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Com tema espinhoso Campanha da Fraternidade tenta unir uma Igreja cada vez mais desunida, narcisista e individualista

 Lançada tradicionalmente todos os anos na Quarta-feira de Cinzas, a edição da Campanha da Fraternidade 2018 deste 14 de fevereiro, não poderia mais continuar sendo postergada com temas manjados relacionados ao meio-ambiente, ignorando aquilo que mais tem deixado a sociedade, principalmente católica, apreensiva. O tema segurança pública enfim ganhou destaque na cúria dos bispos brasileiros.

 Por meio então de sua mais elevada instituição, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), tenta se atualizar em torno de temas os quais realmente tem gerado verdadeiro impacto na sociedade contemporânea; o desafio porém, é trazer essa abordagem para suas fieis causas e não apenas cair na mesmice em se analisar apenas as consequências ou os efeitos nocivos da violência sobre a sociedade. 

 O risco é a campanha se perder em meio às banalidades dos rituais católicos da Quaresma e a grande reflexão sobre o tema ficar postergada apenas ao armamentismo, ao encarceramento em massa de pobres, ou na redução de maioridade penal e até mesmo com a pena de morte (o duro é saber que os "seguidores de Cristo" o matariam de novo, se tivessem uma nova chance para isso).

 A Igreja Católica ao perceber a concorrência e a perda de fiéis para as denominações evangélicas, tradicionais ou neopentecostais, decidiu agir, e em contraposição a outro importante movimento endógeno, o qual se viu remanescente de ideias progressistas e consideradas de "esquerda" com a Teologia da Libertação, buscou no movimento da Renovação Carismática Católica um maior investimento a partir dos anos 1980.

 Agora mais do que nunca, os bispos católicos precisam alinhar seus discursos (ainda um tanto progressistas), ao conservadorismo renovado de uma Igreja cada vez mais narcisista, individualista e fragmentada. As disputas internas nas paróquias pelo Brasil, dariam novelas intermináveis dentre os distintos grupos e que por vezes acabam se afunilando até mesmo na rivalidade entre paroquianos e o clero, gestor das entidades eclesiais católicas. 

 Além disso, a CNBB precisa conter a ânsia reacionária que por muitos anos se viu em estágio de hibernação e agora além de desperto, ameaça sair fora de controle, em vista de uma sociedade de cristãos (de uma forma geral), cada vez mais intolerante e insensível ao sofrimento humano, e a qual pratica uma caridade fria e pouco calorosa, mais preocupada somente com o rótulo do "bom samaritano".

 Algo que na prática exprime apenas a vaidade de uma necessidade fútil e banal de se sentirem superiores, ao fazer uso de sua suposta generosidade para com o "próximo" (mantido a certa distância), e portanto nada que passe disso, já que se enxergam muito ocupados com seus afazeres pessoais e com a organização administrativa de suas paróquias, ou mesmo ainda, das festas com fins de arrecadação de fundos.

 Afinal já faz algum tempo que a Igreja Católica vem paulatinamente abandonando obras de caridade por meio da gestão de hospitais, asilos, orfanatos e creches, ao passo que é visível a preocupação, tanto de párocos (o padre chefe da paróquia), quanto de seus paroquianos (fiéis frequentadores das paróquias), para com a manutenção por meio de constantes reformas das estruturas físicas das igrejas e espaços comunitários a elas ligados.

 E para tornar tudo isso possível, é necessário a realização de eventos cuja a única intenção é arrecadar recursos para fazer as igrejas locais mais aprazíveis aos gostos de maior exigência e assim, atrair gente mais importante a elas. Com isso ao se darem em maior peso no sentido de agradar os patrocinadores da Igreja, os discursos do clero nas homilias se tornam cada vez mais cansativos e monótonos.

 Assim sendo é como se nas igrejas católicas, não existissem trabalhadores pobres sob o regime da CLT e os quais se viram em boa parcela, com seus direitos trabalhistas perdidos além do risco de aposentadorias cada vez mais tardias em face a propostas lesivas de reforma da previdência à maciça maioria da população. Dessa forma a preocupação dos "líderes da messe" é a de cada vez menos "apascentar seus rebanhos".


 Missa em solenidade de pré-criação de uma nova paróquia no bairro de Maurício Arantes (região norte de Rio Verde), contou com a presença de dois bispos: dom Nélio Zortea da diocese de Jataí e dom João Wilk, da diocese de Anápolis. Futilidades marcaram a celebração na homilia das duas autoridades eclesiais; enquanto o bispo de Jataí alfinetou fieis que se desentenderam com o padre, líder católico de Anápolis se gabou do trabalho pastoral que vem realizando em sua diocese. 

 O clero paroquiano assim, demonstra maior inquietude em agradar o topo da pirâmide patronal frequentadora das missas de domingo à noite nas igrejas matrizes ou nas catedrais, ao passo que alfineta pessoas humildes com homilias carregadas de dardos venenosos que busca com isso, acalmar os ânimos da nata do baronato presente nas celebrações católicas. 

 Em meio a todos esses fatores elencados, a Campanha da Fraternidade deste ano tem tudo para ser mais um fiasco, em que questões sociais novamente deixarão de ser associadas com a criminalidade e a vitimização da classe média, frente ao atribuído "vitimismo" dos pobres, tende a ter um peso maior na balança de aferição dos bispos católicos brasileiros. 

 Bispos estes cada vez mais perdidos em seus discursos ou ainda, movidos pelo adesismo modista (indireto e involuntário) do momento, do "bandido bom, é bandido morto".      

Comentários

  1. Reflexão muito boa. Há muito a Igreja deixou de aprofundar o debate sobre os temas da CF,ficando apenas nas consequências sem querer denunciar as causas. Enquanto isso corrobora com a criminalização do pobre e mantem-se aliada dos poderosos. A vida burguesa e o poder atraem mais do que o pobre e sua causa.

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    1. Infelizmente esta é a realidade, Geraldo! Obrigado pela visita e por sua participação em nosso blog! Seja bem vindo! Vamos continuar refletindo mais sobre este e outros temas.

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