Sobre as Quatro Nobres Verdades trazidas por Sidarta Gautama, o Buda, que viveu no atual território do Nepal, ao norte da Índia, cerca de 400 anos antes de Jesus, sabe-se: da existência do sofrimento; a causa do sofrimento; a noção de que o sofrimento pode ser eliminado e o caminho para a eliminação do sofrimento.
Diante dessas observações de Buda sobre o tema, é importante lembrar a natureza desagradável do sofrimento.
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A meditação é o principal meio de cura interior capaz de eliminar o sofrimento - Foto: Reprodução/ A Mente Calma |
Nesta quarta nobre verdade, estão elencadas ainda, outras oito virtudes que devem ser adotadas; embasadas sobretudo na honestidade plena, que é o chamado Caminho Óctuplo, para que o sofrimento seja cessado.
- A compreensão correta - que analogamente nos remete às Quatro Nobres Verdades sobre existência e causa do sofrimento;
- O pensamento correto - eliminação de pensamentos ou vícios mentais que causam sofrimento;
- Fala correta - praticamente resultado da adoção da prática anterior do pensamento correto;
- Ação correta - que também resulta da mudança de percepção, na adoção de atitudes que gradualmente melhoram a conduta;
- Meio de vida correto - adoção de uma atividade econômica idônea, buscando sua justa remuneração;
- Esforço correto - abolição de condutas muito austeras e severas, para não incorrer em outros tipos de sofrimento;
- Atenção correta - estar atento a sutilezas mentais que induzem ao risco de retorno à condição inicial de sofrimento;
- Concentração correta - o entendimento do inalcançável e a consciência de paz e serenidade que já se vive.
O sofrimento existe
A Primeira Nobre Verdade, nos dá a certeza da existência do sofrimento; o que a princípio parece ser uma obviedade, o fato de haver pessoas que sofrem, pode ser razão de dúvida para alguns. E se o sofrimento existe, ainda que contraditoriamente muitas pessoas duvidem disso - evidentemente por não sofrerem - qual é o propósito do sofrimento?
Do ponto de vista espiritualista, um espírito (enquanto consciência cósmica) encarna, no plano físico da matéria em um planeta como a Terra, para viver experiências (inclusive de dor e sofrimento), que no plano astral, não podem ser vividas de modo a se extrair aprendizado kármico, no qual se resulte em alguma evolução espiritual.
Lembrando que karma, em sânscrito, significa "ação" (boa ou ruim), que resulta na lei espiritualista de causa e efeito.
Portanto, nem todo sofrimento é resultado de dívidas kármicas de vidas anteriores; em boa parte dos casos, pode-se tratar apenas de uma necessária e inevitável experiência para se extrair um certo aproveitamento prático que contribua para a evolução de um espírito, cuja o resultado, só poderá ser mensurado, após sua morte ou desencarne, mediante avaliação de seus mentores espirituais que o acompanharam em sua jornada em vida na matéria.
A causa do sofrimento
De acordo com as conclusões de Buda, o sofrimento é resultado essencial da ignorância. Tanto da parte da própria pessoa que sofre, quanto de outras que provocam sofrimento contra terceiros; podendo ser de modo consciente ou inconsciente.
O fato da causa do sofrimento se dar de forma consciente ou proposital contra outras pessoas, não afasta a ideia de ter sua origem na ignorância - que conceitualmente, nada mais é, que ausência de conhecimento.
A ignorância nessa perspectiva, se dá pela carência de consciência onde uma pessoa se vê desprovida, de sua essência espiritual, que quando encarnada na matéria, se expressa na ideia de evitar sofrimento para si (como dito, preponderante para o alcance evolutivo espiritual), imputando o sofrimento que lhe caberia experienciar, a outras pessoas.
Com isso, o indivíduo, infringe a lei mais sagrada da espiritualidade, que é a proibição de interferência no livre arbítrio de alguém; contraindo contra si, uma dívida kármica, que deverá ser quitada em vidas futuras posteriores, dependendo da gravidade de cada caso; ou ainda, na vida em curso em que o ser estiver encarnado.
Eliminação do sofrimento
Findar o sofrimento, passa pela conscientização do ser; primeiro, ele precisa desenvolver sua intuição, que é a centelha mínima de mediunidade que cada pessoa ao nascer, já carrega dentro de si. A intuição por sua vez, só pode ser despertada ou aprimorada, por meio da meditação e através da qual, pode-se alcançar um certo tipo de maturidade espiritual
Dentro de um certo nível de maturidade de consciência alcançado, é possível a alguém identificar, se no seu caso específico, o sofrimento seria de natureza kármica (proveniente de vidas anteriores), ou simplesmente, uma experiência da qual não há como fugir; e que sob o risco de se contrair dívidas kármicas futuras, deve ser vivenciada e trabalhada através de práticas evolutivas espirituais.
Caminho para cessar o sofrimento
Nessa tomada de consciência espiritual no que se refere à existência, a causa e a noção de finalização do sofrimento, tem-se praticamente uma "receita de bolo", com oito recomendações ou orientações, sobre como o sofrimento pode ser cessado. São ações e atitudes que visam sobretudo, não propriamente, eliminar a situação do sofrimento em si, mas a ignorância, que é a sua maior causa.
É a tomada de consciência portanto, que nos afasta da ignorância que por sua vez, nos dá imunidade em relação ao sofrimento. Nesse contexto, torna-se necessário mais uma vez, reforçar a importância da experiência vivida em sua máxima intensidade, na qual o sofrimento experienciado se torna a principal ferramenta evolutiva espiritual de um ser.
Por meio do Caminho Óctuplo, o iniciado adota uma jornada de vida em que procura equilibrar situações de prazer e sofrimento, extraindo o aprendizado evolutivo espiritual necessário ao ponto de não mais ser preciso outras experiências reencarnatórias na repetição de ciclos, até que se tenha adquirido a consciência ou a sabedoria ao redor disso.
Exilados de Capela
É através do sofrimento portanto, que se adquire a sabedoria; nesse contexto, é possível se afirmar no caso de espíritos jovens e inexperientes que vivem em planos astrais onde não há sofrimento, que estes seres jamais alcançarão patamares evolutivos de consciência e sabedoria em razão disso.
Este pode ser o caso da história conhecida como "Os Exilados de Capela", descrita na obra de literatura de Edgard Armond, que extraiu trechos de um apanhado de outros escritos espíritas ligados ao kardecismo, dentre eles, Chico Xavier, psicografado de seu mentor espiritual Emmanuel.
Capela é a estrela mais brilhante na chamada constelação do Cocheiro, na qual, segundo a obra de Armond, existe um planeta orbitando um sistema estelar binário, de posições opostas, e que por essa razão, se tratava de um mundo concomitantemente, sempre iluminado em ambos os lados; isto é, não havendo noite, apenas dia.
Capa do livro, "Os Exilados de Capela" que conta uma história alternativa sobre Adão e Eva - Foto: Reprodução. |
A suposta desobediência do casal, teria como punição, a morte, conforme orientado pelo próprio deus hebreu, Javé - que de acordo com alguns teóricos, seria a versão de um mesmo ser, em que se expressa tanto seu lado bom, quanto mau. Isto é, Javé seria um deus imperfeito, que teria se perdido em meio à loucura de sua própria criação.
No caso de Adão e Eva, a morte para eles, seria a transmigração de seus espíritos para viverem experiências kármicas de seguidas vidas no plano material e astral do planeta Terra, que naquela ocasião, era primitivo e totalmente desprovido de qualquer tipo de tecnologia; como punição, Deus rogou uma maldição impondo ódio entre a serpente e a mulher, em que a primeira morderia o calcanhar da mulher, e esta, pisaria a cabeça da serpente.
Símbolo de sabedoria
Em várias culturas, como no Egito antigo, a serpente era símbolo de sabedoria, cura, regeneração e renascimento; talvez por isso, muito provavelmente não teria sido por acaso que uma serpente, tivesse sido pivô ou causadora de uma transgressão contra Deus, da parte de Adão e Eva, que resultaria em seguidas experiências kármicas, às quais por sua vez, culminaria na obtenção da sabedoria necessária para a cessação dos ciclos de reencarnação de vida e morte na Terra.
Também na Bíblia, a serpente de novo, seria protagonista de outro episódio, desta vez narrada no livro de Números. Após saírem do Egito onde eram escravos, os hebreus se instalaram no deserto e começaram a murmurar contra Deus, devido às difíceis condições de vida; como punição, Javé enviou serpentes venenosas contra o povo, onde muitos morreram devido às mordidas.
O povo enfim, pediu a Moisés que intercedesse por eles junto a Javé, para que as serpentes fossem repelidas dali; Deus instruiu a Moisés, a forjar uma serpente de bronze, envolvida numa haste, provavelmente do mesmo material, para que todo aquele que olhasse para ela, fosse curado e não morresse devido aos ataques sofridos. Um ato visto como reforço ou revigoração da fé em Deus.
Nessa analogia podemos antever outra, intrínseca, na reconciliação da humanidade e a figura da serpente; antes vista como símbolo da perdição humana através do primeiro pecado cometido contra Deus no Éden, e agora, como ícone de salvação ao olharem para a serpente de bronze no deserto, e através disso, serem curados.
O episódio do povo hebreu no deserto, conforme narrado em Números, simboliza ainda, a sabedoria adquirida, em que se expressa através do murmúrio contra o sofrimento, e que só atrai, ainda mais sofrimento. Ou seja, adotar vibrações de paz e serenidade, pode nos poupar de atrairmos sobre nós, outras situações de sofrimento, além daquelas que já se vive.
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Vídeo de animação, ilustra episódio bíblico narrado no livro de Números em que o patriarca Moisés, ergue a imagem de uma serpente forjada em bronze para que o povo hebreu pudesse olhá-la e se curar das picadas sofridas por serpentes venenosas no deserto, após saírem da escravidão no Egito - Foto: Reprodução/ A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. |
É por isso que o Budismo recomenda a meditação como técnica de silenciamento mental, e método por meio disso, para se eliminar o sofrimento, já que a insatisfação e o sentimento de escassez, também são formas expressas nessa dinâmica desagradável ao ser humano.
Os capelinos teriam encerrado seus ciclos reencarnatórios na Terra, com a vinda de Jesus e através de seus ensinamentos, puderam romper com suas dívidas kármicas, onde após isso, tornaram-se seres ascensionados, isto é, que evoluíram para planos astrais superiores.
Na ocasião, da vinda de Jesus como *avatar de luz, há cerca de dois mil anos, a Terra passava por sua primeira transição planetária, evoluindo de "planeta primitivo", para "planeta de expiações e provas".
Na atualidade, a Terra vive um novo período de transição planetária, ao qual se encaminha para se tornar um "planeta de regeneração", onde os espíritos mais atrasados em seus processos evolutivos, não mais poderão viver novas encarnações na Terra, e por isso, esses espíritos terão de ser transmigrados para outros mundos, menos evoluídos tanto espiritualmente, quanto tecnologicamente do que nós.
Kundalini
O processo de auto cura interna através da transmutação do sofrimento, verificada por meio da observação do Caminho Óctuplo budista, instiga ainda, o despertar de energias espirituais adormecidas pelo corpo, concentradas nos chakras, os quais por sua vez, são pontos de concentração energéticos em forma de vórtices, que de acordo com a doutrina hindu, são responsáveis inclusive pelo funcionamento das funções orgânicas normais do corpo humano.
A Kundalini seria um poder espiritual adormecido; inicialmente concentrado no osso sacro (cóccix) onde se concentra o chackra básico; o despertar da Kundalini, faria a potencialização dos demais seis chackras principais, através de um feixe de energia em formato de serpente, ao redor da coluna vertebral.
Essa experiência, levaria o ser, ao que se entende por iluminação espiritual, onde ele se ascensionaria ainda encarnado em vida na matéria; caso, que de acordo com a tradição, teria ocorrido com o próprio Buda, cuja o título deífico significa exatamente "desperto".
*Avatar, em sânscrito, significa "descida". Conforme a doutrina hinduísta, trata-se da encarnação de uma divindade na Terra, enviado para trazer iluminação espiritual aos homens e conduzi-los para a finalização de seus ciclos kármicos de vida e morte
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