Artigo de João Paulo da Cunha Gomes
Daí o sujeito diz assim: "O prefeito precisa trazer indústrias para a cidade. Indústria gera empregos e desenvolvimento". Daí eu observo o seguinte: São Paulo é o maior polo industrial da América Latina, e mesmo assim tem inúmeras favelas e cortiços; mesmo sendo considerada a cidade latino-americana mais rica, nela seres humanos vivem em casas de madeira e papelão. E muitas vezes, são os moradores desses cortiços que trabalham nas tais indústrias que para lá foram levadas "para promover o progresso".
Progresso? De quem? Para quem?
O mesmo ocorre em outras cidades industriais do interior, onde bairros periféricos miseráveis se multiplicam na mesma proporção em que novas indústrias se instalam. Há algo de errado com aquela fala do cidadão. A mesma controvérsia serve para aquele cidadão que diz: "O prefeito precisa fazer tal coisa, que será bom para o comércio". Daí eu pergunto: se será bom para o comércio, será bom para o cidadão que não tem comércio? Ou será bom apenas para os comerciantes? Daí virá, daqui a pouco, aquele que dirá: "Se é bom para o comércio e para a indústria, gera empregos para a cidade".
No sistema atual, ser bom para a indústria e para o comércio significa promover a exploração do trabalho. Aquele mesmo cidadão que disse que é preciso trazer indústrias para a cidade, para gerar emprego para a população, não raciocinou que o empregado da referida indústria, em um dia de trabalho produzirá mercadorias que um mês de salário dele não será capaz de comprar. Este empregado, no final do mês, receberá pouco menos de setecentos reais, enquanto o empresário para quem ele trabalha faturará, em lucro, por dia, centenas de milhares ou milhões de reais.
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Funcionários trabalhando em um abatedouro de aves |
O mesmo raciocínio se aplica para o comerciante, proprietário da grande casa comercial, que emprega várias pessoas da cidade: a cada dia multiplica seu patrimônio, enquanto seus empregados moram em caixas de fósforo e percebem mensalmente o suficiente para manter a boca mastigando.
Assim sendo, do que uma cidade necessita? De emprego ou de renda? O emprego trará renda para a população? Ou trará apenas trabalho? Trabalho tem bastante, em todo lugar. E renda? Do que necessita o trabalhador? Do que necessita a cidade? A indústria e o comércio trazem renda para o empregado ou para o empresário e o comerciante? Investir na indústria e no comércio é bom para o trabalhador ou para o empregador? Quem ganha? Quem não ganha? Quem construirá mansões com os lucros, e quem seguirá vivendo de salário? Ou será que a população necessita apenas de trabalho, sendo a renda algo secundário? Por que a riqueza gerada pelo trabalho se concentra na mão de quem não trabalha? Isso é bom para o coletivo, para a cidade?
Capitalismo, camaradas.
Sempre é bom fazer o sujeito pensar um pouco. Como e quando isso vai mudar? Somente quando o trabalhador acordar. Não se trata de governo desse ou daquele partido. Trata-se da revolução do proletariado; e em nível mundial. O poder está nas mãos dos trabalhadores, que são a imensa maioria, mas eles não sabem disso, e o sistema os aliena a acreditar que todo pensamento de esquerda, favorável à sua causa, é coisa de "populista", "baderneiro", "vagabundo", "subversivo"; coisa do demônio. Afinal de contas, "sempre foi assim", ou "Deus quer assim".
O trabalhador foi ensinado e condicionado, pelo sistema e pelas tradições, a ser obediente, pacífico e conformado, e a culpar a si próprio por sua própria desgraça. E durante sua vida lhe ensinaram jargões do tipo "Tenho minha comidinha e estou feliz com ela. E quantos nem isso têm? Pouco, com deus, é muito".
Enquanto o trabalhador reproduz essas falas de missa, o capitalista diz "O muito, com deus, é muito pouco. Quero mais!"
JOÃO PAULO DA CUNHA GOMES, é professor de história
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