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A cidade do mel

 A cidade que atualmente é dotada da maior parte de todo o aparato institucional da regiao conhecida como Sudoeste Goiano, que conta com uma extensão do campus da Universidade Federal de Goiás (UFG), de uma unidade do Batalhão de Infantaria Motorizada do Exército Brasileiro (41º BIMTZ), da sede regional da Polícia Federal e até mesmo também de uma circunscrição eclesiástica, na figura de uma diocese católica, em tese, reuniria todas as condições que evidenciariam uma determinada liderança regional. 

 Jataí, distante de Goiânia cerca de 330 Km, nasceu de um território cedido pelo município de Rio Verde onde entre disputas políticas, principalmente da parte de seus pioneiros e fundadores, a rivalidade entre as duas maiores cidades da região, já se mostrava manifesta, antes mesmo, que se configurasse como totalmente emancipada. 

 Entretanto, é inegável a contribuição histórica e econômica de Jataí para a região. É disparada, a maior produtora de grãos, e sempre se notabilizou por suas lideranças políticas em nível estadual e nacional, formadas no seio de seu vasto território. 

 O fato de seus pioneiros terem encontrado uma espécie de abelha, hoje um tanto rara por lá, de forma abundante em boa parte onde atualmente se encontra o município, logo serviu como inspiração para a nomeação do lugar, antes denominado "Paraíso", o qual posteriormente veio a adquirir o topônimo de "Jatahy", em alusão ao referido espécime invertebrado, capaz de produzir um dos tipos de mel mais puros e saudáveis que existem e que acordo com a sabedoria popular, mais tarde confirmada cientificamente, possui propriedades medicinais. 

 A abelha jataí não possui ferrão e é muito mansa, pode no máximo dar alguns leves beliscões ou gruda um tipo de cerume nos intrusos quando se sente ameaçada. Isso facilita a criação próximo de residências, pessoas ou animais sem oferecer riscos de ataques. Contudo se produz um mel tão bom, por ser em baixa quantidade, acaba tornando o preço de comercialização do produto bem maior que o mel de outras abelhas. 

 Inicialmente adotando a forma linguística arcaica em seu nome - própria da época em que se escrevia um português mais erudito -, 34 anos após sua emancipação, Jataí foi contemplada no ano de 1929 pelo papa Pio XI, para ser sede de uma prelazia católica. As prelazias são criadas como passo inicial para o surgimento de uma nova diocese. Em Outubro de 1930, chega a Jataí, o espanhol dom Germano Vega, primeiro prelado (o equivalente a bispo), para administrar a recém criada instituição.

 Mas outros fatos históricos marcariam não somente a história de Jataí, como também a história de todo o País. O episódio do primeiro comício realizado por Juscelino Kubitschek em sua candidatura pela presidência da República nas eleições de 1955, realizado em Jataí, foi o maior responsável na decisão de JK, em assumir o compromisso de cumprir com o que estava prescrito na Constituição; assim se comprometendo a transferir a capital federal do Rio de Janeiro, para Goiás. 

 Foi por meio da voz trêmula e dissonante de um jovem, na ocasião em que foi dada a oportunidade de os presentes fazerem perguntas, na qual surgiu a indagação se o então candidato se comprometeria com o que estava previsto na Constituição. E assim se fez: a partir de então, essa se tornou sua principal promessa de campanha.

 Por força das circunstâncias, Juscelino que inicialmente havia previsto pousar em Rio Verde, resolve de última hora se deslocar para Jataí, em decorrência do mau tempo que impossibilitava o pouso da aeronave na qual se encontrava. Se não fosse por isso talvez, Brasília hoje nem estivesse existindo e a capital nacional continuaria sendo o Rio de Janeiro.

 O fato de Brasília ter nascido do questionamento de um jataiense, fez com que Juscelino despertasse um carinho especial pela cidade. Tanto que José Feliciano Ferreira, primeiro jataiense a assumir o governo de Goiás entre 1959 a 1961, se tornou amigo pessoal de Juscelino, a quem o considerava como um verdadeiro "irmão".  

 Na gestão de Feliciano à frente do governo, o estado de Goiás conheceu uma verdadeira revolução administrativa. A parceria entre Feliciano e JK, foi determinante para a construção da usina hidrelétrica de Cachoeira Dourada no rio Paranaíba, para que Brasília pudesse ser suprida pela energia elétrica gerada na usina. Mas não somente Brasília, como boa parte do estado de Goiás e o Triângulo Mineiro, acabaram se beneficiando com a construção da usina.

 Porém se Cachoeira Dourada foi criada por um cidadão de Jataí, foi contudo, um outro jataiense, o qual também assumiu o governo de Goiás na década de 1990, que se desfez do tão valioso patrimônio, privatizando a unidade geradora de energia. Maguito Vilela que governou Goiás entre 1995 e 1998, atualmente é prefeito de Aparecida de Goiânia, segunda maior cidade do estado e que faz parte da região metropolitana da capital.


Exemplar de uma abelha jataí, espécie que deu
nome ao município vizinho a Rio Verde.
 Voltando ao ano de 1980, a então Cooperativa Mista dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo), também era inaugurada constituindo a sede regional da cooperativa e sua unidade de recebimento de soja em 1984 no município. Dois anos mais tarde, a Comigo amplia sua capacidade de armazenamento com a construção de um segundo armazém dobrando o volume de recebimento para 140 toneladas e por fim inaugurando uma nova loja em 1987.

 Atualmente Jataí responde pelo décimo maior Produto Interno Bruto (PIB), de Goiás em aproximadamente R$ 2,8 bilhões e uma população muito próxima de atingir a marca de 100 mil habitantes. Conta com 4 emissoras de rádio e duas de televisão. E a exemplo de Caldas Novas também possui águas termais.  

 Neste domingo - de 31 de maio -, a cidade celebra seu centésimo vigésimo aniversário. São 120 anos de história, trabalho e progresso, de um município que amplia seus horizontes criando suas próprias oportunidades e assegurando o futuro dos jataienses do futuro, que farão a cidade brilhar ainda mais. Parabéns Jataí, parabéns jataienses, pela cidade que vocês ajudaram a construir. 

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