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Uma falsa prioridade para se acobertar a verdadeira

 Qualquer pré-candidato a prefeito ou vereador que encomendar uma pesquisa de opinião em Rio Verde, para se saber do cidadão, qual seria a prioridade mais urgente e essencial hoje, para nossa cidade, se depararia com um resultado no mínimo curioso. 

 Mesmo convivendo com elevados índices de rotatividade e agora dentro do que muitos alegam ser consequências da crise econômica (que por sua vez, é oriunda da crise política instalada no País), por conta do aumento do nível de desemprego, a opinião do rio-verdense seria a de que a prioridade a ser atendida hoje no município, é a segurança pública.

 Uma falsa prioridade ou mesmo, uma prioridade que não pertence ou é objeto de preocupação da maioria, mas sim, de uma pequena parcela da população, serve no mínimo para se desviar as atenções sobre a grande ameaça do desemprego que ronda os lares rio-verdenses. 

 Com isso, a política sem polêmicas, se configura no jogo das elites para se manter o controle absoluto sobre o status quo vigente em nossa sociedade. A tão propalada qualificação profissional, nem é mais reivindicada como argumento que explique o desemprego, porque mesmo os empregos que exigem baixa qualificação, estão escassos no mercado de trabalho de Rio Verde. 

 Com isso, soluções manjadas e inexequíveis são apontadas para se solucionar falsos problemas que a Constituição Federal por exemplo, nem mesmo atribui como competência dos municípios para serem administrados, como é o caso da segurança pública. 

 Assim o eleitorado compra a ideia de que o problema não é o desemprego, mas sim, a segurança pública, e é levado a votar em candidatos que pregam o falso problema que não é de competência do município, se apresentando como enviados messiânicos, capazes de solucionar um problema que nem é de atribuição de um prefeito resolver. 

 Dessa forma, a política do "nós contra eles", é estabelecida como um meio de se buscar uma falsa prioridade, onde um inimigo abstrato, oculto e ao mesmo tempo, comum, é apontado como essa prioridade a ser atingida. 

 Contudo, além de se ignorar o problema do desemprego, a falta de infraestrutura urbana que também deveria atender de forma complementar e assessória aos trabalhadores, é sistematicamente descartada em vista do falso problema da segurança pública (que frise-se: não é de atribuição municipal).

 Nosso deficitário e quase caótico sistema de transporte coletivo, obriga trabalhadores a se lançarem na aventura de possuírem veículos automotores, os quais não possuem condições de manter suas obrigações tributárias em torno de sua regularização. 

 O resultado é que quando o falso problema da segurança pública é também falsamente atendido pelo poder público, o que se verifica é tão somente a realização de blitzes onde acontecem tão somente apreensão de veículos cuja os proprietários não conseguiram manter seus impostos em dia.

 A ausência de uma organizada rede de creches, onde as mães trabalhadoras pudessem deixar suas crianças, enquanto estão cumprindo com suas obrigações laborais, também encarece o já salgado custo de vida na cidade. 

 Pois além dos pesados aluguéis verificados, a serem pagos, nossas mães trabalhadoras precisam desembolsar entre R$ 200 e R$ 300 para a contratação de babás autônomas e assim, poderem trabalhar sossegadas. Contudo, a construção de cinco novas creches, se arrasta há pelo menos seis anos. 

 Porém, dentro do falso problema da segurança pública, há o falso problema dos menores infratores, apontados como a prioridade dentro da prioridade. Para tanto, já se providenciou o início das obras de construção do centro de internação de menores infratores em Rio Verde, numa área pertencente ao governo do estado, mas que inicialmente era destinada a outro fim mais nobre: a geração de empregos. 

 Com isso verifica-se que a preocupação é a criminalização dos jovens e não, sua formação humana. A verdade é que a referida área, foi viabilizada pelo governo de Goiás, ainda nos anos 1990 para abrigar o distrito industrial de Rio Verde. A promessa era de que grandes indústrias como a Coca-Cola se instalassem no local, gerando empregos e renda para os munícipes rio-verdenses. Mas nada disso se concretizou, só servindo mesmo como discurso para a eleição de candidatos a prefeito da época, que pelo menos acertaram na prioridade.

 De lá para cá, muito pouco se investiu na infraestrutura de segurança em Rio Verde e tudo o que existe, foi providenciado pela prefeitura, pois sem isso, nem mesmo o que hoje se encontra em funcionamento estaria disponível aos cidadãos.

 A sede da delegacia regional de polícia civil é um exemplo disso, já que se trata de um prédio alugado onde a prefeitura de Rio Verde é quem arca com o ônus de locação do imóvel mensalmente. Como se fosse pouco, o que a prefeitura já assume em torno de custos de manutenção com a delegacia, falta até mesmo copos descartáveis nos bebedouros e o sistema para o registro dos boletins de ocorrência vive apresentando panes.   

 Já o Instituto Médico Legal (IML), um pequeno recinto localizado ao lado de um dos cemitérios da cidade, só existe porque há mais de 25 anos, o prefeito Paulo Roberto Cunha, teve a iniciativa de construí-lo. Se não bastasse isso, o mesmo também atende cidades vizinhas.  

 No entanto, a proposta de alguns pré-candidatos é de que a prefeitura assuma ainda mais despesas inerentes à segurança pública que competem exclusivamente ao estado de Goiás. Um deles propõe a criação de uma secretaria municipal de segurança pública e a criação de uma guarda municipal. 

 A ideia mais uma vez, parte da espetaculização e a pirotecnia que no merchandising político, seria suficiente para afugentar ou intimidar bandidos. A proposta contudo, cheira a uma tentativa de organização de um grupo de extermínio e pode ser usada ainda, como instrumento de polícia política contra opositores do possível candidato, caso o mesmo seja eleito prefeito.

 Fala-se agora sobre a necessidade de construção de um novo centro de detenção provisória. Só que agora, destinado a adultos, tendo em vista que o atual, foi ainda construído na década de 1960 durante o governo do rio-verdense, Mauro Borges, na governadoria do estado e não possui mais, as mínimas condições para se abrigar detentos no aguardo de seus julgamentos.    

 O curioso é que há cerca de três anos, o governo de Goiás, foi obrigado a devolver uma verba concedida pelo fundo federal penitenciário, por não dispor de projetos de execução para essa verba específica. O resultado podemos ver em constantes rebeliões e fugas noticiados do centro de prisão provisória, localizado no centro antigo de Rio Verde. 

 Mais curioso ainda é que os mesmos que hoje se apresentam como os "salvadores da pátria" no quesito segurança, foram exatamente aqueles que foram omissos e permitiram que a referida verba voltasse para os cofres da União.

 Enquanto isso, nenhuma proposta em torno da geração de empregos é apresentada. Nenhum grande projeto de infraestrutura que seja chamariz para a atração de novos empreendimentos privados. Até o tal porto seco, às margens da Ferrovia Norte-Sul (a qual teve suas obras de construção interrompida), que era o discurso predominante dos políticos locais há três anos, hoje é um assunto morto e enterrado. A reforma ou a construção de um novo aeroporto, também deixaram há muito, os discursos daqueles que só proferiram "palavras ao vento".       

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