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O crescimento e a inflação

  Imaginem o seguinte cenário, onde um paciente que se encontra num estado subnutrido, em que o seu diagnóstico diz que ele precisa se alimentar (consumir) bem, para continuar a manter o seu organismo funcionando em perfeitas condições. Mas existe a questão de que sua alimentação (consumo) não pode ser dada de qualquer maneira, deve atender as prescrições médicas e ademais exige um cuidado nos efeitos colaterais que uma alimentação à base de carboidratos, pode desencadear no organismo de um hipertenso (inflação).

 Porém o paciente não por conta de uma doença, pode de forma alguma ficar sem se alimentar (consumir), pois sua saúde debilitada pode vir a se agravar. Além de uma dieta balanceada, precisa praticar exercícios e mudar os hábitos alimentares, pois se ficar totalmente sem nenhum tipo de alimentação (consumo) pode morrer.

 Em economia, há ligeiras semelhanças no trato de um paciente, dentro de um diagnóstico sucinto e conciso, caso contrário o paciente (a economia) pode morrer. Na atual conjuntura econômica podemos ver que a inflação (hipertensão) está em vias de ameaças de se descontrolar, por outro lado não se pode deixar de alimentar (consumo), o paciente (economia), pois o mesmo pode se enfraquecer e outras doenças endêmicas podem tomar conta do seu organismo. O que fazer?

 A melhor maneira de se produzir anticorpos para uma cura, se dá numa dosagem precisa de medicamentos (políticas econômicas), com uma alimentação (consumo) que supra as deficiências de energia para o metabolismo de todo o organismo (economia). 

 Acontece que muitos economistas ortodoxos acreditam que a única maneira de se controlar a inflação (hipertensão) se dá apenas através do uso constante de medicamentos pesados (aumento na taxa de juros). Por outro lado eles também acreditam que aquilo que mantém o paciente saudável e vigoroso, pode estar sendo a razão da hipertensão do paciente. Resultado: receitam uma rigorosa dieta (juros altos, compulsórios etc) e assim lhe proíbem de comer (consumo) exatamente aquilo o que lhe dá o vigor (crescimento) necessário para continuar lutando contra sua doença. Então o mesmo não contará com a força e a energia necessária para continuar a fazer o corpo desempenhar suas funções vitais com toda a sua robustez e assim poderá vir a morrer.

 Em economia existe uma regrinha básica em que um ponto está diretamente ligado a outro..., e assim por diante. Argumenta-se que a demanda está puxando muito o consumo, e que por sua vez a oferta não atende essa demanda e que por conta disso, a inflação se descontrola.  

 Se queremos mesmo que a economia se estabilize, então temos que atender melhor e de forma mais satisfatória, a oferta. Ocorre que para que se atenda melhor a oferta, argumenta-se de que é necessário aumentar a capacidade instalada das indústrias - o que requer mais investimentos -, que por sua vez, muitos afirmam não haver no País um ambiente seguro jurídico, de garantias de oferta de mão de obra - 'qualificada' -, uma boa e barata infraestrutura de transportes e logística e um sistema tributário mais enxuto, claro e simplificado.

 A verdade de toda essa situação é um pouco diferente da conjuntura que se pinta por aí. O aquecimento do consumo foi mesmo puxado pelo aumento do poder aquisitivo da massa trabalhadora, mas isso em vez de estimular o crescimento da infraestrutura de produção, aumentando os investimentos e a capacidade de produção da indústria, ocorreu exatamente o inverso. 

 Os empresários parecem que se sentiram ainda mais desestimulados - ou estimulados ao comodismo -, a aumentarem sua produção, ou pelo o menos naquilo que poderia-se explicar numa definição oferecida por Celso Furtado ao tornar inteligível as raízes do fenômeno inflacionário. 

 Celso Furtado dizia que a inflação não é um fenômeno meramente monetário: sua origem provém da questão distributiva entre os agentes econômicos. Isto é, a inflação é o meio pelo qual os agentes detentores do meios de produção dispõem para ampliar sua apropriação indevida do acréscimo da renda (massa salarial), criado nas situações de plena atividade econômica.

 Portanto mecanismos de controle monetário por meio de taxas de juros mostra-se um instrumento surrado para a conjuntura brasileira dos aumentos contínuos de preços. Como o aumento na taxa Selic poderia conter altas nos preços como de hortifrutigranjeiros - altamente vinculados a fatores climáticos -, ou de outras áreas como serviços com despesas pessoais e aluguéis?! Dessa maneira segundo o raciocínio de Furtado, se a inflação fosse um fenômeno meramente monetário e neutro em relação ao lado real da economia - o lado da produção de bens e serviços, sem afetar a distribuição de renda -, o aumento de preços deveria ocorrer proporcionalmente de forma simétrica, para todos os setores da economia e não é o que acontece, dada as peculiaridades de cada setor.

 Demonstra-se assim a tendenciosa maneira de como os colunistas econômicos defendem os rentistas, com argumentos que hoje se mostram tão surrados, frágeis e fora de contexto da atualidade.

 Os relatórios de acompanhamento mostram que a oferta não teria ficando tão comprometida assim, caso não houvesse ociosidade da capacidade instalada nas indústrias. O que mostra claramente que o freio na produção, visa ganhar apenas no volume financeiro nos preços das mercadorias forçados para cima em detrimento da baixa oferta intencional, ignorando os ganhos de escala.

 Então o diagnóstico perfeito, seria a manutenção do consumo nos níveis atuais, com o perfeito aumento de produção dentro da atual capacidade de produção da indústria - reduzindo a sua ociosidade -, mas também garantindo investimentos para assim a oferta acompanhar a demanda e os preços relativos se acomodarem, com a garantia de que com o aumento da produtividade se dar também, com o aumento na atividade industrial e o consequente crescimento da economia. 

 Mas para isso, há um série alegações já citadas aqui..., de que o ambiente de negócios no Brasil é sempre imperfeito e cheio de gargalos estruturais. É certo que precisa de ajustes, mas a realidade atual não se mostra tão desvantajosa assim. O custo de nossa mão de obra ainda é relativamente baixo e o acesso a financiamentos tanto privados como públicos hoje é bem maior que nos 'anos dourados' do neoliberalismo brasileiro. Só resta saber agora, até onde o setor produtivo lucrará com isso.  

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