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Dores do Rio Verde

Este mês comemoramos o tradicional aniversário de Rio Verde e fazemos aqui uma série com duas postagens sobre a história econômica desta que se tornou a grande surpresa da última década com seu vertiginoso crescimento. Desordenado é claro. E o pior! Sem nenhuma expectativa de que o seu padrão de expansão vá melhorar no futuro.

Rio Verde surgiu no início do século XIX, com a doação de terras devolutas, feitas através de um decreto imperial que determinava a referida doação a quem se dispusesse a desbravá-las. 

Foi nesse espírito desbravador que o 'paulista', José Rodrigues de Mendonça, saiu de sua cidade -Casa Branca, no interior de São Paulo- rumo às terras que já estavam destinadas a serem dele. Rodrigues de Mendonça que dá nome a uma praça no ‘centro antigo’ de Rio Verde deve ter chegado à região entre 1838 e 1840. Aproximadamente uma década depois, Rio Verde se emancipava com o nome oficial de: Nossa Senhora das Dores do Rio Verde ou simplesmente, ‘Dores do Rio Verde’.

A etimologia do nome de uma cidade é por sua vez, carregada de simbolismos e com Rio Verde, não poderia deixar de ser diferente. Já em relação a Nossa Senhora das Dores, se deve ao fato de ser a santa padroeira dos Rodrigues de Mendonça, ou ainda por conta de que os fundadores teriam aqui chegado à data de comemoração ao dia da santa(*). Mas já Rio Verde...

A referência que se faz ao nome ‘Rio Verde’, se deve ao principal curso d’água da região, que possui uma tonalidade verde clara que inicialmente ficou conhecido como ‘Rio Verde grande’, hoje nomeado como ‘Rio Verdão’. Isso para que se fizesse distinção de um outro rio com o mesmo nome na região, e que foi batizado como ‘Rio Verde pequeno’, atualmente mencionado como ‘Rio Verdinho’ - devido à sua extensão e largura serem menores que o primeiro. 

Ou seja, como em seus primórdios o território do município abrangia os dois rios com o mesmo nome, daí se deu a denominação como tal. O mais engraçado de tudo isso, é que nenhum dos dois, cruza o perímetro urbano da cidade, só tendo mesmo três ribeirões que cortam a zona urbana do município. Com o desmembramento de novos municípios, o ‘Rio Verdão’, não deixou propriamente de pertencer a Rio Verde mas se tornou divisa natural com os novos municípios vizinhos.

Rio Verde nos primórdios de sua história, teve um crescimento populacional e econômico quase vegetativo, mesmo tendo algumas cidades ao seu redor um relativo maior dinamismo e ligeiramente mais prósperas. 

Na ocasião da passagem de um destacamento de três mil soldados a caminho da Guerra do Paraguai, onde se tem relatos do Visconde Taunay, é mencionado pelo mesmo por meio de suas anotações pessoais, a pobreza do lugar; com destaque para as 'construções horrendas e mal construídas do local'. Sem falar que nesse referido episódio, por não haver víveres para os soldados e ter somente abóboras, a cidade desde então acabou adquirindo a fama e o apelido de ‘Abóboras’.

A partir daí a estagnação econômica do município, só ficava cada vez mais evidente, tanto que no início do século XX (há aproximadamente 110 anos), Padre Mariano - um sacerdote muito estimado pelos fiéis das redondezas -, resolve pela propositura de um voto de promessa, a mudança de padroeiro do município para que as coisas pudessem melhorar por aqui. 

Ou melhor, de padroeira para padroeiro -saía de cena ‘Nossa Senhora das Dores’ e entrava em ação, ‘São Sebastião’. Há relatos de historiadores e principalmente de habitantes veteranos, de que por conta da referida promessa a cidade teria enfim começado a prosperar. Em virtude disso todo '20 de janeiro' - data do santo -, é feriado municipal com direito a procissão e tudo; saindo da praça da Matriz de Nossa Senhora das Dores até a Igreja de São Sebastião. 

Com o passar dos anos porém, a economia da cidade se robustece; adquire também certa importância política com o casamento do jovem médico e político Pedro Ludovico Teixeira com Gercina Borges; filha de um importante fazendeiro do município, na igreja erguida por Padre Mariano.

Pedro Ludovico fez de Rio Verde, cenário da Revolução de 1930, quando vindo de Uberlândia tendo em mente um plano de começar a revolução em Goiás, por Rio Verde. A empreitada não obteve sucesso, e Pedro Ludovico ficou dois dias preso no prédio da Intendência Municipal (o equivalente à prefeitura na época) e que funcionava também como recinto penitenciário.

Depois foi transferido para Goiás-Velho (então capital do estado) onde no caminho, a comitiva foi surpreendida com a notícia de que a revolução havia logrado êxito no Rio de Janeiro (capital da República, na época) e que Getúlio Vargas assim o havia nomeado interventor do estado de Goiás.

Padre Mariano: seus restos mortais foram  encontrados na cripta até então desconhecida, desde a reforma da Igreja de São Sebastião em 2007 - Foto: Acervo Público
Padre Mariano: seus restos mortais foram 
encontrados na cripta até então desconhecida,
desde a reforma da Igreja de São Sebastião 
em 2007 - Foto: Acervo Público
Com a nomeação de Pedro Ludovico interventor de Goiás, o mesmo dá início ao processo de transferência da capital do estado para cerca de 15 km de Campinas, ao qual mais tarde é rebaixada à condição de um mero bairro de Goiânia. Assim podemos dizer que Rio Verde é a ideia embrionária de uma nova proposta para Goiás, que se daria inicialmente com o surgimento de Goiânia. 

A nova capital goiana teve seu plano piloto elaborado pelo arquiteto italiano Atílio Correa Lima, e com as obras de construção das ruas e avenidas de Goiânia, sob coordenação dos engenheiros rio-verdenses, Jerônimo Coimbra Bueno e seu irmão, Abelardo Coimbra Bueno, os quais seriam homenageados com o nome de dois dos mais tradicionais e importantes bairros de Goiânia: os chamados 'Setor' Coimbra e o 'Setor' Bueno.

Mas Goiânia ao longo de sua história concentrou todo o desenvolvimento do estado ao seu redor, enquanto Rio Verde mais uma vez ia ficando esquecida pelos políticos de nossa isolada capital (em relação ao vasto interior do estado). Mesmo elegendo dois governadores rio-verdenses, sendo o primeiro Jerônimo Coimbra Bueno e o último, filho de Pedro Ludovico, Mauro Borges. 

Com ele, Mauro Borges, houve um breve e temporário progresso na cidade, com a implantação da energia elétrica provida da usina hidrelétrica de Cachoeira Dourada, no Rio Paranaíba, e ainda, com a inédita pavimentação asfáltica no Centro da cidade nos idos da década de 1960. Fora esse período, a cidade ficou aquém das prioridades dos governos estaduais que por lá passaram. Sendo essa prioridade, notoriamente a partir dos anos 1970, sendo concentrada a Anápolis.

Neste domingo dia 5 comemora-se mais um aniversário de Rio Verde, são 164 anos de história. No próximo post sobre a história do município, vou falar sobre como a cidade se tornou o celeiro de Goiás e porque ela é conhecida como a capital do Agronegócio no estado. 

Comentários

  1. a hestoria de rioverde deveria ser comtada com mas detali

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    1. Tem razão, Donizete. Infelizmente o que temos são fontes genéricas de nossa história. Precisamos organizar um acervo histórico de nossa cidade. Há muita coisa que a geração presente ainda não conhece. Me desculpe demorar tanto pra responder ao seu comentário. Fico feliz em tê-lo aqui. Muito obrigado por ler nosso post.

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  2. Que história top de rio Verde, tenho orgulho de ser filho dessa terra.

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