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Javé cada vez "mais parecido" com Mamon?

 A sociedade contemporânea demonstra estar cada vez mais religiosa e vem gradativamente assumindo posições que em tese esboçam maior puritanismo, embora nem sempre coerente com o comportamento prático dessas pessoas. O recurso da religiosidade por isso, parece mais obedecer ao princípio de uma mera convenção social.

 Dessa forma a manifestação de crença ou fé propriamente dita se perfaz na quantidade de vezes em que o indivíduo é visto nas celebrações cristãs, como critério de avaliação que indica sua devoção ao sagrado. Outra forma para isso ainda, se faz nas vultosas somas em dízimos, ofertas e doações em dinheiro ou mantimentos para as entidades cristãs.

 Com isso, a legitimação excludente torna natural práticas sutis de discriminação para quem não atende ao padrão do modelo de cristão perfeito. Além disso, uma alfinetada aqui outra palavra "encostada" ali, denota o clima hostil e pouco aprazível ao que se propõe o meio religioso cristão. A regra é: ou você tem uma família "comercial de margarina" ou está fora.

 No campo político e ideológico econômico, Deus é moldado de acordo com o pensamento dominante conservador e tradicionalista, embora o termo liberalismo não deva ser confundido com libertinagem moral. Por meio desse entendimento portanto, Javé (ou Jeová para os "íntimos"), se assemelha cada vez mais a Mamon - deus do dinheiro.

 Pelo menos o argumento liberal foi usado por muitos deputados da chamada "bancada evangélica" na Câmara, em que alguns deles disseram ter "obedecido à vontade de Deus", ao votarem regras que precarizam relações trabalhistas e o manifesto favorável dos mesmos quanto a propostas que também obstaculiza futuras aposentadorias aos trabalhadores.

 Já na cadência que dita o ritmo da teologia da prosperidade, muitos cristãos são levados a crer na associação do culto ao Deus Javé, com as bênçãos recebidas na forma de visíveis melhoras no padrão de vida dos fiéis. E ainda que não seja plenamente assumida no meio católico, sutilmente também vem dominando essa compreensão no mesmo conceito.

 Nesse entendimento em que boa parcela dos cristãos relacionam a obtenção de sucesso material a intensidade da fé, são muitos aos quais avaliam por meio disso, quem teria ou não, maior crédito divino que lhe gabaritasse àquilo que se entende por prosperidade. Através dessa concepção aqueles que não atendem a esses critérios, tornam-se assim, excluídos.

 O perfil do cristão exemplar portanto, e potencialmente dotado de bênçãos materiais, se faz dentro do critério do membro pertencente a uma família padrão classe média - com o papai, a mamãe e os irmãozinhos (como já mencionado anteriormente) -, e ainda plenamente graduado dentro de preceitos semelhantes àqueles vistos no que se entende por meritocracia.

 Além disso, o fiel deve ter uma postura que evidencie aparência de sucesso, vitória e por isso: ser alguém exemplar; não demonstrando frustração e desânimo, muito menos apelar ao vitimismo nas ocasiões de fracasso ou derrota. Nada portanto que abra espaço para os queixosos ou melancólicos caracterizando alguém sem a devida comunhão com Deus. 

 Consequentemente a pessoa sem as características próprias pregadas pela teologia da prosperidade e que em tese a habilita para o sucesso, se vê relegada a uma espécie de ostracismo religioso no qual não tem muito espaço dentro das igrejas além de ficar na plateia durante as celebrações ou nos movimentos internos extra religiosos de menor importância.


Javé teria a mesma personalidade e defende ideias liberais assim como se supõe a Mamon?

 Observando a conjuntura cristã do que vem a ser a personalidade de Deus, plenamente alinhada aos interesses do liberalismo, a da menor intervenção estatal na economia e onde o darwinismo social predomina (em que somente os mais fortes ou aqueles mais firmes na fé, se sobressaem), podemos antever a figura de Javé muito próxima à de Mamon.

 Algo que contraria no entanto, dizeres do Filho de Deus enquanto esteve na Terra e ensinou aos homens que não se deve servir a dois senhores: isto é, a Deus e ao dinheiro (sendo Mamon a personificação do dinheiro como tal), e onde se tem o esfriamento da caridade e do altruísmo que cede espaço para a ostentação egocêntrica e o individualismo. 

 O Evangelho de Mateus 6:24 é bastante claro nesse sentido e a própria vida de Jesus dada como testemunho de fé, é narrada tendo o Cristo estando ao lado - não dos vencedores e homens bem sucedidos da época -, mas justamente porém, na companhia dos fracassados e excluídos da sociedade de seu tempo. 

 Apesar de contrariar portanto, uma recomendação de Cristo, os ditos seguidores, tomam Javé na mesma concepção de Mamon. O que Deus ou Jesus irão fazer quanto a essa prática da religiosidade moderna, permanece uma verdadeira incógnita para aqueles que creem. No momento o que parece prevalecer é que Deus indica estar de acordo com tudo isso.          

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