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Idiossincrasias sob o ‘Custo Brasil’



No contexto atual onde se insere a nova realidade brasileira de juros declinantes, uma vez que isso trás de volta o investimento produtivo privado, emerge e evidenciam-se nossas deficiências sobre os elementos que compõem as variáveis que são imprescindíveis ao crescimento sustentável de nossa economia.

 O site da BBC Brasil trouxe na última quarta-feira, um resumo de cinco empecilhos básicos que entravam o crescimento. Dentre eles, são:
- A infraestrutura precária;
- Déficit de mão-de-obra especializada;
- Sistema tributário complexo;
- Baixa capacidade de investimentos públicos e privados
- Burocracia excessiva.

 O texto que contém a participação sucinta de especialistas ouvidos pela BBC Brasil, faz uma radiografia precisa sobre o que é necessário ser enfrentado pelo país para superar esse estágio de baixas taxas de crescimento. A reportagem completa você pode acompanhar no seguinte link:


 Vamos, porém debater, por um outro prisma, essa deficiência brasileira em competitividade. O principal deles: o mal desenhado escopo federativo em nosso país, que no mínimo, é responsável por quatro, das cinco deficiências que enumeram o chamado ‘Custo Brasil’.

 As unidades federativas, dentro do que prevê o texto Constitucional de 1988, gozam de plena autonomia na cobrança de tributos. Certamente o imposto estadual mais controverso nisso, se dá através do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que possui 27 legislações distintas, incidentes diretamente sobre os mais variados produtos e que numa linha de montagem de um veículo, por exemplo, vem tributado diversas vezes. Ou seja, num automóvel, o ICMS incide numa tributação em cascata, já que também vem embutido nas peças para montagem do veículo na linha de produção.

 A maior dificuldade de se efetivar uma reforma em nossa legislação tributária se deve essencialmente a governadores, pouco dispostos a sacrificarem parte de suas arrecadações pelo bem da competitividade do país. Mas o fato que está por trás disso, que também reflete na dificuldade de implementação da reforma, se deve ao ICMS, ser usado como mecanismo de barganha fiscal por parte dos Estados, e isso, ao mesmo tempo, gera outro importante argumento para que a reforma tributária de fato aconteça e para que se evite a chamada ‘guerra fiscal’. Falta de vontade política, isso é evidente, mas isso pode ser corrigido com pressões do setor produtivo, como vem ocorrendo através da imprensa.

 Resolvida a parte federativa, todos os outros componentes do ‘Custo Brasil’, se tornariam mais fáceis de serem resolvidos. Já que parte da infraestrutura do país, também é de competência dos Estados, como as rodovias. A maior parte da malha rodoviária no interior dos Estados é de competência dos mesmos. Como exemplo, podemos citar a região de Rio Verde que conta apenas com duas rodovias estaduais pavimentadas, que partem diretamente da cidade para outros destinos próximos: a GO-174 – nos sentidos para Montividiu (ao norte) e Ap. do Rio Doce, (ao sul), e a GO-210 (partindo de Rio Verde, com destino à Santa Helena, ao leste).

 Na questão da educação, os Estados respondem por quase todo o ensino fundamental e em sua totalidade o ensino médio. Como esses entes federados, garantiriam que 10% do Produto Interno Bruto (PIB), fossem empregados no ensino público, bem como em sua própria qualificação? Uma porcentagem um pouco acima da média mundial de 7%, contra os atuais 5%, praticados no país atualmente. Isso sem falar, na quase ausência de cursos técnicos gratuitos, imprescindíveis ao desenvolvimento desses Estados. Tudo isso faz com que o Brasil, fique atrás de outras importantes economias emergentes, com apenas 7% da população com diploma universitário, como África do Sul (9%) e Rússia (23%), já que a ineficiência indexada da educação de crianças e adolescentes é sentida nos bancos das universidades brasileiras.

 A composição do custo de energia elétrica, que chega a ser até 50% superior que na média dos países ao redor do globo, certamente, não é só o setor produtivo quem mais sofre com isso. Já que em sua maior parte, a tributação sobre a energia elétrica, é proveniente do ICMS, onde todos os consumidores, sejam eles de baixa renda ou não, pagam o referido tributo.

 Já naquilo que é tangível à burocracia, o total de dias para regularização de uma empresa, pode variar tanto de um Estado para outro, como também, de um município para outro. O emaranharado burocrático também é causa conseqüente de nossas imperfeições federativas

 Portanto na relação ‘Custo-Benefício’ ao cidadão, que tem sua renda em sua maior parte consumida pelo ICMS, o principal entrave, é sentido pela parte mais frágil: os assalariados e que por outro lado reflete também na limitação do poder de compra de nosso mercado consumidor interno.

 Nesse ambiente, torna-se sensível também, e como maiores vítimas; o excessivo número de adolescentes e jovens marginalizados pela sociedade. No âmbito profissional, nosso excludente mercado de trabalho ao deixar de empregar formas pedagógicas de inserção de jovens nele,  corrobora também para isso. Isto é, a combinação letal, desumana e covarde de ensino de péssima qualidade, com o jogo duro do mercado de trabalho, na recusa em abrir oportunidades aos jovens para que estes por sua vez, possam mostrar o seu verdadeiro valor. Ao invés de mais investimento em educação, há um clamor popular, em torno da Segurança Pública, onde os jovens – aos quais quase nunca são assistidos de forma satisfatória pelos entes federativos – são apontados como os principais algozes dos males praticados.

 O que a sociedade de maneira geral, se recusa a reconhecer, é que os jovens (e isso em várias gerações), sempre foram, e são; vítimas primazes da violência. Que ao terem que ‘estudar’ em uma escola depredada pelo tempo; com condições de vida de periferia sem moradia digna, saneamento e asfalto; e a discriminação social a que são submetidos por conta de suas origens, a juventude tem sido levada ao abismo por não ter a sabedoria de enxergar por si mesma, uma vida além daquilo que lhes é apresentado, como única alternativa. Ou seja, se a juventude é violenta, isso se deve por sermos em nossa gênese, uma sociedade violenta – que é manifestada nas mais variadas e sutis maneiras –, e com uma economia em lento processo de crescimento, dificilmente a situação dos jovens se reverterá.

 Com uma taxa média de investimento público e privado, ao redor de 18% do PIB, a aventura de promover crescimento econômico com distribuição de renda e inclusão social, torna-se uma tarefa tanto quanto complexa.

 Há muito ainda a ser feito, no Brasil, principalmente no quesito educação – e não apenas a de natureza didática –, mas principalmente, uma educação voltada a uma mudança de mentalidade nacional e a sua percepção como cidadão inserido do ponto de vista global e ao desenvolvimento do bem comum de todos os brasileiros. 

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