Ao longo dos anos, a filosofia ajudou o homem a compreender o universo que o rodeia, e principalmente, a si mesmo; partindo desse pressuposto, a filosofia abriu espaço para a ciência em suas várias facetas; desde as ciências sociais até as mais sofisticadas tais como o estudo do Cosmos ou mesmo das relações interpessoais humanas.
Através da filosofia também, o homem abriu espaço para questionar o propósito entre grupos dominantes e dominados; ou entre governantes e governados.
Da filosofia surgiram as ideologias e as doutrinas, às quais se amparam em padrões para que a humanidade alcance os mais elevados níveis de prosperidade em todos os sentidos possíveis. Por meio da filosofia, o homem tem buscado ainda, a própria plenitude espiritualista do ser.
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Tales de Mileto (Grécia) astrônomo, matemático, engenheiro e comerciante; é também considerado o primeiro filósofo da antiguidade - Foto: Ilustração/ Reprodução. |
Porém antes, na antiguidade, o homem tentou entender a razão da existência do plano material em que vive, inicialmente atribuindo aos deuses, a formação do Universo, do Sol, da Lua e lógico, da própria Terra; bem como tudo o que nela contém, seja em sua superfície ou no fundo dos oceanos. Desde então, passou-se a explicar os fenômenos desconhecidos como ação dos deuses.
A partir daí, surgiram as escrituras sagradas das primeiras civilizações, tais como os escritos da Epopeia de Gilgamesh, uma figura semilendária da Suméria e que também foi rei; do Zoroastrismo, os escritos egípcios, os textos sagrados vedas e o Bhagavad Gita, hindus.
Além disso, os ensinamentos do Taoísmo chinês, o Xintoísmo japonês; como ainda, os escritos sagrados do Alcorão islâmico; da Torá e o Talmude judaico, cuja alguns textos serviram de base para a Bíblia cristã, além de conter explicações deíficas sobre a existência do Universo, os quais também são vistos como obras filosóficas.
Todas as doutrinas religiosas buscavam reforçar dentro de cada cultura, narrativas que atribuíam aos deuses, fenômenos que não podiam ser explicados por humanos e que mais tarde, a filosofia se propôs entendê-los, também como primeiro ensaio ou esboço do que hoje se conhece como "ciência".
Concomitante ao surgimento de tantas doutrinas religiosas dentre as primeiras civilizações, uma em especial, se destacava em meio ao que se conhece hoje como paganismo politeísta, na qual não havia nenhuma estrutura religiosa organizada e definida, mas um apanhado de histórias transmitidas de forma oral e que ficaram conhecidas posteriormente, como mitologia.
Essa visão vinda da Grécia antiga, abriu espaço para os fundamentos da civilização que atualmente se conhece por ocidental e que mais tarde, se estendeu a Roma; desse modo, os desuses gregos tinham aspectos vistos como pouco nobres; ausente de um comportamento típico da perfeição dos deuses convencionais de outras civilizações, e mais assemelhados à conduta humana.
No inconformismo dessa visão infantil do mundo, surgem assim os primeiros adeptos de um movimento pelo qual ficou conhecido como "filosofia", originado na mesma Grécia, inicialmente imersa em superstição e misticismo.
Etimologicamente, o termo quer dizer "amor ao conhecimento" e se origina da junção das palavras "philos" (amor) e "sophia" (conhecimento). A cunhagem de sua definição é atribuída a Pitágoras (que viveu entre 570 a 495 antes de Cristo), mas não há consenso ao redor disso.
A filosofia assim, se propõe a dar uma explicação racional sobre os mais variados aspectos da vida humana tais como a existência, o conhecimento; valores, razão, mente e linguagem.
Apesar de procurar uma explicação racional das coisas, sem apelar ao sobrenatural, Tales de Mileto (vivido entre 624 a 546 antes de Cristo), considerado o primeiro filósofo ocidental, parece representar também, o que é muito comum nos dias atuais, através da associação da filosofia e a espiritualidade e que está em um patamar de consciência muito mais elevado que a simples crença religiosa em si.
Tales acreditava que a origem de tudo, provinha da água, sendo a partir daí, a primeira pessoa a esquematizar o ciclo da água em suas distintas fases, em que entretanto, cometeu o equívoco de associar o estado sólido da substância, à terra, e não ao gelo.
Tales teria ainda, realizado algumas experiências sobre o magnetismo e também, previsto um eclipse solar no ano de 585 a.C, compreendendo a partir desse fenômeno, que a Lua é iluminada pelo Sol, tal como a Terra, conforme relato do historiador grego, Heródoto. O evento do eclipse, é considerado tão importante, que para Aristóteles (384 a 322 a.C.), se tratou do marco inicial da própria filosofia.
Pré-socráticos e pós-socráticos
A filosofia é dividida em duas fases, a pré-socrática e a pós-socrática. A primeira se dedicava a buscar explicações sobre a natureza e o Universo; já a segunda, aspectos direcionados à ética, moral e a política. Esses períodos são assim chamados, em alusão ao filósofo que ficou conhecido como o divisor de águas da filosofia grega antiga, Sócrates (469 a.C a 399 a.C).
Entre os pré-socráticos, se destacam o próprio Tales de Mileto, já mencionado, Heráclito, Demócrito (o filósofo que ri), Pitágoras e Parmênides. Heráclito se destacou com sua célebre frase que fala sobre a inconstância e a permanente mudança das coisas, quando disse que nenhum homem pode se banhar duas vezes no mesmo rio.
Já com relação aos filósofos pós-socráticos, os mais proeminentes são Aristóteles e Platão, discípulos de Sócrates. Platão é o responsável por duas das obras mais importantes da filosofia grega na antiguidade, O Mito da Caverna e a República.
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Diálogo entre o céu e a terra - Platão e Aristóteles, no afresco Escola de Atenas, de Rafael - Foto: Ilustração/ Editora De Agostini/ Getty Images. |
No Mito da Caverna, Platão ilustra pessoas que estavam presas por cordas em uma caverna, e que enxergavam o mundo através de silhuetas projetadas em suas paredes internas por meio de uma fogueira acesa em seu interior, e que levava aqueles que estavam ali, a crer que o mundo era somente aquilo que se passava naquelas projeções e sombras.
O texto relata porém, que um daqueles que se encontravam presos no interior da caverna, conseguiu se libertar das cordas que o prendiam, e então, ao encontrar a saída para o mundo exterior, teve em seu início, dificuldades com a claridade da luz do dia, que feria seus olhos, devido ao fato de terem se habituado com a pouca luminosidade no interior da caverna, que provinha apenas, da luz da fogueira por onde se projetavam as sombras que seus habitantes acreditavam ser o mundo exterior.
Platão relata ainda, que depois de conhecer o mundo externo à caverna, aquele que primeiro se libertou, tentou convencer os outros a se libertarem de suas cordas e também conhecer o mundo fora da caverna, mas os que ficaram, haviam se habituado tanto com a pouca luminosidade da fogueira, que não acreditaram no outro que conheceu as maravilhas do mundo exterior à caverna, e então, o mataram.
A Alegoria da Caverna, na verdade, foi uma parábola criada por Platão, para ilustrar a vida de seu mestre, Sócrates.
Já no livro A República, Platão defende em um diálogo narrado em primeira pessoa por Sócrates, uma sociedade com um governo ideal, onde somente os homens realmente puros e virtuosos poderiam ser parte dirigente de uma cidade-estado.
A partir dessa premissa, surge conceitos que definiram regimes políticos tais como, a aristocracia, que quer dizer "governo dos melhores"; timocracia (governo de pessoas honradas); oligarquia (governo de poucos); plutocracia (governo de ricos); todos em contraposição à democracia (governo do povo).
Mas para Platão, o pior deles é a tirania, cuja o termo deriva da expressão grega týrannos (governante único e absoluto), cuja o líder era designado assim, somente para situações excepcionais, que contudo, não deveria se descuidar dos anseios do povo.
Para Platão e Aristóteles a marca da tirania era a ilegalidade; através da violação de leis e regras pré-estipuladas pela quebra da legitimidade do poder e que por si só, já representa um governo tirano, onde uma vez no poder, revoga leis em vigor, estabelecendo novas regras, de acordo com suas conveniências de perpetuação de poder.
Nos regimes tiranos, o abuso de poder também se faz presente, na perseguição a adversários políticos, acusando-os de conspiração e com isso, buscando legitimar práticas de criminalização para que mais tarde possam puni-los, conforme seus supostos crimes.
Sofistas
Contudo, é importante lembrar a safra de filósofos pré-socráticos conhecidos como sofistas, que eram mestres em ensinar argumentação e retórica. Os sofistas inicialmente estavam fundamentados em princípios nobres. Protágoras de Abdera (que viveu entre os anos de 490 a.C e 415 a.C), é o mais destacado entre os sofistas.
Demócrito (460 a.C e 370 a.C), contemporâneo de Protágoras entre os sofistas, ficou conhecido por desenvolver a teoria do átomo, considerado por ele, a menor partícula de matéria; esse conceito permaneceu convalidado até o início do Século 20, com a descoberta das estruturas subatômicas (prótons, nêutrons e elétrons), em suas subdivisões. Demócrito também ficou conhecido como "o filósofo que ri", pois estava quase sempre sorridente.
Contudo, com o passar do tempo, os sofistas se desdobraram em escolas itinerantes por toda a Grécia onde se notabilizavam pela destreza de seus discursos e o dom do correto uso das palavras. Desse modo, foram contratados para ensinar as faculdades das narrativas aos filhos da aristocracia grega, onde eram formados futuros políticos.
O termo sofista, com isso, deu origem etimológica a outra palavra, "sofisma", que faz referência a arte de enganar através do uso de argumentos corretos e verdadeiros. A partir disso, surgiu também a demagogia, em que políticos diziam sempre o que o povo desejava ouvir, mas nem sempre o que era dito, se fazia coerente em ações com seus discursos.
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Busto de Protágoras de Abdera, um dos mais proeminentes filósofos sofistas. Para ele, o homem é a medida de todas as coisas - Foto: Reprodução. |
Foi a partir desse desdobramento das variadas escolas itinerantes derivadas do sofismo, que Sócrates ganhou notoriedade através da retórica questionadora, onde uma pessoa passa a responder perguntas cada vez mais complexas e que por fim, a leva a entrar em contradição consigo mesma.
A metodologia socrática de debate, usada até os dias de hoje em muitas contestações acaloradas, foi o principal elemento que despertou a ira dos inimigos de Sócrates, que o condenaram à morte em 399 a.C, após ser obrigado a ingerir uma bebida de ervas venenosas chamada cicuta.
Filosofia estoica
Após o surgimento dos primeiros filósofos gregos, outros de procedência além da Grécia foram se notabilizando, essencialmente os estoicos romanos como Cícero, Marco Aurélio, Sêneca, Horácio e Macróbio.
A filosofia estoica prega a realização pessoal, através da autodisciplina, do controle emocional e o cultivo da paz interior, como forma de autodefesa contra ataques sofridos de qualquer natureza e que podem impactar negativamente uma pessoa; valorizando também a virtude, a serenidade e a honestidade, inclusive consigo mesmo.
Escolástica
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Agostinho de Hipona, bispo e doutor da Igreja Católica, é um dos mais importantes filósofos da história - Foto: Ilustração/ Pintura de Phillipe de Champaigne. |
Humanismo
Ainda na Idade Média, surge a filosofia humanista a partir do movimento artístico conhecido como Renascimento com destaque para Giordano Bruno, Nicolau de Cusa, Galileu Galilei e Nicolau Maquiavel. O humanismo, à exemplo da escolástica, também tinha uma orientação religiosa, porém, com foco maior na figura do homem onde valores como a dignidade e a liberdade começaram a ter maior relevância.
Racionalismo
Através da filosofia racionalista e empirista, que também influenciou o movimento intelectual iluminista Moderno entre o final do Século 17 e todo o decorrer do Século 18, emergiu os primeiros esboços onde gradualmente passava a ser cada vez mais compreendida como ciência.
O Iluminismo por sua vez, foi importante para o desenho intelectual da sociedade contemporânea, em torno de conceitos como direitos humanos, democracia; liberdades individuais, de pensamento ou expressão, além da livre iniciativa empreendedora, na figura de Adam Smith.
Charles-Louis de Secondat (o Barão de Montesquieu), Jean-Jacques Rousseau e John Locke, são exemplos que se notabilizaram ainda, como mestres na filosofia política, por meio da introdução da divisão de poder entre o soberano e os representantes do povo, como também, da ideia do Contrato Social, defendida por Locke e Rousseau, na condição de esboço das primeiras constituições nacionais.
David Hume, desenvolveu o empirismo - que se baseia na observação de padrões de comportamentos, sejam humanos, climáticos, astronômicos, econômicos, políticos ou sociais; e René Descartes criou a metodologia de investigação científica, conhecida como cartesiana.
Outro destaque do racionalismo é Baruch Epinoza, que apesar de ter sua origem judaica, fez profundos questionamentos dos textos clássicos judeus, adotando um novo conceito para Deus, como sendo a própria natureza e a realidade em si.
Idealismo
Hegel, representou o auge da filosofia idealista em que pregou a ideia de que as perspectivas humanas, embaraçam o verdadeiro entendimento das coisas em si. Ou seja, Hegel alegava que a interpretação da cognição humana são apenas aparências e não as coisas de fato em si, algo que lembra o Mito da Caverna de Platão.
A partir do idealismo transcendental de Hegel, surge o idealismo absoluto com o positivismo de Auguste Comte na França, onde se defende a ideia de que o conhecimento é puro, genuíno e verdadeiro por essência; além da sociologia, que estuda as sociedades como um todo, os padrões nas relações sociais, a interação e a cultura na vida cotidiana.
Filosofia-continental ou contemporânea
É uma corrente filosófica contemporânea não-analítica sem uma coerência interna de tendências, agindo de modo livre e desprovido de um padrão; despojado, engajado e exótico, que predomina até os dias de hoje. Seus principais nomes são: Gilles Deleuze, Jürgen Habermas, Zygmunt Bauman, Hannah Arendt, Bertrand Russell, Walter Benjamin, Noam Chomsky, dentre outros.
Já o existencialismo de Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir que se inspira parcialmente no empirismo de David Hume e o cartesianismo de René Descartes, apesar de estar em contraponto com a filosofia-continental, se ampara nas experiências e particularidades do ser, como modo de compreensão do mundo ao seu redor, ou na interação de individualidade e coletividade.
Contudo, para o pragmatismo a abordagem ocorre ao redor dos efeitos práticos e sua concepção em contraponto ao existencialismo. Bertrand Russell é outro importante nome, que fez contribuições importantes na filosofia analítica em assuntos como ética, política, história das ideias e estudos religiosos.
Categorias de estudo da filosofia
Metafísica que estuda o princípio da realidade do ser, da natureza real e conceitos relacionados a ontologia, que por sua vez, se trata de todos os ramos abordados pela filosofia, possíveis.
Epistemologia é o estudo do conhecimento, tais como crença, verdade e a justificação, fontes do conhecimento, ceticismo, percepção, introspecção, memória, razão e testemunho.
Axiologia ou Teoria dos Valores é o ramo da filosofia que abrange todos as outras ramificações filosóficas como moral, social, política, estética, religiosa e até feminista. Thomas Hobbes, por exemplo, sustentou que nossas ações são motivadas por desejos egoístas.
Ética está enquadrada nas metodologias sistematizadas de defesa e recomendação de conceitos entre valores de certo ou errado, dentre os comportamentos humanos. Através da metaética, ocorre a investigação da origem dos princípios éticos e o que eles significam.
Estética, estudo da beleza e do gosto, relacionada à filosofia da arte, se preocupando com a natureza da arte e os conceitos nos quais as obras são avaliadas e interpretadas. Suas divisões abrangem a literatura, a música, e a dramaturgia.
A filosofia portanto, abrange todos os aspectos humanos, em suas mais profundas e detalhadas nuances, onde o estudo das várias particularidades humanas e coletivas, procura compreender o homem, o meio-ambiente, as sociedades, as religiões, as doutrinas, a política, a economia e até a própria filosofia em si. É o estado contemplativo do ser humano onde ele se permite conhecer cada vez mais.
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