cidades passam por mudanças que tornam mais difíceis a permanência de pessoas com menor poder aquisitivo -, no processo em curso de Rio Verde, se dá de modo inverso onde as extremidades do perímetro urbano, são usadas para especulação imobiliária.

 Isso porém não descarta que o processo se dê ainda da forma convencional, onde dentro em breve, os moradores do Jardim Adriana que enfeiam a região do espelho d'água, serão de uma maneira ou de outra, "convidados" a se retirarem de suas casas; bem como também, os moradores do Serpró, mencionado acima, e pelo que tudo indica ainda, até mesmo os do Promissão, em um futuro não tão distante.       

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