Pular para o conteúdo principal

A história do Natal

O Natal contemporâneo é uma miscelânea de acontecimentos graduais que ao longo da história, o definiu como o conhecemos nos dias de hoje. Em seus primórdios, sua razão de existir esteve muito mais ligada ao paganismo do que propriamente aos festejos cristãos da atualidade.

O 25 de dezembro é uma imprecisão nos registros históricos, não garantindo que o nascimento de Jesus tenha mesmo ocorrido neste dia; usado mais como meio de sobrepor a hegemonia do Cristianismo aos cultos pagãos da época. 

Para os cristãos armênios, por exemplo, o Natal é celebrado no dia 6 de janeiro (Dia de Santos Reis Magos). Já os ortodoxos celebram o dia 7 de janeiro como dia da Natividade de Cristo. 

Com isso, é impossível definir com exatidão, o dia do nascimento do Menino Jesus, se atendo apenas por datas definidas em concílios, através de lideranças religiosas em seus primeiros tempos, dentre as diferentes doutrinas cristãs.

Árvore de Natal em um shopping de Ribeirão Preto,
no interior de São Paulo - Foto: Tripadvisor.

Apesar disso, vários historiadores acreditam que Jesus teria nascido mesmo, entre os meses de março ou abril, por volta do ano 5 da era comum. Já a data precisa, ninguém se arrisca a dizer. 

O fato é que o 25 de dezembro coincide com o solstício de inverno (no Hemisfério Norte), onde era celebrado também, o culto ao deus Sol Invicto, determinado pelo imperador romano Aureliano em 270 (da era comum).

Contudo, não porque se trate de festejos pagãos, que houvesse por isso, algum tipo de celebração regada a bebedeiras profanas de natureza devassa ou libidinosa. 

A Saturnália romana era um tipo de festividade muito semelhante ao Natal da atualidade e o costume da época (além da troca de presentes) era a brincadeira de senhores se vestirem como escravos e homens se vestirem de mulher. 

Com a predominância hegemônica da Igreja Católica, houve a continuidade cultural da festa, mas adotando aos poucos, elementos do Cristianismo. Desse modo, gradualmente, as divindades romanas foram perdendo espaço nessas festas. 

Mas foi a partir do ano 380 com o edito de Tessalônica, que o imperador Teodósio reconheceu o catolicismo como religião oficial do Império Romano (proibindo cultos pagãos) que o 25 de dezembro foi enfim, oficializado como a suposta data do nascimento de Cristo.

SÍMBOLOS DO NATAL

O Presépio Natalino

Em 1223, São Francisco de Assis teve a iniciativa de montar o primeiro presépio como forma de retratar o Nascimento de Cristo, conforme os escritos bíblicos nos Evangelhos de Lucas e Mateus. 

A ideia de São Francisco de Assis, era encenar a Noite de Natal numa floresta com figurantes vivos, para que as pessoas mais humildes, pudessem vivenciar e compreender a sensação do acontecimento.

A partir de então, o costume foi ganhando adeptos entre mosteiros, catedrais, e em castelos de reis e nobres da Idade Média, através de imagens forjadas em argila para reproduzir a ocasião do Nascimento de Jesus (em Belém, hoje território palestino). 

O presépio assim, é a representação icônica dos personagens que participaram das primeiras horas após o Nascimento de Cristo. 

Desse modo, além de José, do menino Jesus e de sua mãe, Maria, os presépios tradicionais contam com animais de estábulo (onde Jesus teria nascido), conforme os Evangelhos.

Presépio de areia, em exposição na Basílica de São Francisco em 2023; o patrono da igreja com a obra da foto, montou, há exatos 800 anos, o primeiro presépio, usando a teatralidade como recurso principal - Foto: Divulgação/ BBC News Brasil.

Há ainda, os pastores (convidados por anjos que anunciaram o nascimento de Cristo), dos Três Reis Magos, guiados pela "Estrela de Belém" (cuja representação se assemelha mais a um cometa), que também ofereceram presentes ao Messias recém-nascido.

Mas foi no Século 18 que o presépio se popularizou nas casas europeias; primeiro, entre as famílias mais abastadas, depois nos lares mais humildes, e assim, se disseminar pelo mundo.

Árvore de Natal

O pinheiro foi eleito um dos símbolos do Natal, em festejos também associados ao solstício de inverno pagão. Tanto nos continentes europeu e asiático, já havia o hábito do culto a árvores como ícones divinos.

Os povos germânicos (atuais alemães e austríacos), teriam recebido a tradição do culto ao pinheiro de outras populações da região báltica (Letônia, Estônia e Lituânia).

Porém, foi com a versão de um episódio vivido pelo monge beneditino São Bonifácio, que o pinheiro natalino ganhou ainda mais robustez como simbologia do Natal. 

De acordo com a história, ao tentar acabar com a crença que dava status à árvore ícone dos festejos pagãos, o monge teria cortado o pinheiro sagrado no alto de um monte. 

Com o insucesso da proeza de São Bonifácio, o formato triangular do pinheiro foi aos poucos, sendo associado à Santíssima Trindade e assim assimilado aos festejos natalinos. 

O primeiro pinheiro como símbolo do Natal pode ter surgido no ano de 1510 na Letônia, e depois adotado por Martinho Lutero na Alemanha, por volta de 1530.

O pinheiro também adquiriu a conotação natalina pelo fato de mesmo após ser cortado pelo tronco e transportado para recintos domésticos fechados, se manter com suas propriedades vívidas, tendo ainda, suas folhas verdes, durante todo o período de rigorosos invernos europeus, no Natal. 

Empresa de Londres se especializou no aluguel de pinheiros naturais para decoração doméstica de Natal - Foto: Henry Nicolls/ AFP. 

Papai Noel

Quem nunca quando criança ouviu falar na lenda de um velhinho com o estranho hábito de presentear crianças pobres na véspera de Natal, certamente não viveu sua infância no planeta Terra. 

O Papai Noel, também conhecido como "Pai Natal" em Portugal ou Santa Claus nos países anglo-saxônicos (Reino Unido, Irlanda e Estados Unidos) é figurinha carimbada em todos os meses de dezembro, devido ao seu forte apelo midiático e publicitário. 

A origem do Papai Noel está intimamente ligada à figura do bispo católico São Nicolau (natural de Mira, no atual território da Turquia), e que viveu até o ano de 350 em Pátara, na Grécia. 

Devido à sua imensa generosidade e aos milagres atribuídos à ele, acabou servindo de inspiração para a construção iconográfica do "Bom Velhinho". Por muitos anos, a figura de São Nicolau ficou meio apagada e por isso quase completamente desassociada dos festejos natalinos. 

Até que em 1822, depois de um poema escrito por Clemente Clark Moore, professor de literatura grega de Nova York, para seus filhos, sua simbologia ter sido aos poucos, reavivada como parte das celebrações do Natal.

A ideia de que o Papai Noel descia pelas chaminés das casas para depositar os presentes aos pés da Árvore de Natal, foi também, concebida através do poema de Moore.

O Papai Noel em suas primeiras personificações - Foto:
Reprodução.

Mas nem sempre o Papai Noel foi retratado em sua atual imagem; sempre em feições caucasianas, de barba e cabelos brancos longos, por vezes, também teve sua expressão associada ao de um tirolês austríaco, de vestimenta típica na cor verde, em uma espécie de macacão de pernas curtas (estilo bermuda), sobreposta a uma camisa branca, botas pretas e meias de canos longos até o joelho. 

Em 1931, através de uma das mais bem sucedidas campanhas publicitárias da história, a Coca-Cola (ainda no início da Grande Depressão americana), associou assim, as cores da empresa à roupa do Papai Noel e acabou por dar a representação acabada de um "São Nicolau" moderno.

Desse modo, os americanos também conseguiram associar a figura do Papai Noel a algo que lembrasse um pouco, as cores da bandeira dos Estados Unidos; já que a própria Coca-Cola, também adota uma das cores nacionais estadunidenses em sua marca.

O NATAL DE OUTRAS RELIGIÕES

Hanukkah, o "Natal" judeu

Os judeus têm uma celebração especial que coincide muito próximo ao festejo natalino cristão, o Hanukkah ou "Festa das Luzes". 

A diferença é que o "Natal" judaico sempre cai em datas distintas, de acordo com o ano; isso porque o calendário seguido por eles, é diferente no nosso.

Mas de todo modo, o Hanukkah é celebrado entre os últimos dias de novembro e os primeiros, de dezembro. Em 2023, por exemplo, as celebrações do Hanukkah ocorreram entre os dias 7 e 15 do último mês do ano.

A Festa das Luzes foi instituída por Judá Macabeu e seus irmãos, para celebrar a retomada de Jerusalém pelos judeus contra as forças do rei grego Antíoco IV.

Com a profanação do Templo através de um altar dedicado a Zeus, e a proibição da Torá (um dos livros sagrados do judaísmo - os cinco primeiros do Antigo Testamento na Bíblia cristã), os irmãos Macabeus se viram obrigados a agir.

Na ocasião do Hanukkah, candelabros judaicos são preenchidos com velas que são acesas para marcar a data. 

As festividades possuem características muito semelhantes ao Natal cristão, por também haver o hábito da troca de presentes e celebrações familiares com muita comida e bebida.

Crianças judias acendem velas em candelabro, durante celebração do Hanukkah - Foto: Reprodução.

O "Dia da Família" islâmico

Assim como no judaísmo, o povo muçulmano também não celebra o Natal propriamente dito, mas em respeito aos cristãos e por também considerarem Jesus um de seus maiores profetas no Alcorão (a Escritura Sagrada islâmica), eles também adotaram o hábito de festejar a data, porém considerando-a como o "Dia da Família". 

Os muçulmanos entendem que Jesus sempre pregou favorável à família e a amizade entre os vizinhos; por isso, eles se sentem felizes com a celebração das pessoas próximas, mesmo que não professem sua religião.

Festa da Iluminação budista

No Budismo a celebração do Natal ocorre pelo fato de a grande maioria de seus adeptos, não ter nascido em uma cultura budista, onde ocorre um certo "sincretismo" cultural nas festividades entre os dias 24 e 25 de dezembro.

Portanto não há problema em budistas celebrarem o Natal com suas famílias que ainda professam o Cristianismo. Aliás, é muito comum se associar as semelhanças entre as histórias de Jesus e Sidarta Gautama (o Buda).

Tanto que alguns esotéricos inclusive, acreditam que no período de vida em que Jesus "desaparece" dos Evangelhos (dos 12 aos 30 anos de idade), ele teria ido à Índia, estudar o Budismo.

Daí uma das possíveis explicações para que Jesus (mesmo nascido na cultura judaica) ter sua doutrina se diferenciado tanto de sua religião materna, e isso chocar os líderes religiosos de seu tempo.

Para os adeptos do Budismo, na primeira semana de dezembro, ocorre a "Festa da Iluminação", onde os budistas acreditam ser o período em que Sidarta Gautama, enfim teria atingido o "Nirvana" ou a iluminação espiritual que o tornou e o deu o título de "Buda". 

Assim como a Ressurreição e Ascenção aos Céus de Jesus, lhe deu o título de "Cristo".

Outras celebrações relacionadas ao Natal

Dentre algumas celebrações características de Fim de Ano, a que certamente inaugura as festividades desta época, é o Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos. 

Comemorado com um feriado nacional na última quinta-feira de novembro, a confraternização americana tem todos os requintes de um verdadeiro Natal fora de época. É nesse período que os americanos começam a decorar suas casas para as festas de Fim de Ano. 

Apesar de se tratar de uma festividade estritamente protestante, o Dia de Ação de Graças coincide também com o Advento, no calendário de celebrações da Igreja Católica para o período.

A data é tão emblemática para eles, que no dia seguinte, ocorre a chamada "Sexta-Feira Negra" ou a "Black Friday", copiada no Brasil, mas cuja principal finalidade, é uma mega liquidação em quase todas as lojas, para desovar estoques parados do ano, na indústria e no varejo, como preparação para as vendas de Natal.

Óleo sobre tela de Jennie Augusta Brownscombe de 1914, retratando a primeira celebração do Dia de Ação de Graças em Plymouth, no atual estado norte-americano de Massachusetts - Foto: Reprodução.

Comemorado ainda, desde a predominância das Treze Colônias britânicas na América, mais precisamente no Norte (hoje os estados da Pensilvânia, Massachusetts e Nova York), o feriado assim, celebra as graças recebidas durante o ano que termina. 

Também foi um modo de demonstração de amizade dos colonos para com os nativos dessas regiões, celebrando a paz e a comunhão entre eles.

Somente depois da independência dos Estados Unidos e com o fim da guerra civil (que frustrou a tentativa separatista dos estados do Sul), que o Dia de Ação de Graças se tornou feriado nacional em todo o território norte-americano.

Acontecimento inusitado de Natal

Durante a Primeira Guerra Mundial, soldados alemães e ingleses, ainda que rivais e em guerra uns contra os outros, interromperam as hostilidades e celebraram a Noite de Natal. 

Segundo relatos da época, soldados começaram a andar desarmados fora das trincheiras e de forma descontraída, desejaram felicitações entre eles; depois disso, dirigiram seus votos de "Feliz Natal", às tropas inimigas. 

Desse modo, festas de confraternização se coincidem ao período natalino, tanto de épocas anteriores ao Cristianismo, das demais religiões, como de outras doutrinas cristãs, que de certo modo, celebram seus próprios natais (da melhor maneira que entendem ser, a mais adequada a seus ritos e culturas). 

Em alguns casos, as datas se mesclam, e assim, a harmonia e a comunhão ganham espaço em um mundo cada vez mais sectário e dividido. Histórias por outro lado, que nos instigam a acreditar em futuros melhores.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rio Verde moderna

 Dando seqüência ao último post, em comemoração ao aniversário de 164 anos de Rio Verde, no próximo dia 05 de agosto, vamos iniciar de onde paramos: a década de 1960, quando relatei que a cidade enfim, inebriava-se num breve período onde a dupla Mauro Borges (governador do Estado) e Paulo Campos (prefeito), inaugurava uma fase onde o centro de Rio Verde passava por sua modernização.   Ruas de terra ou calçadas com paralelepípedo em basalto davam lugar ao asfalto. O paralelepípedo teve uma outra destinação, e foi usado como guias de sarjetas das novas ruas recém-pavimentadas.  Os postes que sustentavam a rede de energia elétrica de aroeira, deram lugar a modernos postes de concreto e uma iluminação pública mais potente ganhava as ruas da cidade. Tudo da energia provida de Cachoeira Dourada.  Conta-se que a primeira rua a ser pavimentada foi a Rua João Belo, (atualmente, Rua São Sebastião no centro antigo de Rio Verde). E o asfalto ficou tão bom, que a necessidade de recapeamen

Um nome estranho; um bairro que nasceu para ser "setor"

Para quem já se 'cansou' de ler sobre a história do nosso município que nesse finalzinho de agosto -celebra seu mês de aniversário-, deve portanto saber, que a chamada "arrancada para o desenvolvimento" de Rio Verde, se deu a partir dos anos 1970.  O certo, é que a cidade seguiu o ritmo do tal "milagre econômico" dos governos militares daquela época. Mas sem dúvida, o que foi determinante em tudo isso, se deu com a fundação da Comigo, no ano de 1975.  Desde o final da década até o início dos anos 1980 porém, a expansão urbana de Rio Verde também sofreu um elevado aumento, sendo que essa situação provocou o surgimento de bairros cuja a única infraestrutura disponível, se deu somente na abertura de ruas e o traçado das quadras.  A especulação imobiliária por parte dos herdeiros de propriedades antes rurais, que margeavam os limites urbanos da cidade, abriu espaço para bairros onde atualmente se verifica sobretudo, a apertura das ruas, em que muitas delas nã

Globalismo Vs nacionalismo e o futuro da humanidade

O mundo sempre viveu conflitos entre interesses privados e coletivos; mas apesar de ser um termo novo o globalismo por sua vez, teve papel preponderante nisso, logicamente adaptado aos contextos de suas épocas.  Antes, na antiguidade, as primeiras civilizações já eram globais e dominavam outras, pela força. Não que hoje os métodos de dominação tenham mudado, porém para isso, se tornaram mais sutis, e não menos violentos.  Desse modo, a sensação de violência sofrida é que pode demorar algum tempo para ser sentida; o que não ocorre de maneira uniforme por todas as populações subjugadas.  Sem falar na corrupção, a maior aliada dos dominadores contra os subjugados. Assim, pessoas do lado dos oprimidos, se veem partidárias de seus opressores, em nome de possíveis vantagens pessoais adquiridas. Alexandre, o primeiro grande conquistador, certamente de modo involuntário, foi o primeiro a difundir o globalismo, através de seus exércitos. Porém, conforme diz sua história, ele teria chorado por n