Na última quarta-feira (27), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse à Comissão de Finanças e tributação da Câmara dos Deputados, que o mercado tem errado muito, nas projeções sobre o PIB brasileiro.
Absolutamente todos os agentes econômicos privados, bancos, corretoras e analistas da Faria Lima, incluindo entidades internacionais como o Banco Mundial, o FMI e a OCDE, além das agências de classificação de rating, sugeriam um crescimento médio para a economia brasileira, na ordem de no máximo, 1,9% ou 2% em 2023.
Agora, esses mesmos agentes, estão sendo obrigados a rever suas projeções de crescimento para a atividade econômica do Brasil.
Porém, o próprio Banco Central já está mais pessimista na previsão do desempenho do Produto Interno Bruto brasileiro de 2024. A autoridade monetária brasileira acredita que no próximo ano, a taxa de crescimento da economia, volte aos patamares de 1,8% ou 2% ao ano.
Em meados deste mês foi a vez da OCDE (Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), também chamado de "clube dos países ricos", rever os números do Produto Interno Bruto brasileiro em 2023. Com isso, é quase unânime a previsão de crescimento de 3,2% do PIB do Brasil para este ano.
Ocorre que não é a primeira vez que erros nas projeções são desmentidos pelos fatos.
Desde 2021, quando a atividade nacional cresceu cerca de 4,9%, os analistas têm errado (sempre para baixo), subestimando as projeções do governo. Algo que também se repetiu em 2022 com crescimento real registrado ao redor de 3% e que promete se repetir em 2023.
Mas por que isso tem acontecido com tanta frequência, nos últimos 2 anos?
É muito provável que os especialistas tenham feito projeções com base na taxa básica de juros, que ficou estável em 13,75% por aproximadamente 1 (um) ano, que de acordo com os mais tendenciosamente desenvolvimentistas, inibe o crescimento econômico de qualquer país.
Outra razão para o pessimismo do mercado com a atividade econômica brasileira, pode se dar pela diminuição do ritmo da economia chinesa e as taxas quase nulas do PIB nos países da Europa (principalmente Alemanha) e nos Estados Unidos, por permear um certo consenso na ideia de que o Brasil precise de condições internacionais mais favoráveis para registrar crescimento econômico.
Assim, fatores intrínsecos internos passam sem a percepção dos analistas, os quais analisaram a atividade brasileira, com base em dados externos, ignorando fatores domésticos.
O desempenho do agronegócio, por exemplo, é que ajuda a compreender melhor essa situação. Trata-se do único setor da economia nacional a registrar aumento da produtividade per capita, devido ao intenso uso de tecnologias para o auxílio da mão de obra no campo.
O clima também ajudou bastante, no desempenho do agro dos últimos três anos, o que também fez aumentar muito, a produtividade por área cultivada; tanto que a safrinha de milho concorreu em espaço nos armazéns graneleiros com a soja, já que a comercialização da última, ficou comprometida pelos preços baixos na bolsa de Chicago e no mercado físico brasileiro.
É o agronegócio que tem mais contribuído para as excelentes performances da balança comercial, tanto que isso tem chamado a atenção de analistas gringos que discordam da maioria das projeções carregadas de nuvens escuras sobre a economia brasileira, tanto de dentro, quanto de fora do país.
O mais conhecido dos otimistas com o Brasil, é Robin Brooks, presidente do Instituto de Finanças Internacionais (IIF) e ex-estrategista de câmbio do banco Goldman Sachs, também conhecido nas redes sociais, como "careca do Goldman".
Brooks analisou gráficos do comportamento das exportações brasileiras nas últimas duas décadas; o que o fez reconhecer muito de nossos méritos no comércio internacional. Já nesta quarta-feira (27), foi a vez da OCDE reconhecer o potencial de comércio exterior do Brasil, já com números consolidados.
A entidade com sede em Paris, França, chama atenção para os números dos saldos comerciais do Brasil, quando em 2019, o país ocupava a 11ª posição dentre os maiores exportadores do mundo, subindo para oitava colocação em 2022 e entre janeiro e junho deste ano, já alcançar a sexta posição global no comércio internacional, num universo de 46 economias.
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Desempenho do Brasil no comércio internacional, de acordo com a OCDE -Infográfico: Arte/ Valor Econômico |
A média de aumento da capacidade produtiva desde 2014, ficou em 1,5%; muito devido aos revezes internacionais (como a pandemia de Covid-19, a quebra na cadeia global de suprimentos e a guerra na Ucrânia), com menor apetite chinês por commodities e fatores internos desencadeados pela Operação Lava Jato.
Com isso, a economia brasileira que passou primeiro por uma reordenação nas contas públicas, desde o governo Michel Temer, com a introdução do teto de gastos, fez com que o Produto Interno Bruto brasileiro registrasse índices muito baixos, da atividade.
O que levou os analistas a rever os números?
Os resultados do primeiro trimestre de 1,9% e de 0,9% no segundo trimestre, do nível de atividade econômica do Brasil, obrigou os especialistas a rever os números do PIB brasileiro para 2023.
O desafio brasileiro é manter um ritmo de crescimento da atividade produtiva nacional, ao lado de uma constante atenção para com o nível geral dos preços.
Uma tarefa para o Banco Central, principalmente após a introdução do chamado "mandato duplo", onde a autoridade monetária deve estar atenta entre a menor taxa de inflação e o máximo desempenho econômico, e que não está sendo necessariamente seguido pela diretoria do BC.
Mas o maior desafio nacional é conciliar gastos com a arrecadação; o que à grosso modo, é conhecido como política fiscal; a meta de déficit zero para o próximo ano de 2024 está cada vez mais distante, devido ao aumento dos gastos do governo e a baixa arrecadação de impostos; mesmo com a economia brasileira registrando crescimento em 2023.
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Robin Brooks, é um dos poucos otimistas, senão o único, com o Brasil. Pelo menos ele, não precisou rever os números do PIB brasileiro - Foto: Dimas Ardian/ Bloomberg. |
Com isso a curva de juros futuros, voltou a subir no mercado financeiro (mas com tendência a se estabilizar), devido aos dois últimos cortes de 0,5% na taxa Selic e as incertezas fiscais, quanto à capacidade do governo honrar o déficit zero para o ano que vem.
Já a Curva de Lafer está mais intimamente ligada à saúde fiscal de uma economia; nela os analistas observam a redução de impostos à qual levaria a um aumento na arrecadação do governo, enquanto que o contrário, termina por reduzir o potencial de recolhimento de impostos da parte dos agentes públicos, conforme explica o economista Paulo Gala.
Assim, o mercado entende que com as recentes reduções na taxa básica de juros, Selic, pelo Banco Central, o aumento dos gastos e de impostos, a tendência é uma redução no nível de arrecadação do governo, o que implica em menores chances de o Tesouro Nacional seguir honrando compromissos com os serviços da dívida pública brasileira, tendo em vista que o déficit público, não permite um controle mais efetivo sobre do passivo nacional.
O aumento na curva de juros nos Estados Unidos, também influencia muito, pois é menos recursos no mercado disponibilizado para o financiamento de empresas, em decorrência da manutenção da taxa de juros americana, determinada pelo Federal Reserve (Fed), o banco central estadunidense, conforme também relatado pelo presidente do Bacen brasileiro, Roberto Campos Neto.
PIB potencial e hiato do produto
Os analistas também observam o potencial de crescimento da economia, observando o comportamento dos agentes produtivos nos distintos setores que formam o conjunto de atividades econômicas do Brasil. Há aproximadamente uma década, a média do PIB potencial tem girado ao redor 1,5% a 1,8% ao ano.
Conforme noticiado pelo site sobre finanças Investing.com, a ata do Banco Central sinalizou que o hiato do produto, estaria mais apertado que o estimado anteriormente. Significa que a capacidade produtiva brasileira está mais de acordo com o PIB potencial.
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Sede da Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE) em Paris, França - Foto: Charles Platiau/ Reuters. |
Este porém, é um movimento que vem acontecendo desde o primeiro trimestre de 2023, de acordo com o apurado pela Fundação Getúlio Vargas.
O hiato do produto é a diferença entre as projeções do PIB potencial com o PIB corrente (efetivamente registrado) em valores monetários. Ponderações devidamente documentadas pelo Banco Central, na ata de reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que determina a taxa básica de juro no Brasil.
Nesse sentido, o que tem feito os economistas do mercado financeiro, errarem tanto, nas projeções de desempenho da economia brasileira, se deve ao vício nacional da necessidade de se ancorar as expectativas de inflação, doa a quem doer ou custe o que custar.
Pelo menos este, é o entendimento de Fabio Kanczuk, ex-diretor do Banco Central e economista-chefe da Asa Investimentos em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo.
Kanczuk disse que manteria o juro alto, até ancorar as expectativas de inflação, sacrificando a economia e desprezando completamente o instrumento do mandato duplo do Banco Central, previsto na lei de autonomia, que determina a perseguição da menor taxa de inflação com o melhor desempenho do PIB.
O mais importante em todo este cenário, é a análise fria dos dados, sem paixões ou emoções que contaminem as expectativas dos agentes econômicos, com cada um deles, procurando expor suas próprias percepções sobre aquilo que pode estar em entendimentos contaminados pelo ambiente em vigor.
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