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Renúncias do 'alto clero' no PMDB e no clero

 Renunciar quase nem sempre está nos planos das pessoas, contudo, se para se preservar algo maior ou se conquistar outro objetivo totalmente diferente do qual um indivíduo esteve se dedicando há até pouco tempo, tal atitude pode significar o oposto de uma perda; a renúncia assim, pode se fazer como uma excelente saída. Por isso, renúncia completa só é convincente quando se faz de modo a neutralizar qualquer possibilidade de ganho, lucro ou vantagem posterior. 

 Na sociedade de nossos dias, até o conceito de renúncia se modernizou, mas se faz ainda latente em meio ao que supostamente se tenha aberto mão. A prova disso pode ser observada no meio religioso cristão, onde se estima que um sacerdote católico, por exemplo, que por questões de celibato, tivesse aberto mão de se casar e constituir família, como acontece entre cristãos evangélicos, esteja com isso, renunciando ao seu direito patriarcal, para tão somente se dedicar ao 'pastoreio' dos fiéis de seu aprisco religioso. 

 Porém nos dias de hoje, como a instituição do casamento vem sendo cada vez mais questionada, qual seria o sentido de renúncia da parte de um sacerdote católico, se não, supostamente pelo celibato, dentro de um contexto de castidade? No entanto, escândalos sexuais envolvendo padres têm sido cada vez mais conhecidos, concomitante também a outros da mesma natureza, envolvendo líderes religiosos evangélicos. 

 Sendo portanto algo que o conceito do matrimônio sozinho não pode explicar, não podemos nos ater ao apontar as verdadeiras razões do ocasionamento desses escândalos sexuais entre religiosos, senão que o de uma mera busca pelo prazer e uma simples obtenção por satisfação fisiológica, do que propriamente ao contexto primário que nos inspira a inocência de renúncia e fidelidade; tendo em vista também, que o casamento é visto na maior parte das denominações religiosas cristãs, como uma instituição indissolúvel, dentro de seu caráter mais sagrado e portanto por isso, conservador.

 Como a suposta opção de renúncia com o tempo perde seu sentido de ser, logo é preciso se encontrar formas para se preservar a legitimidade necessária que justifique tal escolha de vida. Isso pode ser imposto pelo próprio título estamental dentre as castas religiosas que permita uma certa autoridade clerical sobre os fiéis. Algo usado desde a Idade Média e que até hoje surte efeitos sobre as comunidades religiosas e por outro lado, facilita o abafamento de escândalos que denunciam não somente a incidência de crimes sexuais praticados por sacerdotes (sob a autoridade de outros), como que a quebra de seus próprios votos religiosos.

 No campo político algo ocorre de maneira muito similar e se é assim, logo nos deparamos, não com questões que envolvem a renúncia pela adoção de novos hábitos de vida em prol de um determinado tipo de serviço voltado por meio do exercício da liderança de uma comunidade, mas pela dominação pura e simples. As práticas coronelistas na influência de forças políticas em determinados currais eleitorais ou feudos políticos, está longe de representar a vaga lembrança de renúncia. No entanto, muitos ao verem parte de seus poderes e de suas influências reduzidos sobre o meio em que atuam, solenemente convocam a imprensa e dizem que renunciam. 

 O PMDB é o exemplo mais recente que tivemos em torno disso, nos últimos dias: Íris Rezende Machado e Eduardo Cunha, são os ícones do que pode ainda ser preservado ou resgatado em meio ao tom melodramático de apelo excessivamente piegas, digno do protagonismo dos piores atores de teatro, cinema ou TV da atualidade, ao lançarem mão de pseudos renúncias para se manterem em evidência ou mesmo preservarem suas liberdades civis. 

 Cunha não renunciou apenas por um suposto ato de grandeza, como quis fazer parecer; renunciou para não perder o mandato de deputado federal e não perder o foro privilegiado caindo assim na vala comum dos pobres mortais sob as mãos do supostamente implacável e justiceiro magistrado, Sérgio Moro. 

 Já Íris Rezende, não anunciou propriamente a renúncia formal por meio de seu afastamento definitivo da vida pública, ao se negar a ser candidato a prefeito de Goiânia. Íris conta sobretudo com uma comoção pública na capital que o 'obrigue' a ser candidato a prefeito, já que isso pode ser usado como trampolim para tornar possível seu maior sonho: que é o de se sentar novamente na cadeira de governador do estado de Goiás. Como antigo cacique político, consegue fulminar lideranças jovens de seu partido, para se colocar quase como alternativa única do PMDB, quando o assunto é a disputa majoritária, seja na capital ou ao governo goiano.

 Pelo menos em se tratando de PMDB, nunca se pode levar as renúncias à sério, já que a última delas no âmbito de Goiás, estava envolvida um perdão tributário do então pré-candidato do partido ao último pleito estadual de 2014, Júnior (Friboi), que se viu forçado a renunciar a ser candidato, quando estourou o escândalo de que estaria lesando a Fazenda pública estadual, com débitos tributários não honrados. Júnior não se candidatou, mas sua empresa teve o perdão fiscal concedido.

 Portanto, se um arcebispo é 'convidado' a renunciar, isso denota a seriedade em que se envolve o suicídio de ofício de muitos. Ninguém gosta de renunciar, a verdade é que todos que o fizeram, foram de certa forma levados a tomarem essa decisão. Porém dada a natureza e a causa de cada renúncia, percebe-se que em alguns casos, ela não acontece de forma alheia a vontade do renunciante. Assim são as coisas: 'perde-se' aqui, para se preservar ali ou mesmo se ganhar adiante.  

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