Todos os anos a mesma lenga-lenga se repete sobre a falta de infraestrutura de armazenamento de grãos no Mato Grosso; difícil entender que depois de 20 anos se despontando como celeiro brasileiro de grãos, ainda não se tenha resolvido gargalos de infraestrutura que não dependem tanto de intervenção governamental, essencialmente quando se pensa naquilo que o governo federal poderia ter feito à respeito. Afinal, como manda a regra do bom e velho capitalismo, parte dos lucros precisam ser canalizados para novos investimentos.
A palavra-chave que se torna garantia para mais produtividade e mais lucros, parece que não entra na cabeça de boa parte dos empresários nacionais, seja ele de qual segmento for. Lógico que infraestrutura é essencial para a continuidade de desenvolvimento em qualquer cadeia de atividade produtiva e depender de iniciativas públicas para tudo, quando o governo é sempre chamado ao contingenciamento de recursos para garantir o pagamento de juros de sua dívida pública, torna discursos como esses excessivamente enfadonhos.
O fato primordial é saber até onde se sustenta o modelo de financiamento público de infraestrutura que por sua vez, se dá na indução da 'necessidade' de uma atuação do próprio governo. Já que em parte, vem provendo o setor privado de recursos - que são captados pelo Tesouro no próprio mercado com a emissão de títulos públicos -, e onde este por sua vez assim o repassa ao BNDES para que ele, através do Banco do Brasil e da Caixa, realizem operações de fomento no setor privado também com interesses de expansão da capacidade instalada da infraestrutura produtiva nacional.
Só pelo fato dos recursos serem originados do setor privado, terem que passar pelo Tesouro Nacional, e após isso serem repassados ao BNDES, para depois serem encaminhados ao Banco do Brasil e a Caixa para enfim chegar ao financiamento da infraestrutura necessária e que já deveria ter sido feita 'ontem', sintetiza a falta de confiança que o mercado de capitais manifesta em relação ao próprio setor produtivo privado brasileiro. Ou seja, critica-se a forte intervenção estatal na economia, mas a economia brasileira é incapaz de se virar sozinha sem o governo; captando os recursos de que precisa no mercado para poder investir com total autonomia.
Que é preciso se repensar o modelo de desenvolvimento brasileiro com uma maior participação privada nele, isso sem dúvida; só resta saber em até que ponto o setor privado se dispõe à isso, já que nem o mercado de capitais parece disposto a lhe confiar o que é preciso para alavancar os investimentos necessários na infraestrutura nacional.
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