Muito se discute sobre o negacionismo do governo ao redor das medidas adequadas esperadas (e frustradas), para o correto enfrentamento da Covid-19 no Brasil; a conceituação do termo que o envolve, não se aplica apenas ao modo sobre como a pandemia vem sendo confrontada, mas expressa a negação de realidades perigosas e desvantajosas para a maioria, como forma de se preservar situações confortáveis a camadas da sociedade ou de grupos seletos de pessoas.
Dentre os recursos mais utilizados para a negação de problemas estruturais humanos, está a positividade tóxica, que sem dúvida, representa o que há de mais venenoso dentre palavras supostamente envoltas de encorajamento e estímulo.
A positividade tóxica pode se tratar de uma das formas mais cruéis de auto sabotagem que uma pessoa pode ser instigada a adotar, logicamente, por indução externa de outras pessoas; geralmente mal intencionadas ou apenas apressadas em abreviar o que é visto por elas como inconveniências desagradáveis e entendidas como "lamúrias".
Trata-se de uma maneira de se encarar situações conflituosas estruturais (às quais porém, deveriam ser vistas como problemas), na qualidade de desafios (cuja o entendimento é mais apropriado a uma condição em que estivessem elencadas opções ou decisões espontâneas - mas nunca como fatores inescapáveis a serem resolvidos).
Em tal concepção, a toxicidade positiva tem nuances que desencorajam atitudes que libertem pessoas de prisões de relacionamento interpessoal, por exemplo - também virtualmente tóxicos por negar problemas sentidos e vividos - mantendo-as presas, lhes retirando o prazer de suas vidas e a espontaneidade de suas personalidades.
Situações conflitantes e extremamente insustentáveis, passam a ser vistas como acontecimentos naturais sugestivamente compreendidos com gratidão e dos quais se devam tirar "aprendizados" para a formação de caráter ou entendidos ainda, na condição que propicie certa evolução espiritual.
Assim a ditadura da vibração positiva (que em tese atrai outras situações positivas), passa a ser um modo criativo de negacionismo e uma postura dominada adotada pela vítima que a vive (numa autoflagelação psicológica); além de ignorar o sofrimento, é convidada a enxergar também o suposto lado prazeroso da condição desvantajosa à qual lhe daria como "prêmio", o troféu do aprendizado e da experiência estoica.
No entanto, tais situações pedem as devidas proporções de sentimento real envolvido (sem maquiagens ou dissimulações); ignora-los só causam mal estar para quem o reprime dentro de si, e o chamado recalque (dentro da perspectiva de Freud - não como erroneamente abordado na mídia, principalmente televisiva, avaliada em algo relacionado a inveja).
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Você oculta suas emoções negativas? (foto: Getty Images/ BBC News). |
O recalque é nada mais que um mecanismo de defesa, onde uma pessoa tenta ignorar coisas ou situações desagradáveis que lhes cerca, ocultando-as no inconsciente. Se não for devidamente tratado, pode fazer com que uma pessoa assuma comportamentos hostis ou mesmo agressivos, caso exteriorize de modo inapropriado tais sentimentos.
Outras, podem reagir com estados de depressão aguda - que em boa parte dos casos, terminam em suicídios. Há ainda o risco da somatização, por meio de doenças causadas pela supressão de sentimentos ou emoções negativas, silenciadas e evitadas como modo de abordagem visando a positividade.
Por isso negar problemas ou minimiza-los, de nada adianta, tanto para quem os vive, quanto para aqueles que o sugerem a terceiros (como modo de silencia-los ou censura-los de maneira branda e sutil). A positividade tóxica é tão somente um modo duplo de violência subliminar à qual as vítimas sentem, agravada por outras agressões anteriores sofridas de lados opostos.
Torna-se necessário ainda, que os sentimentos densos aflorem de forma natural, no cuidado de não permiti-los que venham a consumir todas as atenções neles. A verdadeira positividade também se expressa através de reações vistas como inapropriadas, mas principalmente, na forma equilibrada como são conduzidas.
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