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De outubro rosa a outubro negro

 Muito sensibilizador se dedicar um mês inteiro à prevenção e ao combate de uma doença que em suas particularidades, além de debilitar fisicamente uma pessoa, ainda a faz mais ferida em seu íntimo e joga na lona toda a estrutura psicológica de uma família; uma doença que parece ser dotada de personalidade própria ao cruelmente não se contentar apenas em tornar o indivíduo mais vulnerável em seu estado de saúde, mas também em sua psique. Uma doença que causa sobretudo, humilhação ao paciente.

 A fosfoetanolamina faria o mês de outubro ficar conhecido, não apenas como 'rosa', mas sim, pela cor que representa a esperança, o verde. Contudo com a polêmica que se seguiu em torno da chamada "substância", pode fazer o décimo mês do ano se tornar 'negro', para muitos pacientes que fizeram uso da propriedade química - para não dizer remédio -, e de certa forma, se sentiram muito melhores, que com os caros, tradicionais e degradantes efeitos psicológicos, em torno dos tratamentos contra o câncer, disponíveis atualmente na rede nacional de saúde, como a 'quimio' e a radioterapia (sem mencionar as mutilações). 

 A gritante contradição em se celebrar um mês inteiro à prevenção e ao tratamento do câncer concomitante à criminalização dos responsáveis pela pesquisa em torno da fosfoetanolamina no campus de São Carlos, da Universidade de São Paulo (USP), no interior paulista, nos faz perceber o quanto existe de distorção nos debates em nossa sociedade, ao notarmos uma ligeira tendência à hipocrisia, principalmente dos atores de comunicação que mais propagam a campanha do "Outubro Rosa" nos mais variados meios de mídia. 

 O fato de a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ainda não ter feito testes com a tal "substância" e por tão somente isso, ainda não a ter liberado para uso 'comercial' ou ser distribuído pela rede pública a pacientes, é o que mais tem chamado atenção nessa história. E esse é o principal argumento para que os agentes de comunicação midiáticos se posicionem contra o que já se tem mostrado com resultados muito positivos. 

 Aqueles os quais contra-argumentam de forma capciosa, a eficiência da "substância", dada à existência de vários tipos de câncer - embora haja apenas dois tipos de células presentes no organismo tanto em ratos, quanto em humanos -, onde exatamente acontece a ação da fosfoetanolamina, se fez como principal argumentação para que as vítimas do câncer não pudessem se agarrar à essa esperança. Também, claro, por não haver ainda dados clínicos disponíveis para a comprovação da eficácia da dita pílula.

Pílulas à base de fosfoetanolamina.  Ministério da Saúde  liberou  
pesquisas clínicas que podem comprovar a eficácia do que ainda
não pode ser visto como medicamento, muito menos como cura.
 Falar de cura é muito abstrato no momento, mas em melhoras substanciais é algo perfeitamente palpável a olhos vistos. Relatos que envolveriam cerca de 50 mil pacientes são muito promissores e ignorar isso se atendo a uma mera formalidade burocrática da Anvisa, é o pior dos embustes comerciais que possa existir por trás do discurso moralista e carregado de um falso senso de responsabilidade da parte de 'especialistas', que expõem o caso do uso da fosfoetanolamina como polêmica. 

 A discussão agora ganhou até os tribunais. Famílias de pacientes estão recorrendo à Justiça para terem acesso ao uso do que para eles é considerado como medicamento e para opositores ao seu uso, apenas como "substância". A Justiça brasileira que merece ser criticada por muitas outras razões (dentre elas, salários exorbitantes e regalias de juízes, promotores e ministros de tribunais superiores), passou a ser atacada também por simplesmente cumprir o que determina a Constituição Federal, em torno da previsão do Princípio da 'Razoabilidade'. 

 Determinadas as decisões judiciais favoráveis aos pacientes de câncer, referentes aos respectivos casos, em decorrência de relatos que comprovam por meio de testes empíricos, a eficácia da "substância" em humanos, magistrados investidos de seus poderes institucionais, passaram a ser objeto de ódio da parte de acadêmicos mais exaltados em seus posicionamentos contrários ao uso da fosfoetanolamina. 

 A mesma "substância" à qual, se vista como remédio, incorre-se em 'pecado' - quase que mortal -, como é tido pelos opositores ao seu uso, e entendida por eles como: "improvisada" e até mesmo, como algo associado ao "curandeirismo". 

 Contudo o debate que se trava em torno da chamada, "substância" na mídia ainda é truncado, embora algumas pessoas ligadas à sua produção e distribuição foram ouvidas, mesmo que superficialmente pela imprensa regional e os relatos do responsável pela pesquisa medicinal da fosfoetanolamina na USP, Salvador Neto, só constar em escassas entrevistas à EPTV (afiliada Rede Globo na região de São Carlos), em que argumenta que por diversas ocasiões, procurou os órgãos responsáveis e que por isso encontrou dificuldades.

 Entretanto um parecer da Fundação Oswaldo Cruz assegura a efetividade da "substância", mas novas pesquisas deveriam ser realizadas contanto que a patente da fosfoetanolamina sintética fosse cedida. 

 Isso também foi objeto de preocupação da parte dos pesquisadores da USP, sendo que uma vez cedida a patente, não havia garantias de que as pesquisas seriam levadas adiante. Porém, o Ministério da Saúde anunciou que vai testar a eficácia da fosfoetanolamina. Um grupo de pesquisadores ligados ao Ministério e à Anvisa vai trabalhar em parceria com a Fiocruz e o Instituto Nacional do Câncer. Caso as pesquisas comprovem o que já vem sendo ventilado na prática, o 'novo' medicamento deverá ser produzido por laboratórios públicos. 

 Conforme relatou uma reportagem da TV Globo, em audiência pública realizada no Senado Federal, o médico e pesquisador, Renato Meneguelo, chegou a se ajoelhar pedindo aos senadores para que a "substância" viesse a ser testada clinicamente. 

 A fosfoetanolamina, foi pesquisada pelo químico aposentado Gilberto Chierice, há mais de 25 anos e que também esteve presente na audiência do Senado. O mesmo que também em entrevista à EPTV, disse que procurou vários hospitais públicos para os testes clínicos e nunca conseguiu resposta. Para alguém o qual muitos defendiam até mesmo sua prisão, Chierice até que foi corajoso demais em comparecer diante de tantas autoridades, sem um habeas corpus preventivo. 

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