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Refugiados sírios, africanos, haitianos e brasileiros

 De acordo com informações coletadas pela imprensa, a família da criança encontrada morta na beira de uma praia na Turquia, pretendia na verdade, ir para o Canadá. Outra cena que também marcou muito, foi a do homem, desesperado que abraçou sua família junto ao chão, mais precisamente no leito de uma ferrovia para se proteger de soldados que tentavam impedir que eles seguissem seu caminho. O que demonstra que estamos vivendo algo comparado ao que se via nos grandes conflitos globais do início (e de meados), do século passado.

 Muitos no Brasil, se comoveram com a foto do bebê morto na praia, contudo, boa parte da comoção dessas pessoas, pode não conter a verdadeira e devida sensibilidade. É que muitos brasileiros têm manifestado, principalmente na internet, seu descontentamento com a chegada de tantos imigrantes haitianos que aportam praticamente todos os dias em nosso País.

 Fica difícil de se crer na sinceridade dos sentimentos de boa parte das pessoas no Brasil, quanto à isso. Tantos são os refugiados em nosso meio e por serem tão comuns no seio de nossa própria sociedade, que já nem nos escandaliza ou nos sensibiliza mais. Se é que alguma vez em nossa história, houve tal sensibilização. Triste ver, além da forma de tratamento dado aos haitianos que chegam aqui, como moradores de rua, desabrigados (por desastres naturais ou ordens judiciais de despejo e reintegração de posse), sem terras, indígenas..., são marginalizados e até mesmo, criminalizados.

 Sempre que alguma propriedade fundiária, supostamente particular é invadida, as pessoas que por trás dessas invasões se encontram, são tidas como criminosos da pior estirpe. Pessoas tidas como altamente perigosas e que precisam ser eliminadas o quanto antes. É exatamente o fogo cruzado pelo qual os vulneráveis vivem, que os obrigam a buscar novas paragens, ou lugares mais aprazíveis onde possam viver e assim constituírem suas vidas de forma um tanto mais ordenada. 

 Afinal, o que poderia haver de prazeroso em uma vida de migalhas, de sofrimento, de dificuldades de todas as espécies? Tudo isso se daria pela simples satisfação em transgredir as leis e o sagrado direito de propriedade dos ricos? 

 A questão síria porém, é emblemática: é o resultado de seguidas intromissões de potências mundiais superiores em assuntos internos do país. Algo que mais cedo ou mais tarde tenderia a acontecer, devido ao prolongado tempo em que decorrem os conflitos na Síria, o qual desde 2011, tem sua população vivendo sob fogo cruzado, entre rebeldes (financiados pelos Estados Unidos, que acabam sendo mais tarde, sempre considerados como perigosos terroristas), e o governo de Bashar al-Assad.

 Como nenhuma ajuda substancial foi dada pelo países ricos para atenuar o sofrimento do povo sírio, milhares agora saem de sua pátria, rumo a lugares onde acreditam, podem ter um pouco mais de paz em suas vidas. Já pelo lado africano, desde o início da década, a ilha italiana de Lampedusa, é o ponto mais próximo do rico continente europeu, que os africanos podem chegar; separados pela imensidão do Mediterrâneo, dentre a pobre África, da qual pessoas saem, para arriscarem suas vidas na difícil travessia. 

 Em 2013, o papa Francisco, denunciou numa missa na mesma ilha de Lampedusa, na qual lembrou um naufrágio com imigrantes africanos que acalentavam o sonho de dias melhores na Europa, movidos por propostas tentadoras de aliciadores ligadas ao tráfico humano, os quais vivem de extorquir pessoas capazes de qualquer coisa, para saírem da vida difícil que levam em seus países. O papa ainda criticou a cultura do bem-estar, que segundo ele, nos leva ao descuido e à insensibilidade com o outro. 

 Francisco recomendou também, neste domingo (06), que todas as paróquias europeias, acolham pelo menos uma família refugiada da guerra ou da miséria e acrescentou ainda que o próprio Vaticano, acolherá outras duas famílias no domínio de seu território.

 Enquanto isso no Brasil as pessoas que se comovem com as cenas de brutalidade em que se observa na questão humanitária da recusa da Europa em receber refugiados da guerra, da fome e da miséria - que o próprio "velho continente", foi responsável por propagar na África e no Oriente Médio -, são incapazes de esboçar o mesmo sentimento em casos semelhantes envolvendo brasileiros e que são comuns na paisagem social de nosso próprio País.

 Assim, entre o espírito patrimonialista, segregacionista e partidarizado, dentro do mais conservador viés ideológico, as pessoas abastadas no Brasil, conseguem manifestar o que há de pior em nossa sociedade: o embuste e a hipocrisia daqueles que lamentam fatos desagradáveis ocorridos no estrangeiro, mas que conseguem se comportar de forma ainda mais hostil e agressiva, para com os refugiados da fome, da seca, da miséria, da indigência, do desalojamento e do abandono, que causam aos próprios irmãos brasileiros que sofrem.

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