Muitos economistas se debruçam na reflexão, sobre qual doutrina ou embasamento teórico, inspirada em uma determinada escola de pensamento econômico, nos poderia dar a receita certa para que o Brasil alcance o sucesso que nos conduza ao mundo desenvolvido.
No entanto, esta é uma discussão antiga onde o que prevalece
é nada mais que o ego de distintos partidários de suas respectivas escolas doutrinárias, os quais defendem como o melhor modelo a ser seguido para o Brasil se tornar um país
desenvolvido.
Apesar de o padrão liberal da Escola de Chicago, prevalecer dentre as políticas econômicas da maioria dos distintos países ocidentais, já começa haver um movimento latente, no qual políticas de Estado em que o investimento público se torna balizador do investimento privado, essencialmente para o revigoramento da indústria, demonstra ser a tendência predominante entre os governos.
Através disso, o que tem prevalecido nos últimos anos, é o recrudescimento
da visão de maior foco em políticas de Estado pela volta do protagonismo
industrial de economias centrais, tanto da União Europeia, como nos Estados
Unidos e Japão, às quais perderam espaço nessa área, essencialmente para China
e Índia.
Desse modo, esses países perceberam que ao
permitir suas empresas fecharem fábricas em seus territórios para reabri-las
na China, ou outras economias emergentes na Ásia, em busca de incentivos fiscais e redução de custos com mão de obra,
hoje demonstra suas desvantagens no contexto geral para as economias centrais.
Portanto, a visão liberal da permissividade econômica dos anos 1990, acabou gerando alguns problemas para as economias centrais, pois hoje precisam lidar com novos concorrentes de peso, na disputa por patentes de alta tecnologia industrial.
Nessa dinâmica de disputa entre as economias emergentes mais
dinâmicas e as economias centrais, estão ainda, outras economias emergentes um tanto
mais retardatárias, essencialmente as latinas, como Brasil, México, Colômbia,
Argentina e Chile, que pararam no tempo, ao redor de conceitos liberais
adotados no Consenso de Washington e os quais não se libertaram ou não trouxeram
o dinamismo esperado.
Especificamente no caso do Brasil, ainda que tenha alcançado
conquistas importantes como a estabilidade de preços, sobrevivendo à acelerada
desindustrialização recente, o país ainda segue perdido ao redor de conceitos
liberais ultrapassados, vivendo um eterno looping de reformas, com efeitos de
curta duração ou mesmo inócuos, enquanto os reais problemas estruturais que nos
impede de registrar taxas de crescimento mais robustas (com inflação dentro da meta),
não são enfrentados.
Isto é, as vantagens que as economias centrais têm e que
tornam suas empreitadas rumo à revitalização industrial mais palpáveis, como o
elevado estoque de poupança interna e altos níveis de produtividade per capta
do trabalhador, são justamente os pontos que o Brasil, ainda não solucionou e
que demonstra também não ter plano cartesiano claro, para o enfrentamento
dessas questões no longo prazo.
A política industrial brasileira de apenas injetar recursos para
o financiamento a empresas do ramo, sem ter de onde tirá-los (devido ao parco
estoque de poupança interna), significa endividamento futuro e curtos ciclos
de crescimento acelerado imediato, se caracterizando mais uma vez como política
de um governo, e não de Estado, que sobreviva a mandatos de outras orientações ideológicas.
Portanto, sem que o Brasil disponha de uma significativa
reserva soberana que lhe garanta o financiamento seguro de atividades de maior
complexidade econômica, nós teremos curtos períodos de crescimento e longos ciclos de custeamento da dívida, adotando maior controle e rigor fiscal, tal como no atual momento vivido por nossa economia.
Além da irrisória taxa de produtividade do
trabalhador, que não garante competitividade a nossos produtos, sobre ganhos
(perdidos) de escala, sem que também seja apresentado um plano factível para o
solucionamento dessa questão.
Certamente, o que mantém o Brasil atrasado na questão da educação
e da produtividade, pode estar associado a falsas métricas de aferição de
desempenho no ensino, onde os melhores resultados do Ideb em nível nacional,
ainda estão longe das médias mais modestas, de nível global, do Pisa - Programa Internacional de Avaliação de Alunos.
Já no fator produtividade especificamente, o problema ainda,
esbarra em questões mais internas no âmbito das empresas, que se relacionam
desde a custos com relação a modernização de linhas de produção [que também se
associam a questões na dificuldade de financiamento], a uma mentalidade
empresarial à qual acredita que o problema da qualificação seja apenas do
trabalhador ou do governo, se isentando de responsabilidade nesse assunto.
Ainda que o Brasil conte com a excelente estrutura do
Sistema S, direcionada a suprir demandas empresariais por recursos humanos, e
que é gerida em sua natureza jurídica como entidade privada, embora seja
mantida com financiamento público para a finalidade primordial na qualificação
de mão de obra, o país ainda patina nessa questão, por não ter uma política
clara e bem definida à qual venha a resolver esse gargalo.
Além disso, o país não conta com métodos de aferição da
produtividade que tivessem abrangência, além do chão de fábrica das grandes
empresas, e que contemplasse também, empresas de médio porte, além de outros
setores como o varejo e os serviços.
Mesmo com todos esses problemas que emergem de modo
subliminar e latente na dinâmica empresarial, barra, ausência de políticas
públicas de norteamento de resultados, ainda é muito comum, discussões, sobretudo
na grande imprensa, às quais sugerem que a razão do atraso brasileiro seja
apenas numa adoção de princípios ideológicos, se dentro de uma dinâmica mais
liberal ou keynesiana.
Nessa concepção amplamente abordada pela grande imprensa,
está a questão que ignora a ideia de ambas as linhas norteadoras de pensamento
econômico, estejam saturadas, o que requer uma nova abordagem, onde a mesclagem
dos distintos paradigmas [tanto liberal quanto keynesiana] pode contemplar inclusive, experiências que já foram bem-sucedidas
no passado em outros países, mas que demandam o mesmo comprometimento para o
alcance de metas e resultados aplicados lá, aqui também.
Ou seja, a grande ineficiência das políticas econômicas de
estímulo no Brasil, está na ausência de metas e contrapartidas exigidas pelo
governo, às empresas onde elas acabam não se comprometendo com resultados macroeconômicos, mas apenas, se preocupando com suas expectativas internas no aumento de seus
lucros, oferecendo melhores retornos e dividendos não tributados a seus sócios
ou acionistas.
De um modo geral, o que tem prevalecido dentre as políticas industriais, sobretudo dos países latinos, é o crescimento econômico, de certo modo "permitido" pelas economias centrais, para que o resultado de suas empresas com filiais espalhadas nas principais economias latinas, não fiquem comprometidos, e isso se reverta em saldos pífios em suas contas nacionais de transações correntes, por meio da remessa de lucros oriundas desses países emergentes.
Já na dinâmica responsável pelo desenvolvimento de qualquer
economia que hoje se destaque dentre as demais, às quais são vistas como
desenvolvidas ou de primeiro mundo, estão experiências que também uniam
políticas econômicas governamentais muito bem fundamentadas, com empresas privadas
que almejavam a conquista de mercados globais, tanto para exportação, quanto na
viabilização de novos polos fabris, onde se pudesse haver remessas de lucros a
seus países de origem. Uma ambição ainda muito pouco vista da parte de empresas
brasileiras.
Sob a perspectiva da política brasileira da substituição de
importações, que vigorou entre 1940 e 1980, está o equívoco na preocupação em
se reduzir a dependência de artigos importados, na ancoragem sob o capital estrangeiro
que muito pouco se empenha na exportação de bens industrializados, originados
de suas filiais nas economias periféricas.
Algo que ficou bem nítido, no caso das montadoras de veículos
estrangeiras presentes no Brasil, na oferta de carros com grande defasagem
tecnológica em relação aos automóveis produzidos em seus países-sede, na
alegação de custos locais de produção, enquanto recebiam vultosos subsídios e
incentivos tributários governamentais.
Nesse sentido portanto, o desenvolvimento econômico do
Brasil, requer muito mais que apenas, uma orientação epistemológica acadêmica
entre a eterna rivalidade de liberais e keynesianos. Demanda políticas sérias,
dinâmicas, flexíveis e versáteis que garantam resultados, aferidos em
metodologias claras e bem definidas para que correções possam ser feitas e se
traduzam em números expressivos sobre o Produto Interno Bruto nacional, com
plena estabilidade de preços.
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