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O periquito e o sabiá

 Meu avô materno do alto de sua larga experiência de vida, oriundo da cidade de Patos de Minas, Minas Gerais, porém já há algum tempo vivendo aqui no sul de Goiás e observador que era da sociedade de seu tempo, cunhou uma frase que sintetiza bem o comportamento dos agentes sociais tanto da época dele, quanto da nossa: "o periquito quebra o coco, mas é o sabiá quem leva a fama".

 A fama aqui pode se dar nos dois sentidos que se espera do desfecho de uma trama; tanto num contexto positivo, quanto de maneira inversa à isso. Para tanto, é necessário se analisar o ditado proferido por meu avô em suas particularidades contextuais; se pelo fato de o 'sabiá' estar se apropriando de uma fama positiva da qual não possui mérito; ou se o 'periquito' insinua a má fama ao 'sabiá' de algo que somente ele pode fazer.

 É nesse contexto do 'periquito' e o 'sabiá', que o senso comum tem adotado seus pareceres, naquilo que entende como positivo quando uma significativa parcela da opinião pública, entende que seja mérito do governo golpista de Michel Temer (PMDB), e naquilo que é desvantajoso ao conjunto da população, como algo atribuído ao governo da ex-presidente, Dilma Rousseff (PT), e a todo o período ao qual o Partido dos Trabalhadores esteve no poder.

 O entendimento disso é que todas as medidas impopulares tomadas por Temer e que beneficiam grandes empresas ou o capital financeiro de forma geral, seriam ações que visam a correção de rumo tomada e que requereria um certo sacrifício da população em prol de algo que só beneficia os grandes magnatas nacionais os quais não estiveram (até o momento), envolvidos nos escândalos apurados no âmbito da Operação Lava Jato. 

 Na tomada de decisões e sentenças populares ao qual o senso comum julga o que é, ou não, atribuição deste ou daquele governo, o que seguramente fica prejudicada é a autenticidade histórica e a legitimidade comprometida por injustiças praticadas por falsos juízos de valor que prejudiquem inclusive, o debate limpo e isonômico o qual se permita com clareza, avaliar, livre de paixões ideológicas ou partidárias, o que realmente tenha ocorrido para que situações vistas como inevitáveis sejam assim questionadas. 

 O governo Temer começa a ruir com rachaduras e trincas por todos os lados e como nossa pseudo democracia é similar a qualquer outra no mundo, em que governos soberanos estão sempre suscetíveis a caírem para que outros mais fracos sejam alçados ao poder, a solução é criar indenizações ou restituições, algum tipo de "ressarcimento" ou "reparação" por algum suposto prejuízo causado, mas que na verdade visa somente, uma forma de suborno, para que assim, ocorra uma falsa legitimidade institucional que justificasse a permanência de governos ilegítimos no poder. 

 Suborno é o que o governo Temer mais se especializou para se manter ativo no poder; subornou meios de comunicação da imprensa; aumentou ainda mais as generosas remessas de dinheiro do setor público para o setor financeiro privado, por meio do esquema da dívida pública, emplacando com isso a reforma constitucional que deu origem à emenda 95 - o qual limita os gastos públicos por 20 anos -, e agora uma nova PEC: a 287 em tramitação na Câmara dos Deputados que trata da reforma da previdência.   

 Nessa abordagem volta à tona o debate sobre uma suposta necessidade de indenização às transmissoras de energia elétrica, aonde deverá ocorrer um aumento nas tarifas de eletricidade aos consumidores por conta disso. Mais uma vez busca-se um culpado, à fim de se justificar mais esse agrado de Temer a setores estratégicos para a continuidade de seu governo. 

 A ideia é atribuir à antecipação de leilões feitos para os novos contratos de energia no governo Dilma (que venceriam em 2015, para 2013), com a proposta de redução da energia elétrica que foi anunciada com pompa e circunstância pela própria presidente em rede de rádio e televisão. O setor elétrico não gostou disso, já que se a ideia era baratear a energia ao consumidor, os operadores teriam de abrir mão de algo e esse algo era simplesmente, cobranças indevidas e absurdas que eles teriam de abrir mão, em troca da renovação dos contratos.

 De imediato a reação das operadoras de energia foi postergar ao máximo a renovação dos contratos e procrastinar a antecipação para o vencimento previsto em 2015. Para isso optaram pelo mercado 'spot', que é o mercado livre sem a anuência prevista nos contratos. Assim conseguiram manter a cobrança indevida por amortização de usinas velhas (usinas cuja o custo de suas construções já haviam sido pagas e portanto, que não deveriam mais serem cobradas nas tarifas de energia ao consumidor).

 Porém, a tal 'indenização' concedida pelo governo Temer, está para ser paga às transmissoras e não à geradoras às quais continuaram cobrando amortização de suas usinas velhas na energia do mercado livre pago pelas transmissoras. É aí que entra a distorção: a ideia do governo Dilma é que se a energia ficasse barata em sua fonte (na geração), todas as demais fases da cadeia produtiva de energia elétrica, teriam seus preços reduzidos, obedecendo as linhas gerais do mercado. 

 Portanto a confiança do governo Dilma nas regras de inércia naturais de mercado, foi o que manteve seu governo confiante de que não precisaria adotar uma regra de transição e fidelidade para entre geradores e transmissores; dessa forma as geradoras acabaram repassando seus "prejuízos" às transmissoras e com isso, as transmissoras agora entendem que o governo lhes deve uma indenização por isso, em função de uma suposta falha na engenharia contratual do setor elétrico.       

 Agora a mídia, a primeira a ser contemplada com o suborno do governo Temer, tenta emplacar a culpa de tudo no governo Dilma. 

 E o pior é que as pessoas continuam comprando a ideia de que se trate mesmo de algo cuja responsabilidade recaia contra o governo deposto. Afinal, para o time vencedor, tudo fica mais fácil agora, já que eles estão 'consertando' aquilo o que se entende ter feito de errado no governo anterior; mesmo que para isso, sacrifícios sejam também "necessários", para a correção de rumo que se idealiza, se espera, mas está ficando mesmo, é cada vez mais distante de acontecer.   

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