Grosso modo, o principal instrumento de gestão macroeconômica, se dá inicialmente pela política fiscal; através dela, outras políticas dessa área, são definidas; incluindo a política monetária.
Com as dificuldades surgidas para o financiamento dos gastos com a Guerra Fria, seja por conta do conflito no Vietnã ou da corrida armamentista e espacial, os Estados Unidos se viram em condições críticas de suas contas públicas.
A saída encontrada para se cobrir essas despesas só poderia sair da boa e velha emissão de moeda; aproveitando-se do fato de o dólar se tratar da reserva mundial para transações internacionais, o governo americano decidiu romper com o lastreamento em ouro como condição de garantia de valor para sua moeda.
O lastreamento do dólar ao padrão ouro, foi um dos princípios basilares dos acordos de Bretton Woods, como garantia para que a moeda americana alcançasse o status de reserva de valor internacional, antes exercida pela libra esterlina britânica.
E como Bretton Woods, foi basicamente o resultado elaborado de bases científicas keynesianas, por contrariar uma outra significativa parcela de economistas, sofreu muitos questionamentos ao longo de seus primeiros anos de vigência no Pós-Guerra.
A decisão de romper com o padrão ouro foi tomada no governo do republicano Richard Nixon, em 15 de agosto de 1971, na qual teve forte influência da parte de um de seus mais confiáveis conselheiros econômicos e que não era ninguém mais, que o próprio criador da teoria monetarista, Milton Friedman.
Dessa forma o pai da chamada "Escola de Chicago", conseguiu tornar possível algo fundamental que fizesse de suas teorias econômicas, verdades científicas empíricas, aceitas pela comunidade acadêmica e principalmente pelo mercado.
Isso porque na concepção de Friedman, a prática de se pintar pedaços de papel com valores específicos, também poderia ser visto como um novo tipo de mercadoria o qual passou a ser negociado no mercado de capitais, assim como o próprio ouro.
A medida de Nixon, visava reduzir o déficit público norte-americano o qual se agravou muito com a primeira crise do petróleo em 1973; com ela, houve uma desvalorização inicial do dólar como fator natural desse processo e que associado ao próprio déficit, gerou alguma desconfiança sobre os títulos de dívida americanos, provocando inflação.
Porém o fator agravante desse cenário se deu ao redor da piora da situação de transações correntes com a importação de petróleo mais caro e que forçou a uma redução no consumo americano de combustíveis fósseis, terminando por comprometer o ritmo de atividade da economia dos Estados Unidos.
Uma situação que se arrastou por toda a década de 1970 e que ficou conhecido como fenômeno econômico da estagflação, que nada mais é, que estagnação do nível de atividade e produtividade (analisados sobre o PIB), com inflação.
O longo período entre a crise fiscal, com inflação elevada e baixo crescimento da economia dos Estados Unidos, além de comprometer a reeleição do democrata Jimmy Carter e favorecer a subida de Ronald Reagan à presidência, corroborou ainda mais para que as ideias de Milton Friedman fossem adotadas como verdade científica acadêmica, não apenas como política de governo, como também de Estado.
Desse modo, a maior crítica dos economistas ortodoxos e liberais, se tornou o principal instrumento de contenção fiscal deficitária dos Estados Unidos, através da mera emissão de papel moeda, justificada pela teoria de que a própria moeda também se trata de um tipo de mercadoria o qual pode ser negociado no mercado de capitais, assim como outras commodities - do mesmo modo ainda, que os títulos de dívida públicos.
Algo que chega a contradizer aos próprios defensores da Escola de Chicago, os quais negam a prática de emissões de moeda para cobertura de déficits públicos, por justamente defenderem a contenção de gastos como instrumento de controle fiscal, responsável pela redução do custo da dívida pública, ocasionado pelo aumento gradual de confiança do mercado com relação à mesma.
No entanto, a limitação do debate fiscal restrito apenas ao fator do gasto público, inibe a análise do que realmente ocorreu concomitantemente a esse processo nos Estados Unidos; a redução de alguns impostos, por exemplo, somente ocorreu a posteriori, uma vez consolidado o controle fiscal; e o fato brasileiro na atualidade, é que o Estado Nacional é subtributado em sua base arrecadatória regressiva.
O ouro como metal nobre e finito, difícil de ser encontrado, é meio de lastreamento monetário capaz de resolver todos os problemas de ordem fiscal, surgidos com a adoção das próprias políticas liberais, às quais são alegadas para esse mesmo propósito; foi uma saída temporária, que acabou se tornando definitiva ao ajudar os Estados Unidos a atenuar o problema fiscal nos anos 1970, e que é apontado como a solução do problema nas décadas seguintes.
Sendo assim, a China que tem um lastro de reserva sobre o yuan em mais de US$ 3 trilhões, vem fazendo maciças aquisições de ouro, depois de constatar que nem o próprio governo americano, confia tanto em sua moeda. Isso fica claro quando se sabe que as maiores reservas de ouro ainda são de longe, aquelas em poder do tesouro norte-americano.
A latente, e por isso imperceptível procura por ouro, pode ter relação com uma suposta teoria da conspiração, como abordado pela emissora de TV por assinatura, History Channel, em um documentário exibido recentemente, em seu canal no YouTube (confira no link: https://www.youtube.com/watch?v=aiKHEUZcpgY).
Há poucos dias, a imprensa internacional noticiou que Janet Yellen, ex-presidente do Fed (o banco central norte-americano) e cotada para assumir a Secretaria do Tesouro dos Estados Unidos no futuro governo de Joe Biden, vem sofrendo pressões para apoiar uma política que visa manter o dólar forte, no mercado global.
Algo que de certa forma, corrobora o contexto exposto no documentário do History, o qual relata que tanto os preços da onça troy do ouro, quanto do dólar, podem estar sofrendo manipulações que artificializam o verdadeiro valor de ambos.
Nesse caso, as cotações do ouro estariam sendo manipuladas para que o metal nobre venha a se desvalorizar, enquanto que como mencionado antes, existe movimentos que apontam o desejo dos operadores do mercado para que o dólar venha a ganhar robustez.
Um movimento global, ao qual o Banco Central brasileiro já estaria se preparando, com o projeto de lei em apreciação no Congresso Nacional, o qual prevê a flexibilização do câmbio, que na prática, permitirá que corretistas optem por depósitos em dólar, numa medida que lembra as práticas adotadas na Argentina e que demonstraram ser completamente desastrosas para a economia daquele país.
![]() |
Janet Yellen, vem sofrendo pressões para aderir à política de fortalecimento do valor do dólar (foto: Drew Angerer - The New York Times). |
Com argumentos carregados de "boas intenções", essencialmente naquilo que seriam facilitadores para as exportações brasileiras, o projeto tem tido tramitação acelerada e muito pouco discutida na Câmara dos Deputados, apesar de ser bastante criticado por economistas que enxergam nele, um risco para a economia brasileira, devido às semelhanças do que já ocorre na Argentina.
De acordo com o economista Nelson Marconi em sua página no Twitter, a aprovação recorde do texto-base do projeto é um risco para a estabilidade econômica, uma vez que com qualquer solavanco forte no câmbio, como ocorreu recentemente por conta dos efeitos da pandemia de Covid-19 na economia, fará com que pessoas comuns, porém naturalmente de melhores posses, corram para a segurança de uma moeda forte, no caso o dólar, para se protegerem da inflação.
![]() |
Foto: extraído do link: https://twitter.com/marconi_nelson/status/1341791118627889158 |
São políticas econômicas como esta, que explicam o empobrecimento em massa de pessoas, não apenas no Brasil, como em até mesmo, países desenvolvidos e centrais do capitalismo mundial.
Comentários
Postar um comentário